terça-feira, 30 de outubro de 2018

ELEIÇÕES 2018: "UM MAU QUE VEM PARA O BEM?" - Eduardo Vasconcelos - Radialista

De uma coisa eu concordo! Tem mau que vem para o bem! Não votei em Jair Bolsonaro, mas hoje uma pergunta (questão), martela minha cabeça. Minha querida vó já me dizia: "As vezes tem mau que vem para o bem", e hoje volto a refletir a velha frase dita pela minha vó. 

Pois bem, com relação as eleições para presidente deste ano, veio para bem pelo fato dos políticos desonestos possam refletirem as suas atitudes nada democráticas e nem tão pouco éticas. Ha desvios de dinheiro? Há! Há corrupção na política, através de políticos e empresários desonestos? Há!

Apesar da vitória do Jair Bolsonaro, pois trata-se de um político conservador, arbitrário, entre outras coisas mais, essa eleição serviu não só para os políticos, mas para os próprios eleitores, que é preciso ser ético e mostrar serviços na defesa do povo brasileiro, CASO CONTRÁRIO SERÁ BANIDO DA POLÍTICA!

Não vou torcer contra o próximo presidente, mas não tenho muita esperança que o mesmo se volte a favor dos mais humildes e discriminados, peço a Deus que eu esteja ERRADO!

Mas de uma coisa eu tenho tenho certeza: TEM MAU QUE VEM PARA BEM! E que os POLÍTICOS precisam mudar suas posturas, caso contrário serão banidos da vida pública, como já ocorreu nessas últimas eleições.

É só um singelo desabafo! Que venha o futuro com mudanças melhores para o nosso povo, caso contrário as avenidas serão novamente tomadas por eles.

Eduardo Vasconcelos - Ativista, Blogueiro, Radialista e presidente do Centro Potiguar de Cultura - CPC/RN.

Como 2018 mudou a forma de fazer política no Brasil?

Como 2018 mudou a forma de fazer política no Brasil?
Partidário de Bolsonaro no Rio: movimento liderado pelo ex-capitão mudou a política brasileira


Por Jean-Philip Struck

Redessociais,fakenews,violência,perda da importância da TV, derrocada de figurões e vitória de candidaturas nanicas inauguram uma nova fase da política.

Nenhum espaço expressou tanto os extremos das eleições de 2018 como as redes sociais. Com a expansão do acesso à internet e o direcionamento de parte do debate político para esses meios, se multiplicaram os casos de boatos disseminados para impulsionar candidaturas e prejudicas outras. Houve casos de calúnias que envolveram acusações grosseiras, por exemplo, de pedofilia, incesto, tortura, corrupção, homicídio que atingiram candidatos.


A campanha de Jair Bolsonaro (PSL) soube usar como nenhuma outra o potencial das redes sociais. Sem dinheiro e estrutura partidária, ele já vinha há pelo menos três anos direcionando esforços para aumentar a sua popularidade nas redes.



A iniciativa ganhou mais robustez a partir da greve dos caminhoneiros, em maio. E com o aumento da presença de Bolsonaro nas redes, também cresceu a disseminação de notícias falsas. Ao longo de 70 dias de campanha, três agências de checagem apontaram que, dos 123 boatos analisados, 104 prejudicavam o petista Fernando Haddad (PT) - e consequentemente beneficiavam Bolsonaro.

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Até mesmo a família do presidenciável participou da divulgação de mentiras. Dois filhos do ex-capitão chegaram a divulgar notícias falsas atribuindo a elaboração de um "kit gay" por parte de Haddad à época em que ele era ministro da Educação.



Uma pesquisa Datafolha apontou que quase metade dos eleitores que usam o WhatsApp diz acreditar nas notícias que recebem pelo aplicativo. Para 47%, as informações que chegam são confiáveis.



O problema é que pesquisas apontam que boa parte desse conteúdo não deveria ser digno de confiança. Um levantamento realizado entre 16 de setembro e 7 de outubro que monitorou 347 grupos de WhatsApp de cunho político mostrou que apenas 8% das imagens poderiam ser classificadas como verdadeiras. 



O próprio Judiciário admitiu que não estava preparado para lidar com tal volume de fake news. A presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Rosa Weber, chegou a afirmar que desejava  "imensamente que houvesse uma solução pronta e eficaz" para combater os boatos. "Nós ainda não descobrimos o milagre."



Intimidação à imprensa e violência



Casos de violência em eleições não são uma novidade no Brasil, mas este pleito teve casos barulhentos de agressões e até de tentativa de assassinato. Em setembro, Jair Bolsonaro (PSL) foi vítima de um ataque a faca por um homem que apresentava problemas mentais. Em março, uma caravana do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, então pré-candidato do PT, foi alvo de tiros quando passava pelo Paraná.



Os casos de violência também foram notáveis entre o eleitorado. Dezenas de casos de agressão por motivações políticas foram registrados pelo país - muitos deles partiram de simpatizantes de Bolsonaro. Na Bahia, um homem foi assassinado após ter declarado voto em Haddad. O próprio Bolsonaro se eximiu inicialmente de condenar as ações.

Ele disse que lamentava a violência, mas que não tinha como controlar seus apoiadores. Os episódios chamaram a atenção das Nações Unidas, que manifestaram preocupação e apelaram para que os líderes políticos condenassem qualquer forma de violência no pleito.

Jornalistas também foram alvo de agressões físicas e linchamentos virtuais ao longo da campanha. Segundo a a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), ao longo do ano foram pelo menos 137 casos de agressão em contextos partidários ou políticos.

Destes, 60 envolveram violência física. O restante envolveu casos de assédio pela internet, como a divulgação de fotos e dados de profissionais e disseminação de boatos envolvendo o nome deles, estimulando ataques em massa nas redes.


Candidaturas espartanas



Com a proibição de doações por parte de empresas em 2015, a expectativa é que o novo fundo público de campanhas tivesse papel decisivo no pleito, beneficiando grandes partidos e políticos com mandato. No entanto, o candidato que venceu a corrida presidencial declarou oficialmente ter gasto apenas 2,5 milhões de reais. Um contraste com Dilma Rousseff, que declarou gastos de mais de 300 milhões em 2014.



Jair Bolsonaro também ficou bem atrás nos gastos em relação ao seu adversário no segundo turno, Fernando Haddad (PT) e os principais derrotados na primeira rodada. O petista gastou - combinado com a candidatura barrada do ex-presidente Lula - 53,3 milhões de reais.



O mesmo ocorreu com várias candidaturas ao Congresso. Recursos robustos não garantiram a eleição de diversos candidatos, enquanto nanicos com pouca estrutura e verba acabaram recebendo votações expressivas. Ao contrário de 2014, a maior parte dos partidos com mais recursos também não garantiram bancadas maiores na Câmara. Essa nova tendência atingiu em cheio o PP, MDB, PSDB e PR.



O PSL, que elegeu 52 deputados, teve a eleição "mais barata" para a eleger uma bancada expressiva na Câmara. Foram gastos pouco mais de 7 milhões de reais, ou 142 mil reais por eleito. Já o PP, que elegeu 37 deputados, gastou 64,5 milhões, ou 1,7 milhão de reais por eleito. O deputado federal mais votado de 2018, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), arrecadou cerca de 200 mil reais. Em 2014, o deputado mais votado havia gasto 1,9 milhão de reais.



Padrões similares também ocorreram no Senado. Em Minas Gerais, a campanha fracassada ao Senado da ex-presidente Dilma Rousseff arrecadou 4,2 milhões de reais. Foi praticamente o mesmo valor arrecadado pelos dois candidatos combinados que foram eleitos.



TV perde importância



Em julho, o presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB) formou uma aliança com dez partidos. A coligação acumulou 43% de tempo da propaganda na TV no primeiro turno. Logo atrás de Alckmin, o PT acumulou 19% do tempo total no primeiro turno. Henrique Meirelles, do MDB, ficou logo atrás, com 16%. 



Desde que foi criado nos anos 1960, o horário eleitoral na TV e no rádio foi encarado por décadas como uma ferramenta fundamental para uma campanha bem-sucedida. Os partidos explicitavam isso direcionando boa parte dos seus recursos com propaganda televisiva. Em 2014, a campanha de Dilma Rousseff direcionou cerca de 80 milhões de reais para a produção de propagandas na TV e no rádio.



No entanto, em 2018, dois candidatos que direcionaram boa parte dos seus recursos para a TV obtiveram resultados pífios no primeiro turno. Alckmin, dono do maior latifúndio televiso, obteve menos de 5% dos votos. Meirelles, 1%. A TV ajudou Fernando Haddad a se tornar mais conhecido e a colar sua imagem em Lula, mas ao final do primeiro turno, o petista ficou atrás de Jair Bolsonaro (PSL), que contava com apenas oito segundos de TV.



Alckmin, por exemplo, somou no primeiro turno seis horas de exposição em cada um dos canais abertos. Não houve efeitos sobre suas intenções. Já Bolsonaro, que acumulou meros 10 minutos, chegou a saltar mais de 10% entre o início e o fim do horário eleitoral no primeiro turno.



No início de outubro, pesquisa Datafolha apontou que o horário eleitoral na TV e no rádio foi apontado como "muito importante" por 33% dos eleitores. Já 40% deles afirmaram que ele não tem nenhuma importância. Foi o menor percentual em uma lista que incluiu itens como "conversa com familiares e amigos" e as "notícias na TV, no rádio e nas redes sociais".



Uma eleição sem Lula



Desde a volta das eleições diretas em 1989, a influência e o carisma de Lula fizeram parte do cotidiano das eleições nacionais. Ele concorreu diretamente em cinco pleitos. Em dois, teve papel como "grande eleitor" emprestando seu apoio e participando ativamente da campanha do candidato presidencial do PT da vez. Em 2018, no entanto, pela primeira vez Lula não participou diretamente de uma campanha presidencial. Em abril, foi preso.



Cinco meses depois, teve a candidatura à Presidência barrada pela Justiça Eleitoral. Na prisão, se viu impedido de tomar parte em atos de campanha do seu substituto e apadrinhado, Fernando Haddad. Seu papel acabou sendo nos bastidores, longe dos palanques. Lula também não conseguiu emprestar sua imagem a outros candidatos petistas que concorreram ao Congresso e aos governos estaduais.



Sem a presença da sua principal figura e acossado pelo antipetismo de parte do eleitorado, o PT encolheu na Câmara a níveis semelhantes ao que tinha em 1995. No primeiro turno das eleições presidenciais, Haddad ainda teve o pior desempenho de um candidato petista desde 1998. A sigla ainda encolheu no Senado e nas Assembleias estaduais.



Uma nova força nacional



Impulsionado pelo fenômeno Bolsonaro, o PSL, sigla nanica que o candidato se filiou em março, se tornou a segunda maior força na Câmara Federal, com 52 deputados, e elegeu quatro senadores. Antes do pleito, não contava com nenhum senador e tinha eleito apenas um deputado em 2014. O crescimento espantoso da sigla mudou drasticamente a correlação de forças na Câmara. O PSL avançou, sobretudo, sobre o espaço do MDB e do PSDB, siglas que por décadas foram influenciaram decisivamente as pautas do Congresso.



Com essa nova dimensão, o PSL vai se tornar a partir de 2019 uma das siglas mais ricas do país. Vai contar com a maior fatia do fundo partidário e a segunda maior porcentagem do fundo público de campanhas, além do segundo maior tempo de propaganda na TV.

Deixando a condição de nanico, o partido deve chegar com força nas eleições municipais de 2020. Em 2016, o partido elegeu apenas 30 prefeitos pelo país. Levando em conta a divisão do fundo partidário em 2017, o PSL deve passar a receber no mínimo 72 milhões de reais por ano. Em 2017, a parcela do partido mal passou de 6 milhões de reais.


Esse novo quadro ainda pode ter o efeito de atrair para o PSL deputados eleitos por nove siglas menores que não ultrapassaram a nova cláusula de barreira e que ficarão sem acesso ao fundo partidário a partir do ano que vem. Se isso se confirmar, a bancada bolsonarista têm chances de ultrapassar os petistas como maior grupo da Casa em 2019.



Derrota de figurões



A onda de renovação que varreu o Congresso no primeiro turno também atingiu em cheio velhos caciques e figuras conhecidas da política nacional. Entre eles estão nomes do PSDB, PT, MDB e PR.



No MDB, até mesmo o presidente da sigla, Romero Jucá (RR), que atuou como líder dos governos FHC, Lula, Dilma e Temer, perdeu sua vaga de senador. O mesmo ocorreu com o atual presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE) e os senadores Edison Lobão (MDB-MA), Roberto Requião (MDB-PR), Garibaldi Filho (MDB-RN) e Valdir Raupp (MDB-RO), figuras que por décadas tiveram posição de destaque na casa.



Entre os petistas, a lista de derrotados inclui os senadores Jorge Viana (PT-AC), Lindberg Farias (PT-RJ) e outros nomes que pareciam apostas seguras para conquistar uma cadeira, como Eduardo Suplicy (SP) e a ex-presidente Dilma Rousseff (MG).

No PSDB, os derrotados incluem os senadores Cássio Cunha Lima (PB) e Paulo Bauer (SC), além dos ex-governadores Beto Richa (PSDB-RJ) e Marconi Perillo (PSDB-GO), que se lançaram para vagas na Casa. Outros derrotados incluem a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) e Cristovam Buarque (PPS-DF).  


Vários clãs familiares também acumularam derrotas. Roseana Sarney (MDB) fracassou em sua tentativa de se eleger mais uma vez para o governo do Maranhão. Seu irmão, o deputado Sarney Filho, que está no Congresso desde os anos 1980, perdeu uma disputa para o Senado.

No Rio Grande do Norte, pela primeira vez desde os anos 1970, o núcleo central das famílias Alves e Maia ficaram sem representantes no Senado. No Rio de Janeiro, as famílias Cabral e Picciani também viram representantes fracassarem nas urnas. 


Derrocada do PSDB e do MDB



Após 24 anos sem lançar à Presidência um candidato próprio, o MDB resolveu apresentar neste pleito o ex-ministro Henrique Meirelles (MDB). Já o PSDB lançou Geraldo Alckmin, veterano da disputa presidencial de 2006. Filiados a partidos que foram atingidos em cheio pela Lava Jato e associados com o impopular Temer, os dois tiveram desempenho pífio.

Meirelles obteve 1,2%,. Atropelado pela candidatura do direitista Jair Bolsonaro (PSL), Alckmin conseguiu menos de 5% dos votos, de longe o pior desempenho do tucanos desde 1989, quando disputaram sua primeira eleição presidencial.


Para piorar, o mau desempenho dos dois candidatos frente a Bolsonaro se refletiu no Congresso. Em relação à eleição de 2014, o MDB encolheu de 66 para 34 cadeiras na Câmara, recuo de 48%. No Senado, também acumulou uma série de derrotas e vai começar 2019 com 12 senadores, ainda a maior bancada da Casa, mas com seis membros a menos do que a atual.



Nunca o MDB foi tão pequeno em ambas as Casas do Congresso desde os anos 1980. Em dez estados, não elegeu sequer um deputado federal. Uma marca inédita. Nas duas últimas eleições, a sigla sempre conseguiu eleger no mínimo um representante por Estado. Nos pleitos anteriores a 2010, o número de estados sem um deputado federal emedista nunca passou de dois.



Já o PSDB encolheu de 54 para 29 deputados federais em relação ao pleito de 2014 (-46%). Passou de terceira maior bancada para a nona. Ficando atrás do PSD, PR, PSB e PRB (partido ligado à Igreja Universal). Nem mesmo em 1990, dois anos após a sua criação, o PSDB havia conseguido eleger tão poucos deputados. No Senado, mais encolhimento. A sigla deve começar a próxima legislatura com nove senadores, três a menos do que hoje.

Fonte: Carta Capital

Assessora de Sérgio Moro por seis anos fala sobre a Lava Jato.

Foto: Theo Marques
Christianne Machiavelli costuma chamar cada repórter pelo nome, e não são poucos os que ela conheceu durante os seis anos em que trabalhou encastelada no vigiado e protegido prédio da Justiça Federal de Curitiba, de onde saem os despachos de busca, apreensão e prisão assinados pelo juiz Sérgio Moro.

Chris, como é conhecida, trabalhava sozinha no departamento de comunicação da Lava Jato até agosto, quando pediu demissão para abrir uma assessoria de imprensa voltada a clientes da área jurídica. Ela diz que identificou um filão de mercado no setor, e garante que não é beneficiada por ter trabalhado com Moro. “Ele é amado por uns e odiado por outros. Eu tenho que lidar com o ônus e o bônus disso.”

Ela não tinha ideia do volume de trabalho que teria pela frente quando passou no processo seletivo em 2012. Acostumada com a rotina tranquila de seu trabalho anterior, na comunicação da Igreja Metodista de Curitiba, ela passou a responder a dezenas de jornalistas todos os dias, das primeiras horas da manhã até a madrugada. Teve crises de estresse, começou a tomar remédios controlados, engordou 30 quilos.

O trabalho de Chris era a ponta de uma estratégia costurada acima dela. A imprensa foi responsável pelo sucesso da Lava Jato. E isso não foi por acaso: Moro se inspirou na operação Mãos Limpas – que prendeu centenas de pessoas e mudou o cenário político da Itália – ao definir que, sem a imprensa, a operação morreria nos primeiros meses, como tantas outras antes dela.

“Os responsáveis pela operação Mani Pulite [mãos limpas, em italiano] fizeram largo uso da imprensa. Com efeito: para o desgosto dos líderes do PSI [um dos partidos investigados, que acabou extinto], que, por certo, nunca pararam de manipular a imprensa, a investigação da ‘mani pulite’ vazava como uma peneira”, escreveu Moro em um artigo de 2004, dez anos antes de dar início a operação que o tornou conhecido nacionalmente. Ele fez um copia/cola das estratégias do procurador italiano Antonio Di Pietro.


“Tão logo alguém era preso, detalhes de sua confissão eram veiculados no L’Expresso, no La Republica e em outros jornais e revistas simpatizantes. Apesar de não existir nenhuma sugestão de que algum dos procuradores mais envolvidos com a investigação teria deliberadamente alimentado a imprensa com informações, os vazamentos serviram a um propósito útil. O constante fluxo de revelações manteve o interesse do público elevado e os líderes partidários na defensiva”, continuou o juiz, já dando pistas de como achava que uma operação desse tipo deveria ser tratada.

Desde o início, os órgãos da Lava Jato (Ministério Público Federal, Polícia Federal e Justiça Federal) mantiveram vivo o interesse da imprensa, alimentando os veículos sobre qualquer movimento da operação. O Brasil assistiu extasiado ao desenrolar de cada nova fase como se fosse uma novela. “E hoje, quem será preso? Quem será delatado?”.

Foi para entender os bastidores desse processo que conversei com Christianne Machiavelli, por telefone, no começo de setembro. Ela tinha esvaziado suas gavetas na Justiça Federal poucos dias antes, em 30 de agosto. Levou consigo banais livros, canecas, documentos e outros objetos pessoais. Em especial, três dicionários que ganhou de presente do pai, que carrega consigo em todos os empregos, seus amuletos.

Por quatro anos, ela foi o único preposto entre os jornalistas e Moro – a quem ela chama de SFM, sigla para Sérgio Fernando Moro. Se tornou amiga pessoal de alguns repórteres. Os mais próximos ainda a convidam para os churrascos de confraternização de fim de ano onde todos os setoristas da cobertura se encontram – vários veículos de imprensa mantêm equipes permanentes em Curitiba só para atender à Lava Jato.

O trabalho, diz ela, a fez repensar a forma como as pessoas investigadas pela Lava Jato foram tratadas pela operação e, em especial, pela imprensa. Para ela, houve exageros. “Era tanto escândalo, um atrás do outro, que as pessoas não pensavam direito. As coisas eram simplesmente publicadas”.

Leia a seguir os principais trechos da conversa, editada para ficar mais clara, e alguns parágrafos de contexto.
Você atuou no centro nervoso da Lava Jato desde o início, em 2014. Como vê a evolução da operação nestes anos?

A gente não tinha noção do que ia ser. No começo, a operação era contra doleiros que operavam no câmbio negro, e então apareceu o [ex-diretor da Petrobras] Paulo Roberto Costa, por causa de um presente que recebeu. Só fui entender o que era a Lava Jato na 7ª fase, em novembro de 2014, depois da delação do Júlio [Camargo] e do Augusto [Ribeiro, executivos da Toyo Setal]. Nesse momento é que apareceu a grande história: que existia um clube das empreiteiras, com as regras do jogo. Foi a partir daí que a imprensa comprou a Lava Jato.
Em março de 2014, quando começou a Lava Jato, um voo da Malaysa Airlines desapareceu misteriosamente e a Rússia anexou a Crimeia.

A primeira fase da Lava Jato foi no dia 17 daquele mês. Na época, ainda não havia nada sobre Lula, Aécio, Renan, Jucá, Odebrecht, Camargo Corrêa ou qualquer outro político e empresa que seriam notícia nos anos seguintes.

A imprensa noticiou, sem tanto destaque, que a Polícia Federal havia deflagrado uma operação contra lavagem de dinheiro, cujo montante chegava a R$ 10 bilhões. O doleiro paranaense Alberto Youssef foi preso.

Youssef foi um dos principais doleiros do Banestado, considerado o maior caso de corrupção na década de 90, e o primeiro a fechar uma delação premiada no país. O escândalo reuniu os principais nomes da Lava Jato. Além de Youssef, atuaram no caso o juiz Sérgio Moro e o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima.

O assunto saiu na seção policial da maioria dos jornais. Foi apenas semanas depois, com o avanço das investigações e o vazamento das primeiras delações, que migrou para o caderno de política.
A Lava Jato manteve o interesse da mídia por anos. Era uma estratégia pensada?

Não acho que houve estratégia, pelo menos por parte da Justiça Federal. Mas a responsabilidade da imprensa é tão importante quanto a da Polícia Federal, do Ministério Público e da Justiça. Talvez tenha faltado crítica da imprensa. Era tudo divulgado do jeito como era citado pelos órgãos da operação. A imprensa comprava tudo. Não digo que o trabalho não foi correto, ela se serviu do que tinha de informação. Mas as críticas à operação só vieram de modo contundente nos últimos dois anos. Antes praticamente não existia. Algumas vezes, integrantes da PF e do MPF se sentiam até melindrados porque foram criticados pela imprensa.

Pode citar exemplos?

O Maurício Moscardi Grillo [delegado da Lava Jato em Curitiba] quando deu entrevista para a Veja dizendo que perderam o timing para prender o Lula foi muito criticado, e a polícia ficou melindrada. Mesma coisa quando o Carlos Fernando Santos Lima falou que o MPF lançou “um grande 171″ para conseguir delações. O powerpoint do Deltan Dallagnol sobre o Lula. Eles ficaram muito chateados quando a imprensa não concordou com eles. Todo mundo fica magoado, mas não se dá conta daquilo que fala. Não posso dizer que ele [Sérgio Moro] não ficasse melindrado, mas uma única vez respondemos a um veículo. Foi um caso do Rodrigo Tacla Duran, num domingo de manhã. Ele me chamou para a gente responder à notícia que dizia que Carlos Zucolotto, amigo, padrinho de casamento e ex-sócio da esposa de Moro, fazia negociações paralelas sobre acordos com a força-tarefa da Lava Jato . Nesse caso ele se sentiu ofendido, mais pelo processo do que pessoalmente.
Os casos citados podem ter incomodado a cúpula dos agentes da Lava Jato, mas tiveram pouca repercussão na imprensa em geral. O papel de crítica ficou a restrito a blogs e veículos mais identificados à esquerda – muitas vezes distorcendo fatos e apelando para fake news.
Para você, por que a imprensa comprou a Lava Jato sem questionar?

Era tanto escândalo, um atrás do outro, que as pessoas não pensavam direito, as coisas eram simplesmente publicadas. O caso da cunhada do [ex-tesoureiro do PT, João] Vaccari foi bem significativo. Os jornalistas foram na onda do MPF e da PF. Todo mundo divulgou a prisão, mas ela foi confundida com outra pessoa. Foi um erro da polícia. Quando perceberam o erro, Inês já era morta. O estrago já tinha sido feito. Acho que a gente vem de uma fase que remonta à ditadura, em que a imprensa foi violentamente cerceada. Na Lava Jato a imprensa tinha muita informação nas mãos, dos processos, e entendeu que era o momento de se impor.

Qual a responsabilidade da imprensa?

Vou dar um exemplo. O áudio do Lula e da Dilma é delicado, polêmico, mas e o editor do jornal, telejornal, também não teve responsabilidade quando divulgou? Saíram áudios que não tinham nada a ver com o processo, conversas de casal, entre pais e filhos, e que estavam na interceptação. A gente erra a mão em nome de um suposto bem maior.
Cada dia de operação da Lava Jato seguia os mesmos rituais.

O celular dos jornalistas começava a apitar antes das 7h da manhã com um texto da PF. Por volta das 10h, os policiais faziam uma coletiva de imprensa junto com membros do MPF. Em seguida, o MPF divulgava o seu release, já com os dados da denúncia. Por fim, a Justiça Federal informava o número da ação judicial, junto com a chave para o acesso.

Com essa ferramenta, os jornalistas tinham acesso a tudo relacionado à operação: das investigações iniciais até os pedidos de prisão. Nos próximos dias, podiam acompanhar o andamento em tempo real.

Quem estava acostumado a cobrir operações deste tipo, como eu, sentiu que havia algo de diferente na Lava Jato.

Geralmente, operações de combate à corrupção — principalmente as que envolvem poderosos — costumam ser difíceis de acompanhar. É preciso ter boas fontes, gastar sola de sapato e batalhar para conseguir qualquer informação.

Na Lava Jato, tudo ficou muito fácil. Havia uma profusão de documentos disponíveis. Os agentes responsáveis eram acessíveis. Todo dia havia algo novo.

Em um país marcado pela falta de transparência, os gestos eram tidos como exemplares – e não estou dizendo que não sejam.

Mas o fato é que as facilidades fizeram com que a imprensa “comprasse” a Lava Jato quase que imediatamente. Denúncias do Ministério Público eram publicadas em reportagens quase na íntegra, assim como os inquéritos da PF e as decisões de Moro.

Foram poucos os jornalistas que se valeram daquele mundaréu de elementos para fazer o papel que cabe à imprensa: o de usar os dados para construir investigações mais aprofundadas.

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A divulgação dos áudios de Lula e Dilma gerou uma onda de insatisfação que levou milhares às ruas. O processo de impeachment da presidente se intensificou no Congresso. A ação de Moro foi questionada: ele não tinha competência e nem poderia ter acesso aos grampos.
Foto: Diego Padgurschi/Folhapress
Eu acho que bandido bom é o bandido que pode ser recuperado, apesar de tudo. A lei deve ser aplicada sempre. A questão aí é o peso da mão, da caneta, da maneira que o réu é tratado, o preso é tratado.
Você já disse que a Lava Jato mudou a visão sobre o direito. Antes era legalista, que olha apenas o cumprimento da lei. Agora é garantista, em que a lei deve ser cumprida preservando direitos. Por quê?

Como jornalista, minha base era na cobertura policial. Os repórteres que acompanham a polícia querem a imagem do preso, a história dele. Quanto mais sensacionalista, mais cliques, mais as pessoas vão ler. Mas, depois da Lava Jato, eu entendi o quanto a privacidade e intimidade do criminoso são necessárias. Lembro quando o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral apareceu com algemas nos pés e nas mãos e a imprensa abusou da imagem. Eu passei a olhar pro réu de uma maneira mais humanitária. Também acho que a lei de execução penal tem que ser aplicada, deve ser a base para garantir o direito dele de ser humano. Eu acho que bandido bom é o bandido que pode ser recuperado, apesar de tudo. A lei deve ser aplicada sempre. A questão aí é o peso da mão, da caneta, da maneira que o réu é tratado, o preso é tratado.

Isso envolve o hábito de levar os presos da operação para Curitiba e o circo midiático que se forma em torno disso?

Durante o período ostensivo das fases da Lava Jato, todos ficaram presos em Curitiba, com raras exceções, como Sérgio Cabral. Se criou essa cultura de trazer todos os presos pra cá, porque o juiz entende que o caso se desenrolou em Curitiba. Mas, no momento de uma execução penal, é a lei que vale, e ela diz que o preso tem direito a cumprir pena perto de seu domicílio, para a família poder visitá-lo. O José Dirceu, por exemplo, por um bom tempo não recebeu visita da família. Ele estava com os bens bloqueados e família não tinha condições. Os empreiteiros, por outro lado, as famílias vinham sempre.

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O ex-governador do Rio Sérgio Cabral (MDB) é conduzido ao IML de Curitiba (PR) antes de ser transferido a prisão.
Foto: Giuliano Gomes/PR Press/Folhapress
Em geral, os presos ficam detidos no local onde moram. A Lava Jato é um dos poucos casos em que o juiz demanda que eles sejam deslocados para o local de onde saem as decisões. Estar em Curitiba facilita a negociação de delação premiada e a ida a audiências presenciais. Mas, ainda assim, não seria necessário manter o preso na cidade o tempo todo.

Essa exigência de Moro criou uma espécie de “rota das imagens”. Os cinegrafistas e fotógrafos começam a registrar a prisão na cidade de origem, mostram o embarque no avião, a chegada em Curitiba, o exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal e, finalmente, as visitas dos parentes.

Essa marcação faz com que qualquer pessoa saiba, por exemplo, que Eduardo Cunha jantou arroz, feijão e frango em sua primeira noite na prisão. Em que situação isso seria relevante?
Você questionava Moro sobre decisões controversas, como a de levar os presos para Curitiba?
O trabalho da assessoria não era de questioná-lo sobre suas decisões, mas dar publicidade aos seus atos.

Você acha que a Lava Jato influenciou as eleições deste ano? Por exemplo, o Moro ter levantado o sigilo da delação do Palocci na semana passada.
Só posso dizer que essa eleição é a mais atípica que vivi desde que tirei meu título. Quanto a colaboração do Palocci, entendo que quase a totalidade do termo divulgado já era de conhecimento público. Ele apenas deu nome aos bois, fato que também já teria sido mencionado pelo Paulo Roberto Costa e, se não me engano, por Youssef também. Portanto, não sei se influenciou. O que influenciou no resultado dessas eleições foram as notícias falsas, o ódio, o medo.

Além do Palocci, Moro adiou depoimento do Lula por causa do período eleitoral e o MPF pediu mais uma condenação a ele, dias antes da eleição. Acha que tem algo a ver?

Sim. Pelo que me lembre, o adiamento do depoimento do Lula ocorreu há alguns meses e o magistrado justificou em despacho. Sobre o pedido do MPF, não vejo relação também, pois estava no prazo das alegações finais. Destaco que o prazo para as alegações finais foi determinado há pouco tempo, pois ficou parado por meses a fio devido a quantidade de perícias peticionadas pela defesa de Lula e o MPF ao juízo. Caso nada disso tivesse acontecido, o processo já poderia ter sido sentenciado e, inclusive, com autos conclusos para um possível julgamento de apelação no 2° grau. Ou seja, a juntada das alegações finais por parte do MPF é apenas coincidência decorrente de uma tramitação processual lenta.

Mesmo estando dentro dos prazos, é inegável que esses fatos podem favorecer ou prejudicar candidatos. Não seria possível esperar passar o pleito para fazê-los? Isso não pode colocar em risco a legitimidade da Lava jato?

A celeridade processual é uma premissa do Judiciário e inclusive exigência do CNJ. Não é possível que o Judiciário pare em detrimento de um processo eleitoral. A celeridade processual é em prol do réu e não do magistrado. Pense: se o MPF tivesse se manifestado em favor do réu, então a celeridade processual seria boa? Mas como a manifestação é condenatória, a celeridade é ruim? Não há dois pesos e duas medidas. Há prazo que precisa ser cumprido.
O celular dos jornalistas começava a apitar antes das 7h da manhã com um texto da PF. Por volta das 10h, os policiais faziam uma coletiva de imprensa junto com membros do MPF. Em seguida, o MPF divulgava o seu release, já com os dados da denúncia.

O celular dos jornalistas começava a apitar antes das 7h da manhã com um texto da PF. Por volta das 10h, os policiais faziam uma coletiva de imprensa junto com membros do MPF. Em seguida, o MPF divulgava o seu release, já com os dados da denúncia.

O juiz e os procuradores sempre dizem que agem de modo isento. Mas é difícil negar que a Lava Jato foi, no mínimo, associada a um forte antipetismo.

Dias antes das eleições, Moro levantou o sigilo sobre a delação do ex-ministro de Lula, Antonio Palocci, e o MPF pediu a condenação do petista no caso do sítio de Atibaia. Na semana desses acontecimentos, o presidenciável Jair Bolsonaro cresceu nas pesquisas de opinião frente ao candidato do PT, Fernando Haddad. Bolsonaro passou de 28% de intenções de voto em 28 de setembro para 39% em 4 de outubro, de acordo com o Datafolha.

O mesmo Moro havia decidido, semanas antes, adiar um depoimento de Lula alegando que poderia influenciar o período eleitoral.

Há até pouco tempo, Moro era avesso à imprensa. Aos poucos, foi se soltando. Em entrevista ao Roda Viva em março, ele até defendeu o auxílio-moradia – que recebe, mesmo tendo apartamento de meio milhão de reais em Curitiba. O juiz tampouco se sente constrangido ao aparecer em fotos ao lado de Aécio Neves e João Doria, ambos do PSDB.

Moro tampouco negou que Alvaro Dias, que concorreu pela presidência pelo Podemos, usasse o seu nome durante a campanha. Paranaense e ex-tucano, Dias usou quase todo o tempo que teve em debates para enaltecer a Lava Jato. Ainda assim, foi massacrado nas urnas.

Até o “japonês da Federal”, Newton Ishii, que ficou famoso por escoltar os presos da operação, se filiou ao Patriota, um partido abertamente antipetista, quando se aposentou da PF. Ele é o presidente da legenda no Paraná, que em nível nacional lançou Cabo Daciolo à presidência.)
Qual o seu maior acerto e o maior erro nesse período?

Meu maior acerto foi sistematizar e compilar todas as informações da Lava Jato em uma planilha, que servia para a imprensa acompanhar. E cumprir os deadlines dos jornalistas. Para mim foi sofrido. Eu engordei 30 quilos. Tomava remédio controlado para depressão e ansiedade. Cheguei a picotar um chip de celular porque as pessoas me ligavam até meia noite todos os dias. Eu trabalhava fim de semana, feriado… Agora chego em casa e vou fazer comida, ver série.

E agora, o que vai fazer?
Vou abrir uma empresa de gestão de crise, estou vendo nome, contador. Lidar com crise foi algo que aprendi na prática.
Amanda Audi
No The Intercept


Fonte: contextolivre.com.br

JFRN assina convênio de trabalho voluntário com estudantes que desenvolverão aplicativo

Justiça Federal no Rio Grande do Norte assinou convênio de trabalho voluntário com cinco estudantes que desenvolverão um aplicativo voltado para informações processuais. A idéia do sistema surgiu durante a competição Hackatom, na Campus Party Natal, com a participação da Seção Judiciária. Naquele momento, os jovens, que integravam uma equipe, desenvolveram o protótipo inicial do aplicativo. Agora, com o convênio, o trabalho passa a ser implementado.
O convênio foi assinado pelo Diretor do Foro em exercício, Juiz Federal Carlos Wagner Dias Ferreira, e pelos cinco estudantes, junto com o professor Elias Jacob, que orientará o grupo. Os alunos são Paulo Oliveira, Pedro Oliveira, William Morais, Liellison Menezes e Priscila kruger.
Durante o ato, o Juiz Federal Carlos Wagner enalteceu a importância do novo sistema que será desenvolvido e ressaltou a gratidão da JFRN por contar com a parceria.  “A Justiça agradece a esses jovens que agora estarão atuando diretamente para facilitar o acesso de informações do Judiciário”, destacou o Diretor do Foro em exercício.
Por Robson Pires

sábado, 27 de outubro de 2018

CÁRMEN LÚCIA SUSPENDE AÇÕES CONTRA ATOS ANTI-FASCISTAS NAS UNIVERSIDADES


De acordo com a ministra, a decisão tem carácter de urgência para evitar que as ações deflagradas nos últimos dias se multipliquem; as ações policiais e administrativas baseavam-se na fiscalização de supostas propagandas eleitorais irregulares, enquanto estudantes, professores e entidades educacionais viram as ações como censura

Por Por Kelly Oliveira, da Agência Brasil - A ministra Carmén Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), concedeu medida cautelar para suspender atos judiciais e administrativos em universidades contra a livre manifestação de pensamento. A decisão ocorre no momento em que várias universidades públicas foram alvo de ações policiais e de fiscais eleitorais. A medida tem caráter de urgência para impedir que a ocorrência de atos semelhantes aos registrados nos últimos dias.

Segundo as decisões judiciais expedidas, as ações policiais e administrativas baseavam-se na fiscalização de supostas propagandas eleitorais irregulares. Estudantes, professores e entidades educacionais, no entanto, viram as ações como censura.

De acordo com a ministra, a decisão tem carácter de urgência para evitar que as ações deflagradas nos últimos dias se multipliquem. A medida foi enviada ao presidente do STF, Dias Toffoli, que poderá submeter a decisão ao plenário. Além de suspender as decisões judiciais, Cármen Lúcia defendeu a liberdade de expressão.

“Os efeitos de atos judiciais ou administrativos, emanados de autoridade pública que possibilite, determine ou promova o ingresso de agentes públicos em universidades públicas e privadas, o recolhimento de documentos, a interrupção de aulas, debates ou manifestações de docentes e discentes universitários, a atividade disciplinar docente e discente e a coleta irregular de depoimentos desses cidadãos pela prática de manifestação livre de ideias e divulgação do pensamento nos ambientes universitários ou em equipamentos sob a administração de universidades públicas e privadas e serventes a seus fins e desempenhos.”

A ministra Cármen Lúcia condena ações totalitárias, afirmando que “toda forma de autoritarismo é iníqua”. “Pior quando parte do Estado. Por isso, os atos que não se compatibilizem com os princípios democráticos e não garantam, antes restrinjam o direito de livremente expressar pensamentos e divulgar ideias são insubsistentes juridicamente por conterem vício de inconstitucionalidade.”

Ontem (26) a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, anunciou o pedido de liminar ao STF para “restabelecer a liberdade de expressão e de reunião de estudantes e de professores no ambiente das universidades públicas brasileiras”.

Raquel Dodge, que também é procuradora-geral eleitoral, apresentou ao Supremo uma Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF). Segundo a procuradora, esse tipo de ação busca reparar lesão a princípio fundamental da Constituição que tenha sido provocada por ato do Poder Público.


Fonte: ajusticeiradeesquerda.blogspot.com