Presidente da Central Única das Favelas diz que eleitor de baixa renda deixou agenda “lei e ordem” de 2018.
O presidente da Cufa (Central Única das Favelas), Preto Zezé, disse que o eleitor brasileiro de menor renda será pragmático e se voltará a questões de inclusão social na escolha de seus candidatos nas eleições de outubro.
A declaração foi feita em entrevista ao Poder360, feita por videoconferência. Segundo Zezé, o eleitor abraçou a agenda da “lei e ordem” em 2018 como uma resposta à lacuna de pautas voltadas para a segurança pública nos governos petistas. Agora, deve retornar ao tema da inclusão social em 2022 como consequência do cenário social do país e de um sentimento de frustração com a pauta da segurança.
“Aquele eleitor que viveu o bem-estar de políticas inclusivas dos governos do PT migrou porque começou a ter muita violência nos territórios. E ele migrou por uma agenda desesperada, procurando arma, procurando ajuda. […] Agora, esse eleitor que saiu de um lugar e foi para outro, ele sente saudade. Quer retornar àqueles tempos de inclusão porque ele não conseguiu as armas para diminuir a violência, a economia não melhorou para ele, e tudo que prometeram daquela redenção não aconteceu”.
De acordo com o presidente da Cufa, criou-se no Brasil um consenso entre as forças políticas de que munição, cadeia, efetivo e viaturas são saídas para o problema da segurança pública. Em contraponto, Zezé defende a criação de políticas públicas estruturantes para crianças e adolescentes. Para ele, seria um início de uma mobilização para melhorar o cenário nas comunidades mais carentes.
“Na medida que você estrutura um território com políticas públicas de infância e adolescência, de creche, de escola, de desenvolvimento, você desloca a polícia para cuidar de problemas que só ela poderia cuidar”, diz.
Segundo Zezé, este é o eixo central no debate sobre segurança pública: os trabalhadores da segurança pública no Brasil estão sobrecarregados porque são deslocados de suas funções para enfrentar questões que deveriam ser vistas como problemas sociais. Ele avalia que o Estado brasileiro precisa “equilibrar lei e ordem com políticas de inclusão” de forma célere.
Além da questão de segurança pública, o presidente da Cufa diz que a realidade de fome e de desemprego vivida por milhares de brasileiros atualmente certamente estará na cabeça das pessoas ao escolher seu candidato. “O eleitor mais pobre migrará para quem pautar o enfrentamento da desigualdade”, afirma.
Em entrevista ao Poder360, Zezé disse que o tema da infraestrutura também deve pesar. Será um desdobramento dos milhares de desabrigados em diversos Estados nos últimos meses por conta de chuvas e problemas climáticos.
A maior parte dos desabrigados eram pessoas de baixa renda, de acordo com o presidente da Cufa. “Você não vê nenhuma casa ou prédio de luxo embaixo da água. Você vê pessoas trabalhadoras que perderam tudo que construíram a sua vida inteira”, disse.
Leia abaixo outros pontos abordados na entrevista:
DESDÉM DA CLASSE POLÍTICA
Zezé afirma que existem 3 tipos de políticos hoje quando o assunto são favelas: 1) aquele que nega a sua existência; 2) aquele que vê a favela como um problema em si e 3) aquele que de fato começou a entender que a criação de políticas públicas inclusivas, considerando a favela como um ambiente de potência, iria melhorar o ambiente para todos.
“Ainda há um desafio enorme da favela ser vista como investimento, como uma coisa positiva, como um ambiente de potência”, diz o presidente da Cufa.
Para Zezé, as organizações das comunidades ao redor do país precisam se organizar para defender seus interesses dentro do ambiente político.
Esse é um dos papéis da Cufa em ano eleitoral. A organização não participa das eleições, mas ajuda as comunidades a montarem uma agenda de prioridades.
SAÚDE PRESENTE NA ELEIÇÃO
A pandemia fez com que milhares de brasileiros percebessem a importância do sistema público brasileiro, o SUS (Sistema Único de Saúde).
O presidente da Cufa diz que o tema saúde terá um peso nas eleições porque as pessoas perceberam o tamanho do significado que é ter uma unidade básica de saúde à disposição.
Na avaliação de Zezé, não será o tema principal porque há outros problemas maiores na Economia do país nesse momento, mas fará parte dos debates e do pensamento do eleitor na hora do voto.
TRANSFERÊNCIA DE RENDA
A política de transferência de renda criada durante a pandemia na execução de pagamentos do auxílio emergencial se mostrou como um caminho para reduzir desigualdades, segundo Zezé.
Para ele é preciso discutir um programa permanente a respeito do tema, de modo a buscar saídas para reduzir o abismo da desigualdade social no Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário