A 83 dias das eleições presidenciais de 2022,
a pré-campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já conseguiu um feito contra a
pré-candidatura à reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL). Diferentemente
de 2018, a esquerda irá à campanha com força no Sudeste, que concentra quase 64
milhões de eleitores – ou 42% do eleitorado brasileiro.
Além de estar à frente de Bolsonaro em todos os estados da
região, Lula conseguiu organizar palanques competitivos nessas unidades
federativas. Esse avanço chama a atenção porque a vitória da extrema-direita,
há quatro anos, teve justamente o Sudeste como força motriz.
Considerando-se os votos válidos no primeiro turno das eleições
2018, Bolsonaro venceu com folga o candidato do PT, Fernando Haddad, em Minas
Gerais (48,31% a 27,65%), São Paulo (53,00% a 16,42%), Espírito Santo (54,76% a
24,20%) e Rio de Janeiro (59,79% a 14,69%). Com isso, o ex-capitão já foi ao
segundo turno com uma impressionante vantagem de quase 15,2 milhões de votos
sobre Haddad apenas no Sudeste.
Passados quatro anos, a situação se inverteu. Pesquisas do
instituto Datafolha realizadas no final de junho apontam que Bolsonaro
desidratou na região. Mesmo em São Paulo, onde o PT liderou em votos para a
Presidência da República apenas uma vez (2002), Lula aparece hoje com 43%,
contra 30% de Bolsonaro. No Rio, domicílio eleitoral do presidente, o petista
marca 41% a 34%. Já em Minas, a vantagem de Lula é ainda maior: 48% a 28%.
Outra evidência de uma correlação de forças mais favorável à
esquerda está na disputa aos governos estaduais. Em 2018, Bolsonaro recebeu o
apoio dos governadores eleitos em São Paulo (João Doria), Rio (Wilson Witzel) e
Minas (Romeu Zema). Já os principais “palanques” de Haddad tiveram desempenhos
raquítico de estado a estado do Sudeste.
Foi o caso de Minas Gerais, onde o então governador e candidato
à reeleição, Fernando Pimentel, não passou de 23,12% dos votos e ficou de fora
até do segundo turno. Os resultados foram ainda piores em São Paulo (Luiz
Marinho terminou em quarto lugar, com 12,66% dos votos válidos) e Rio de
Janeiro (Marcia Tiburi recebeu 5,85% dos votos e amargou a sétima colocação).
Agora, passada a onda antipolítica e antipetista do pleito
passado, Lula conseguiu unificar palanques competitivos nos estados,
enfraquecendo os de Bolsonaro. Em São Paulo, o ex-prefeito Fernando Haddad
lidera todas as pesquisas de intenções de voto. Na última rodada da pesquisa
Datafolha, o petista liderava com 34% um cenário que já excluía o nome de
Marcio França (PSB), hoje seu apoiador.
Entre os paulistas, o candidato bolsonarista, Tarcísio de
Freitas (Republicanos), aparecia bem atrás, empatado com o governador Rodrigo
Garcia (PSDB) – ambos tinham 13%. O PT só conseguiu ir ao segundo turno em São
Paulo uma única vez, em 2002, quando lançou José Genoíno.
No estado do Rio de Janeiro, além de já ter recebido uma
declaração de voto do atual prefeito da capital, Eduardo Paes (PSD), Lula
ajudou a costurar uma ampla chapa em apoio à pré-candidatura de Marcelo Freixo
(PSB) a governador. Conforme o Datafolha, Freixo obtém hoje 22% das intenções
de votos, em empate técnico com o atual governador, Claudio Castro (PL), que
soma 21%.
A situação em Minas é igualmente singular. Levantamento
Datafolha para a eleição ao governo estadual mostra Alexandre Kalil (PSD), o
candidato de Lula, em segundo lugar, com 21%. Mas o líder na pesquisa, o
governador mineiro, Romeu Zema (Novo), com 48%, já deixou claro que não abrirá
espaço em sua campanha para acolher Bolsonaro. O candidato a governador do
presidente, Carlos Viana (PL), não vai além de 4%.
Para piorar a situação de Bolsonaro, o Datafolha revelou que 55%
dos eleitores não votariam “de jeito nenhum” em um nome apoiado pelo
presidente. Mas 27% dizem que votariam no candidato a governador de Lula – e
24% afirmam que podem votar.
A hegemonia de Lula é ainda maior no Nordeste, região
responsável por 27% dos eleitores do País, que já devem garantir ao petista uma
dianteira significativa de votos sobre Bolsonaro. Apesar da PEC eleitoreira
proposta pelo governo, com aumento repentino e efêmero no Auxílio Brasil e no
vale-gás, os bolsonaristas não veem mais possibilidade de reverter a tendência
de derrota entre os nordestinos. Mesmo no auge do bolsonarismo, em 2018, Haddad
venceu em todos os estados nordestinos.
Por isso, o foco da campanha do presidente se volta para três
estados do Sudeste – São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais –, onde há uma
esperança de reconquistar eleitores e assegurar a ida de Bolsonaro ao segundo
turno. “A estratégia passa por furar a bolha bolsonarista nessas três unidades
da federação e conquistar eleitores fora de setores em que o presidente têm
melhor desempenho, como agronegócio e entre evangélicos”, diz nesta
segunda-feira (11) o jornal O Globo.
“Trata-se de uma mudança de postura, já que nos primeiros meses
do ano Bolsonaro privilegiou agendas voltadas ao seu eleitorado cativo, com
participações em motociatas e eventos religiosos — ontem, ele esteve na Marcha
para Jesus, em São Paulo. O núcleo duro da campanha agora está mapeando
atividades a que ele possa comparecer, entre eles encontros com empresários,
além de iniciativas que lhe permitam ganhar terreno nas periferias desses
locais”, agrega o jornal carioca.
A convenção que vai lançar a nova candidatura de Bolsonaro ao
Planalto está prevista para 24 de julho. A solenidade deve ocorrer no Rio de
Janeiro, onde a pré-campanha vê mais chances de aumentar as intenções de voto
no presidente.
Fonte: Portal VERMELHO
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