Muita gente se pergunta: onde foram
parar os patos amarelos do golpe de 2016? Outros tendem a ver os caminhoneiros
que param o Brasil como parte do movimento patolino. Estariam arrependidos do
que ajudaram a fazer com o país?
Sobre o tema, tenho dito o seguinte
(com base em pesquisas, dados, e também com base em o que ouço nas ruas):
– engana-se quem acha que os patos
estão “envergonhados”, ou que farão um movimento de sensatez, de volta ao
“centro”, ajudando a reconstruir o que Temer/PSDB transformaram em terra
arrasada;
– a tendência deles é achar que o
diagnóstico da época da derrubada de Dilma estava certo (“país socialista,
estado ladrão, o que vale é a meritocracia, privatiza tudo, porrada e bomba em
esquerdista, fora PT, morte aos sindicatos, isso aqui não é a Venezuela”) e que
Temer/PSDB foram e são incapazes de fazer o que precisaria ter sido feito;
– essa massa de patos na burguesia
(Flávio Rocha/Amoedo e outros são sintomas da doença), na classe média (“quero
meu Brasil de volta”) e na baixa classe média (taxistas, caminhoneiros,
autônomos de todo tipo – com as exceções de sempre) está à espera de um grito
ou toque de corneta que os reúna em torno de um novo movimento;
– acho que a greve de caminhoneiros
começou por uma questão econômica mas, assim como o passe livre de 2013, pode
ser capturada pela turma que quer dar um reboot no golpe (talvez tirando Temer
e instalando uma junta provisória com Maia, e aparência de legalidade –
garantida e chancelada por Justiça/militares). Parte desse projeto incluiria
aprovar PEC que adie eleições pra 2020. Assim, a centro-direita ganharia tempo
pra fazer a economia andar e pra gestar um nome palatável nas urnas.
Como disse o Renato Rovai outro dia:
se fizerem isso, eles vão tirar a máscara. Golpe ficará mais escancarado.
Não quer dizer que vão conseguir. Há
muita divisão do lado de lá. E há gente já mergulhada em projetos eleitorais
(Alckmin e Meirelles)…
A parte mais organizada da elite
golpista (bancos/Globo) sacou que ia dar merda e tentou fazer esse movimento de
ajuste no ano passado. Mas Temer inesperadamente soube resistir.
E agora “eles” (=elite que poderia
oferecer um novo “projeto” à massa disforme de patos) estão numa situação muito
difícil.
Há um setor que gostaria de manter
militares fora disso (não é à toa que os crimes da ditadura voltaram à pauta, a
partir de cima, e com grande alarde por parte de O Globo). Mas como a elite se
mostra incapaz de formular um plano mais “moderado”, a massa dos patos pode embarcar
num projeto mais maluco – sob apelo de uma intervenção militar.
A elite financeira sabe que seria
difícil sustentar isso (um governo da “ordem”, tutelado por militares e
Judiciário) por muito tempo, frente ao mundo. Mas a bagunça do lado de lá é tanta
que já há gente no mercado topando embarcar numa saída linha dura.
No meio de tudo isso, há o governo
morto, apodrecido. Maia já havia enterrado a privatização da Eletrobras (ultima
cenoura que Temer podia oferecer para se mostrar útil ao mercado). Agora,
Temer/Parente foram para o desespero porque o governo está se desfazendo e
toparam remendar a política de preços do diesel. A concessão veio tarde. Mas
pode ser suficiente para o objetivo medíocre de Temer: ele precisa ganhar tempo
até a Copa. Depois, vem um mês de “pra frente, Brasil”. E na sequência, eleição
(quem sabe…)
Se eu fosse apostar, diria que Temer
ainda se segura.
E, de certa forma, pra “nós”, acho
melhor que ele fique lá – caindo pelas tabelas.
Se “eles” conseguirem reorganizar o
bloco golpista (Temer/MDB são hoje entrave pra isso), a situação pode piorar
pro nosso lado.
No voto, eles não vão conseguir. E o
timing não ajuda a criar uma situação anômala pra suspender eleição.
Mas isso está na mesa. Há gente
pensando e trabalhando com essa hipótese. A greve caminhoneira surge como
aliada (talvez inesperada) dessa tática amalucada de refundar o golpe em outras
bases.
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