Por Luis Nassif
No combate às drogas, ganhou corpo a política de redução de danos.
Consiste em permitir algum consumo de droga pelo dependente,
orientando-o sobre maneiras de não comprometer a saúde, enquanto se
tenta sua recuperação.
Na política, ainda mais nesses tempos de radicalização, se vive a
síndrome do tudo ou nada. É preferível perder de 10 x 0 do que recuar
para garantir um 5 x 2. Ou, vamos todos à câmara de gás, mas de cabeça
erguida.
O impeachment poderia ter sido uma lição, bastante custosa. Tinha-se,
na Câmara Federal, o pior candidato possível, Eduardo Cunha. Havia dois
caminhos a percorrer: uma tentativa de acordo ou o tudo-ou-nada.
Partiu-se para o tudo-ou-nada O governo perdeu as eleições para a
mesa e ficou sem um trunfo sequer para negociação. No momento seguinte,
não aceitou um acordo proposto por Eduardo Cunha. Esse purismo tardio
levou, no momento seguinte, ao boicote total da Câmara aos atos de
governo e, na sequência, ao golpe. Tivesse havido o acordo, o governo
engoliria muito sapo, tratando com o mais perigoso político da
República. Mas o golpe do impeachment teria sido mais difícil.
Agora, se tem um quadro em que a correlação de forças é totalmente
desfavorável à oposição. O antipetismo tornou-se uma força tão grande
que transcende o jogo eleitoral. Hoje há um pacto institucional
amplamente anti-republicano, com o Supremo Tribunal Militar, as Forças
Armadas, o Judiciário em geral, a mídia, impedindo qualquer recuperação
do PT e da “ameaça vermelha”. É o único fator, aliás, de coesão das
forças do golpe.
Em um quadro desses, como se comportar?
Um dos caminhos é considerar que, como tudo nasceu de um golpe, há
uma ilegitimidade ampla do sistema político. Não há como discordar. A
questão prática é outra: o que faço com isso? Se considera tudo
ilegítimo e se recusa a participar do jogo, o que resta à oposição?
Reclamar pelo Twitter, sem dúvida. Bolar frases de efeito, que possam
ser viralizadas. E espernear com o desmonte final dos sindicatos, da
legislação trabalhista, a criminalização final do PT. Será uma morte
inglória.
O segundo caminho é participar do jogo político. E, aí, entram as
eleições na Câmara e no Senado. Há um conjunto de fatores no caminho dos
atos heroicos:
1. Será difícil montar uma chapa puro-sangue e vencer as eleições, tanto para a Câmara como para o Senado.
2. Na hipótese remota de vencer, não leva. Sempre haverá um Luiz Fux,
um Dias Toffoli, uma Carmen Lúcia reinterpretando a Constituição e
mantendo o arbítrio. O absurdo da manutenção da prisão de Lula é o
exemplo maior de que não se pode raciocinar como se o país estivesse no
estado de direito.
O caminho alternativo é a composição, a redução de danos, visando os seguintes objetivos:
1. Fortalecer Câmara e Senado para que mantenham independência em relação ao Executivo.
2. Garantir espaço, na mesa, aos partidos de oposição.
É por aí que se insere a candidatura de Renan Calheiros ao Senado, ou
de Rodrigo Maia à Câmara. Maia sempre me impressionou mal. Mas Renan,
decididamente, não é um Toffoli ou uma Carmen Lúcia. Sabe pensar
estrategicamente e tem noção clara sobre a importância de preservar a
independência do Senado.
Há uma lógica pragmática por trás de quem busca a aliança. E uma lógica purista dos que não querem nenhum tipo de composição.
O ponto mais importante a se considerar é que ambos os campos são
constituídos de pessoas sérias. E é importante o debate e a troca de
argumentos.
O pior que poderia acontecer seria a ampliação dessa briga intestina e raivosa, consumindo a oposição,
Tem que começar a praticar a ampliação do pacto político contra a barbárie.
Fonte: jornalggn.com.br
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