Se é um governo democrático, tem que governar com o Parlamento. Afinal,
todos os grandes programas de governo tiveram e têm que passar pelo
Parlamento: Minha Casa Minha Vida, Bolsa Família, partilha do pré-sal,
etc. Governar com o Parlamento significa governar com os partidos. Se
os partidos cobram pelo apoio, isso faz parte da competição
institucional e está longe de significar, em si mesmo, um loteamento do
Estado. Não é uma visão cor-de-rosa, pois ainda assim existem abusos. O
que digo é que negociação, em si, faz parte da democracia.
Se um deputado briga pra caramba para conseguir uma UPP para sua
comunidade e ameaça não dar seu voto ou se ausentar do plenário na hora
da votação, o jornalismo político diz que esse cara só faz serviço de
clientela. Pode? — Sim. Eles estão lá para fazer esse serviço de
clientela do bem, respeitados os limites da boa educação política. É o
preço da democracia, e quem acha que sem ela não haveria corrupção é
muito ingênuo. Na democracia ateniense, que, a rigor, nem era tão
democrática, a venda de voto corria solta, nas ruas.
Nenhum governo é descaracterizado total nem mesmo sensivelmente pela
corrupção nele ocorrida. Pode parecer cínico, mas é o seguinte: caso não
houvesse qualquer corrupção, os governos JK, FH e Lula, para dar três
exemplos famosos, teriam sido exatamente o que foram, só que mais
baratos. Isso é para dar a noção de que, exceto em tiranias conhecidas, é
impossível submeter a democracia a desígnios de burocratas ou
políticos ou empresários corruptos.
Wanderley Guilherme do Santos
Postado por Contexto Livre
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