Protesto de trabalhadores do MT contra o fatiamento da pasta
Em conjunto com a reforma Trabalhista, fim do Ministério do Trabalho,
anunciado pela equipe do presidente eleito, deve piorar relações trabalhistas.
O fim do Ministério do Trabalho,
anunciado pelo presidente eleito Jair Bolsonaro, sob pretexto do equilíbrio das
contas públicas, tem como alvo o fim dos direitos dos trabalhadores e
trabalhadoras. Para Bolsonaro, que acredita que ser patrão no Brasil é
horrível, ter um ministério que fiscaliza o combate escravo e as condições de
trabalho é um problema a ser eliminado.
"Para que existir, se a sua
função é tida como um dos maiores empecilhos para o sucesso do projeto de país
que essa gente aspira? O principal alvo dessa guerra não é o MT, é o
trabalhador e a trabalhadora e, portanto, o trabalho, no sentido dos direitos
conquistados", diz o professor Marco Gonsales, da Universidade São Judas
Tadeu, em entrevista ao jornalista Vitor Nuzzi,
da Rede Brasil Atual.
"Há pelo menos 50 anos, países
centrais e periféricos realizam os ajustes rumo à tão sonhada austeridade
fiscal. Em suma, eliminam direitos sob o pretexto do equilíbrio das contas
públicas."
As consequências nocivas ao
trabalhador serão várias, enumera o professor. "Para quê fiscalização
se o trabalho análogo a escravidão será legalizado com as carteiras verde e amarela?", questiona
Gonsales, que complementa: "Os empresários não terão mais motivos para não
formalizar os seus trabalhadores. Direitos conquistados ao longo do século 20
serão suprimidos".
Grande parte do atual e do futuro
governo é composta por grupos empresariais responsáveis pelo trabalho escravo e
infantil no país, tanto no campo quanto nos centros urbanos.
- Marco Gonsales
Ele avalia que a situação irá piorar,
em um país que já tem 27 milhões de desempregados ou subempregados. "Quase
metade da classe que trabalha no Brasil reclama por salários atrasados, um
quinto implora por uma alimentação digna e outros 16% por mínimas condições de
trabalho".
Confira a entrevista na íntegra:
Qual o significado, em termos
institucionais, do fim ou do "fatiamento" do Ministério do Trabalho?
Temer e Bolsonaro são faces da mesma
moeda. A diferença é o como fazer, mas o objetivo é o mesmo. Para esses
representantes das frações dominantes brasileiras, o objetivo é claro: manter o
Brasil na posição de país subalterno, semi-periférico, norteado pelos
interesses do grande capital internacional. É assim que a nossa elite aprendeu
historicamente a acumular riqueza, se perpetuar no poder e saquear o país:
explorando o trabalhador e trabalhadora e/ou entregando as nossas riquezas,
naturais e socialmente construídas. Veja o caso da Embraer. Um patrimônio
brasileiro que FHC privatizou, Temer preparou e será entregue definitivamente
por Bolsonaro.
O desmantelar do MT não é de hoje.
Quem não se lembra da nomeação de Cristiane Brasil, por Michel Temer, para a
pasta do ministério? A filha de Roberto Jefferson tinha sido processada pela
Justiça do Trabalho, além de possuir três ações movidas contra ela por três
antigos trabalhadores. Já o atual ministro, Caio Luiz de Almeida, Vieira de
Mello, recebeu 24 atuações entre 2005 e 2013 da própria pasta que passou a
comandar. Um escárnio!
Como apresentado, de maneira ainda
muito leviana, pra não dizer amadora, pelo futuro ministro-chefe da Casa Civil,
Onyx Lorenzoni, a Secretaria de Políticas Públicas deve ficar com os
ministérios da Economia, de Paulo Guedes, e Cidadania, de Osmar Terra. Este
último foi ministro do Desenvolvimento Social de Michel Temer e responsável
pelo cancelamento de 85 mil auxílios-doença e pelo corte de 4,4 milhões de
famílias do Bolsa Família.
Em suma, o fim do MT começou a ser
desenhado após o golpe parlamentar de 2016. Para que existir, se a sua função é
tida como um dos maiores empecilhos para o sucesso do projeto de país que essa
gente aspira? O principal alvo dessa guerra não é o MT, é o trabalhador e a
trabalhadora e, portanto, o trabalho, no sentido dos direitos conquistados. As
frações burguesas brasileira, e de muitos outros países periféricos, vivem ancoradas
na lógica do capitalismo de rapina.
Parece fato que o MT deixou de ter
peso nas decisões governamentais. Mas sua extinção não enfraquece ainda mais a
área social, em favor da econômica, predominante? A balança não fica ainda mais
desequilibrada?
A balança, que por aqui nunca teve
equilíbrio, também, desde 2016, pende radicalmente a favor do capital. Um
fenômeno também global característico desta fase neoliberal do capitalismo. Há
pelo menos 50 anos, países centrais e periféricos realizam os ajustes rumo à
tão sonhada austeridade fiscal. Em suma, eliminam direitos – sob o pretexto do
equilíbrio das contas públicas. É claro que esse caminho não é linear, cada
povo tem as suas particularidades sociais, culturais e políticas, há também os
conflitos entre os próprios capitalistas, além das lutas das classes
subalternas que também dão o tom neste processo.
A própria América Latina elegeu
diversos governos progressistas no começo deste século em meio ao período
neoliberal capitalista. O próprio México, ao que tudo indica, deve adentrar em
um período de conquistas de direitos pelas classes subalternas. Mas não há
dúvida, o capitalismo em sua fase neoliberal – principalmente após as quedas da
URSS e do muro – desequilibra a balança das lutas de classes a favor das
elites. Não por menos, os estudos sobre a desigualdade social no capitalismo
contemporâneo, de Thomas Piketty, são best-sellers.
Como fica, por exemplo, a atuação dos
grupos móveis de fiscalização de combate ao trabalho escravo, criados em 1995 e
que se tornaram uma política do Estado? Lembrando que essa ação específica
sempre esteve na mira de grupos críticos ao que chamam de "excessivo"
rigor da lei.
Para quê fiscalização se o trabalho
análogo a escravidão será legalizado com as carteiras verde e amarela? Segundo
Paulo Guedes, a carteira de trabalho verde e amarela garantirá apenas três
direitos: férias remuneradas, 13º e FGTS. Os empresários não terão mais motivos
para não formalizar os seus trabalhadores. Direitos conquistados ao longo do
século 20, como salário mínimo, hora extra, vale transporte, aviso prévio,
seguro-desemprego, repouso semanal remunerado, salário-família,
licença-maternidade, licença-paternidade auxílio-doença, adicional noturno,
insalubridade e aposentadoria, serão suprimidos. No mais, a fiscalização é uma
das principais funções do MT. No entanto, grande parte do atual e do futuro
governo é composta por grupos empresariais responsáveis pelo trabalho escravo e
infantil no país, tanto no campo quanto nos centros urbanos. A União Democrática
Ruralista (UDR), uma das organizações de classe que mais apoiou o Bolsonaro,
chama de “indústria das multas de cunho ideológico” as equipes de fiscalização
do ministério.
Em relação às políticas públicas, o
que se pode esperar caso essa área específica fique mesmo sob o comando de
Paulo Guedes na Economia?
O principal objetivo do MT é pensar a
geração de emprego. No Brasil, hoje, há mais de 27 milhões de desempregados ou
subempregados e fica evidente que este quadro deve piorar. A política pública do
futuro governo, no âmbito do trabalho, nós já sabemos. É a criação das
“carteiras de trabalho verdes e amarelas”, idealizadas por Paulo Guedes. Uma
sequência lógica após a reforma trabalhista realizada pelo governo Michel
Temer. Em suma, ambas seguem a linha de muitas outras reformas realizadas
recentemente em grande parte do mundo, onde o trabalho intermitente e com
nenhum ou quase nenhum direito garantido, tem sido regulamentado. Em suma,
regulamenta-se a desregulamentação. É a legalização do trabalho análogo a
escravidão. É um mundo onde ser explorado (legalmente), tornou-se um
privilégio.
A partir da pasta do Trabalho se
elaboram também, por exemplo, normas técnicas de segurança e saúde no trabalho.
Essa função pode ficar comprometida?
Não tem como não ficar comprometida.
Temos uma média de 700 mil acidentes de trabalho por ano no Brasil. Ocupamos o
trágico quarto lugar no mundo em ocorrência de acidentes de trabalho, atrás
somente da China, Índia e Indonésia. Mais da metade da classe trabalhadora brasileira
necessita da hora extra ou faz jornada dupla, em casa ou em outro emprego.
Segundo o Dieese, há cinco anos, a classe trabalhadora brasileira realiza uma
média de 2 mil greves por ano. Somos um dos países que mais pulsa no mundo. Os
principais motivos para as greves são: atraso de salário (38%), reajuste (30%),
alimentação (18%), condições de trabalho (16%). Em suma, a quase metade da
classe que trabalha no Brasil reclama por salários atrasados, um quinto implora
por uma alimentação digna e outros 16% por mínimas condições de trabalho. Não
tem como o Brasil não ser um dos lugares mais perigosos para se trabalhar no
mundo e, com toda certeza, esse cenário só deve piorar com o futuro governo. Em
suma, tanto a fiscalização quanto a segurança do trabalho devem ser
menosprezadas, assim como já são pelo o atual governo.
E os recursos do FAT e do FGTS, como
ficaria sua gestão?
Aparentemente, os recursos do FAT e
do FGTS, capital da classe trabalhadora, deve ficar com a pasta da Economia, um
patrimônio de R$ 800 bilhões. Acenam revisar parte dos gastos obrigatórios e
Paulo Guedes, recentemente, se posicionou favorável a restringir e até acabar
com o abono salarial e com o seguro-desemprego. Em suma, mais direitos
suprimidos, um saque, à luz do dia, à classe trabalhadora brasileira.
Fonte: CUT
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