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Passei o dia tentando
Escrever uma poesia
Em louvor à minha mãe
Para festejar seu dia
Mas o meu barco de verso
Ficou à deriva imerso
Em um mar de nostalgia
Pensei naquele presente
Que não deu para comprar
Pois a grana estava curta
Também não quis parcelar
Se o momento é delicado
Decidi ficar ligado
E um pouco mais esperar
Percebi o quanto sou
Um ser privilegiado
Por ter sempre a minha mãe
Caminhando ao meu lado
Com o peito se abrindo em flor
Faz o meu jardim de amor
Viver sempre safrejado
Lembrei de todo carinho
Que ela comigo tem
Das lutas pra me guiar
Pelos caminhos do bem
Mas esses meus pensamentos
Mexeu com meus sentimentos
E deles fiquei refém
Do poema de mamãe
Perdi o rumo dos trilhos
E as torneiras dos meus olhos
Afrouxaram seus gatilhos
Pois comecei a pensar
Em tantas mães a penar
Com saudade dos seus filhos
As mães marginalizadas
Trituradas com cinismo
Nessa forrageira humana
Engraxada de egoísmo
Que marca as cartas do jogo
Espanca, mata e põe fogo
Em prol do capitalismo
De todas as mães indígenas
As donas deste Brasil
Que perderam suas terras
Da maneira mais hostil
E viram tombar seus filhos
Na dura lei dos gatilhos
Do bacamarte ou fuzil
As que vieram da África
Cruelmente escravizadas
Pelos senhores de engenhos
Torturadas e estupradas
Perderam filhos nos troncos
A mercê de seres broncos
Recebendo chibatadas
Daquelas mães sertanejas
No rol da desigualdade
Que a seca obriga o seu filho
Migrar pra grande cidade
E com o peito apertado
De lá recebe o recado
Morreu sem prosperidade
Das que viram seu jardim
De sonhos se esfacelar
E todo amor pelos filhos
Tiveram que abandonar
Pra não morrerem no abismo
Pela mão viu do machismo
Patriarcal, secular
Daquelas que não tem teto
Nas ruas da ingratidão
Tentando enrolar o filho
Com tacos de papelão
Travesseiro de tijolo
Sem leite, pão nem consolo
Nas garras da inanição
Lembrei-me também das mães
Vítimas da ditadura
Que tiveram filhos mortos
Numa sala de tortura
Sem compaixão nem respeito
Não tiveram nem direito
De pô-los na sepultura
Por essas eu chorei mais
Pois senti o bafo quente
Desse passado sombrio
Assombrando novamente
Num defensor das torturas
De golpe fazendo juras
Miliciano inconsequente
Nessas mães eu pude ver
Também minha mãe chorando
Ela ensinou-me a ser homem
E assim eu vou caminhando
Não temo milícia ou gangue
Posso derramar meu sangue
Porém morrerei lutando
Em todas as mães citadas
Vi a imagem de Maria
Mãos postas, ao pé da cruz
Na mais profunda agonia
Olhar tristonho, absorto
Fitando o seu filho morto
Pelas mãos da covardia.
Edcarlos Medeiros
Caicó/RN, 10 de maio de 2020.
Obs. "Grande poeta, grande homem e um excelente Agente de Cultura. Parabéns, amigo pela inteligência e amor pela cultura potiguar! Você é o cara!".
Eduardo Vasconcelos, agente de cultura de Nova Cruz/RN, presidente do Centro Potiguar de Cultura - CPC/RN; radialista, blogueiro e ativista.
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