A coluna de Janio de Freitas hoje na Folha deixa nu o terror que se avizinha, sob silêncio cúmplice ou alienado das Forças Armadas e da mídia corporativa: Bolsonaro arma a população e cria um exército sabe-se lá de que, mas com a intenção que ele já anunciou várias vezes, a de melar qualquer resultado que não seja sua reeleição.
O texto de Janio é histórico, claro, cristalino e vai ao ponto, porque nos mostra um país atônito, em choque, a ponto de não reconhecer o perigo que corremos na apreensão de imensa quantidade de armas e munições (26 fuzis AR15 e 556, três carabinas, 21 pistolas, dois revólveres, uma espingarda calibre 12, um rifle e um mosquetão, fora caixas de munições para fuzil, e até uma metralhadora de chão) de posse de um casal, tudo comprado dentro das novas leis que Bolsonaro comprou no Centrão, a custo de seu Orçamento Secreto.
Não
deixe de ler e divulgar este texto de Janio de Freitas:
As
eleições armadas
O incompreensível descaso com as medidas de
Bolsonaro para armar parte da população, sendo tantas as implicações nocivas
daí advindas, é tão ameaçador para o futuro próximo quanto a própria ação
armadora de Bolsonaro.
Recente descoberta no Rio indica que armas de
combate, modernas e caríssimas, estão entrando em alta quantidade e tomando
destinos imprecisos. Chegam em importações dadas como legais, amparadas
nos atos a respeito, repletos de lacunas, emitidos por Bolsonaro.
Com permissões para colecionadores, atiradores e
outros, um casal jovem importava lotes volumosos de armas, dezenas de fuzis
modernos e ainda metralhadoras, pistolas, revólveres e projéteis aos muitos
milhares. Dispensadas, agora, as autorizações e a vigilância do Exército. O
casal associava operações em Goiás e no Rio, onde foi localizada uma casa cheia
de armas em bairro residencial.
As alternativas permitidas pelas liberações de
Bolsonaro são tantas —registros pessoais e comerciais sem limite,
importações sucessivas, inexistência de fiscalização, entre outras— que um só
operador pode armar para combate todo um contingente. É o que está acontecendo.
Com quantidades ignoradas de importadores, de armas, munições e de
financiadores. Certo é não haver motivo, muito ao contrário, para supor
exclusividade do casal no fornecimento de armas bélicas.
A quem, é a questão mais importante. Aos bandos
conhecidos e à milícia, veio pronta a afirmação na única e precária notícia
policial (em O Globo de 26.jan) sobre o arsenal encontrado. Provável final de
um lote importante, os 26 fuzis e até metralhadora de chão, além de outras armas
e muita munição, indicam custo além do conveniente para aquela freguesia,
cliente dos preços no contrabando, solidários e sem impostos.
"Se não tiver voto impresso, não vai ter
eleição" pode ser uma frase simbólica dos tantos avisos públicos de um
propósito anti-eleitoral. Reforçado no que as atuais sondagens do eleitorado
sugerem. E já sonorizado na volta à mentira de fraude nas eleições de 2018. Tal
propósito não se consumaria no grito, nem deve contar com a sabotagem eleitoral
de outro Sergio Moro e de procuradores bolsonaristas à disposição de Augusto
Aras. Armas potentes, porém, se ajustam bem ao propósito.
As medidas de Bolsonaro para o armamento de civis
obedeceram a um plano. Mostrou-o a escalada em que se deram. Primeiro, a posse
doméstica, depois facilidades para o porte. Então os primeiros incentivos à
compra e às munições, com possível importação, e aí a posse ampliada. Até
chegar à compra de 60 armas por cabeça e mil projéteis por arma/ano. Sem
restrição a várias importações. Para atenuar o comprometimento do silencioso
Exército nesse plano sinistro, suas obrigações ligadas à posse de armas foram
extintas quase todas.
Essas medidas não vieram do nada para o à toa. São
uma denúncia de si mesmas e de suas finalidades criminosas. Fuzis e
metralhadoras não se prestam ao alegado "direito do cidadão de se
defender", argumento da má-fé de quem, assaltado, entregou sua arma, a
moto e a falsa valentia ao jovem assaltante.
As importações de fuzis e metralhadoras não são
suspeitas: são, com toda a certeza, armas para o crime. Contra pessoas, grupos,
instituições constitucionais e o regime de liberdades democráticas.
Estamos já no ano eleitoral. É preciso identificar
e comprovar o destino das armas de uso bélico importadas, em quantidade, por
decorrência de medidas programadas e impostas por Bolsonaro, sem resistência
institucional, dos meios de comunicação ou dos setores civis influentes. Do
contrário, quem puder, e tiver tempo, saia da frente dessas armas.
Fonte: https://www.blogdomello.org
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