terça-feira, 25 de dezembro de 2018

Para reestabelecer a paz, precisamos restabelecer a verdade, por Gunter Zibell

Por Gunter Zibell
Pró Rede
Há várias matérias falando sobre as dificuldades que podem advir, nas reuniões presenciais, da polarização política.
também acontece nos EUA:
a pegada irônica de quem captou o problema:
tentativa de conciliação (mas eu não creio ser o momento):
Mas o que é mesmo necessário para que haja paz? O que pode ser a verdade, hoje?
Que ambos os lados compartilhem da mesma base de informações e fatos.
Com o advento dos blogs e redes sociais as pessoas foram se afastando dos fatos e passaram a viver em suas bolhas de pós-verdades.
Isso não deveria ser pessoal, mas, como as pessoas querem que seja, pois assim será.
O que eu acho do momento atual:
Existe uma onda a favor de mais mercado menos estado.
Meus amigos progressistas não gostam que eu fale disso. Mas eu sou economista e penso que isso é verdade.  Uma economia eficiente é uma aspiração legítima da sociedade.
Mas também penso que esse é o único argumento consistente do campo conservador.
Bolsonaro foi necessário para evitar o PT.
Falso. O que aconteceu é que Alckmin (PSDB) e Meirelles (MDB) foram ainda mais boicotados que Haddad (PT).
E não é necessário ser reacionário para ser a favor de economia de mercado.

Há uma onda conservadora no mundo.
Falso. Há uma onda xenofóbica e protecionista nos países ricos, que receberam de 20 a 50% de mão-de-obra imigrante nas últimas quatro décadas de Globalização. Mas ninguém pensa em expulsar imigrantes já estabelecidos.
E reduzir novos fluxos migratórios é de interesse mais de sindicatos que das elites contratantes.
E há uma onda fundamentalista em países não-ocidentais (Rússia, Polônia, Turquia, Irã.)
Mas não há no mundo ocidental (Europa Ocidental, Américas e Oceania) a combinação exótica (e contraditória) do Brasil atual: ultraliberalismo, fundamentalismo e antiambientalismo.
As vitórias recentes de AMLO (México) e dos Democratas nos EUA são demonstração de que o populismo reacionário não é típico do Ocidente Liberal.
Será, inclusive, muito divertido ver Bolsonaro prestar continência para uma futura mulher presidenta dos EUA e de partido democrata.
O único outro país ocidental com governo populista, hoje, é a Itália. Mas apenas na xenofobia, porque metade da coligação (o M5S) é formada por ativistas dos mais variados.
Em quase todos os países ocidentais temos casamento gay. Naqueles fora da América Latina temos aborto. E em vários temos a despenalização da maconha.
As posições dos conservadores brasileiros são anacrônicas e muito mais antiquadas do que ocorre no Mundo Liberal.
Querer ser contra a Ideologia de Gênero é apenas ridículo. Ser contra a despenalização da maconha é apenas atrasado.
Os “resistentes” não gostam do Brasil.
Falso. Se queremos um Brasil melhor é necessário falar dos problemas.
Se deixarmos o governo Bolsonaro implantar acriticamente sua agenda antissocial o que ocorrerá é uma menor popularidade. Isso leva a receio dos deputados para se reeleger em 2022. O que leva a menor aprovação de projetos de interesse para a economia.
O Macarthismo foi abandonado pelos próprios EUA em 1958, por se perceber que pensamento crítico é necessário para a própria manutenção do Sistema.
A resistência é necessária.
Sem dúvida. A maioria não se importa com as questões de minorias e ativistas, porque não é afetada. Só que isso não elimina as questões.
As guerras culturais continuam, independente das pessoas conservadoras quererem que elas sumissem.
A única solução para reduzir a tensão das guerras culturais é, por óbvio, começar a atender às demandas. Mas o governo Bolsonaro é justamente contrário a todas!
Há muitas medidas ruins e antissociais já anunciadas pelo novo governo. E não existe uma única medida defensável.
A economia irá melhorar
Há essa expectativa, mas não há porque ser muito otimista.
Reduzir a progressividade dos impostos é algo que só existe na Rússia. O que levou esse país a ter a maior concentração de renda em países industrializados e menor participação de MPEs na criação de empregos.
A ideia de acabar com o Super Simples é distópica. Paulo Guedes irá prejudicar a viabilidade de 4 MM de PJs, envolvendo 10 MM de seus próprios eleitores?
E as privatizações são um falso dilema. São apenas mudança de portfólio, pois as 30 maiores empresas do mundo valem, cada uma, mais que a soma de estatais brasileiras. E, mesmo que todas fossem privatizadas, isso apenas arranharia a dívida pública.
O importante aqui é que “bem comum” não deve se sobrepor a direitos humanos.
A oposição deveria se comportar agora
Não. Por muitos motivos.
  1. Durante 16 anos quem hoje está na situação não se furtou a criticar o governo;
  2. Há uma falsa simetria – e isso é muito importante: os governos de Lula, Dilma e Temer nunca ameaçaram a existência da “maioria”;
  3. Democracia não é o simples atendimento de desejos de maioria, mas o respeito ao estado de direito para todos;
  4. As classes médias, usadas politicamente, não serão beneficiadas. Todo o projeto é voltado para a mineração de áreas indígenas e expansão da fronteira agrícola.
Então é melhor já ir se acostumando à Resistência. Talvez agradecer à sua existência, por não ser alienada.
O que pode ser feito como resistência?
- anunciar já que em 2020 e 2022 não se votará em projetos conservadores morais ou antissociais;
- expor explicitamente que se é oposição. Quanto mais isso for feito nos ambientes presenciais, escolas, igrejas e empresas, mais difícil fica para o pensamento único se impor como hegemonia cultural;
- já que há mimimi com a “f-word”, usar os sinônimos: ultradireita, populismo, reacionarismo, neoconservadorismo, passadismo, macarthismo, autoritarismo;
- estimular a troca de ideias com opositores. O ideal seria existir uma rede como as gays Grindr e Hornet, em que se sabe logo quem é resistente. Poderia chamar “Rxist” (com essa moda de eliminar as vogais dos nomes.) Mas há artifícios: procure nos posts de seus amigos conservadores quem faz comentários contra o regime, os adicione e aumente a divulgação de matérias “True News”.
- mostre para parentes e amigos que você não concorda com a imposição de não se fazer oposição.
Se um governo é ruim, é democracia se fazer oposição. O constrangimento que fique com quem elegeu o governo.
E, se a vitória de um governo reacionário não é surpreendente, surpresa é as pessoas se manterem numa posição de omissão e alienação.
Tem que mudar isso aí, talquei?
Fonte: jornalggn.com.br - Luis Nassif

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