domingo, 3 de junho de 2018

Vida e morte, juventude e velhice: as metáforas possíveis do golpe no filme O Processo. Por Renato Janine Ribeiro


Vi O processo, o filme sobre o processo de Dilma no Senado. Alguns comentários:
As imagens são fortes, muito bem filmadas. Gleisi é a estrela. É quem mais aparece. Ganha a tela, com sua firmeza acompanhada de modéstia e simpatia. Depois, Lindbergh, com seu tom combativo, e Zé Eduardo Cardoso, ótimo na fala como advogado.
O melhor momento é a fala de Gilberto de Carvalho, quase no final, quando avalia os erros do PT. É a fala mais densa. A última fala de Gleisi também é muito boa, quando diz, “entre nós”, que se Dilma ganhasse no Senado, não teria mais como governar com o Congresso.
E quando Dilma fala, ela é ótima.
As falas de Lindbergh e Zé Eduardo são brilhantes como falas.

Janaina aparece bastante. De todos os que apoiaram o golpe, é a única que aceitou aparecer. Não se oculta. O resultado é triste. Não senti raiva, mas compaixão. Está no meio das raposas, mas ela acredita no que diz e faz. Mesmo na informação absurda que lhe trazem dois antiabortistas, segundo a qual quem faz abortos nos outros acaba pagando aqui mesmo (o que pode ser crença de várias pessoas, mas não é fato atestado).
Ela abraça as pessoas com força.
Não tem vaidade: fiquei aflito com seu cabelo, que podia ser bem cuidado (isso, enquanto Gleisi tem até as sobrancelhas muito bem tratadas).

O que falta no filme: highlights. O filme tem muitos longos momentos vazios, recordando o que era chamado de “filme de arte” até a decada de 1980. Fica chato. Mas, sobretudo, desperdiça a chance de outras falas boas, especialmente análises.
Gilberto de Carvalho podia aparecer mais.
Espantosa a ausência de Mercadante, o cérebro político dos governos Dilma, sempre ligado a ela de perto, o que deixa a questão: houve uma estratégia para combater o impeachment? Ou ficou apenas nos discursos no Senado?
O filme mudará a opinião de alguém sobre o que aconteceu, ou apenas reforçará quem já é contra o golpe? Receio que não altere a posição de ninguém.

Finalmente, me lembrou o título de um livro de Norman O. Brown, celebrizado entre nós por Luiz Carlos Maciel, “Vida contra Morte”. O pessoal do golpe está do lado da morte, da coisa velha. O pessoal mais jovem, mais vibrante está do lado da vida, contra o golpe.
.x.x.x.
Ficha técnica:
TítuloO Processo (Original)
Ano produção2018
Dirigido porMaria Augusta Ramos
Estreia
17 de Maio de 2018 ( Brasil )
Outras datas 
Duração137 minutos
Classificação
Gênero
Países de Origem
Fonte: DIÁRIO DO CENTRO DO MUNDO - DCM

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