sábado, 4 de julho de 2020

2022 ou unir forças pela vida e pela democracia?

Nova rodada de pesquisa Datafolha confirma a grande resiliência de Bolsonaro e seu governo entre os brasileiros. Rejeitam o presidente 44%, enquanto 32% o acham bom ou ótimo, e 23%, regular. Para 46%, nunca é possível confiar no que ele afirma. Os dados de ótimo/bom acima da média nacional são 36% entre homens, 37% entre quem tem de 35 a 44 anos, 42% entre moradores do Sul, 37% entre brancos e 51% entre empresários, e – atençao – 37% entre quem não tomou conhecimento da prisão de Fabrício Queiroz. Na ponta ruim/péssimo, são 48% entre mulheres, 54% entre quem tem de 16 a 24 anos, 53% entre quem tem ensino superior, 52% entre moradores do Nordeste, 55% entre pretos, 67% entre estudantes. Dos que tomaram conhecimento do caso Queiroz, pelo contrário, 53% declara nunca confiar em Bolsonaro.
A curva continua, a luta segue, esse talvez seja a conclusão mais uma vez. Até quando?
Essa resiliência Lula já a havia registrado, ainda mais forte que Bolsonaro. É um fenômeno que revela a alma profunda dos brasileiros. Na grande massa da população, dos que mais sofrem a desigualdade social, pai do pobres ou justiceiros têm seus seguidores. Mesmo que, no caso, um de orientação profundamente democrática e em defesa do interesse nacional, e outro de tendências fascistizantes e que desmoraliza a nação perante o mundo.
Não é um mistério, afinal. Mas Lula, sob todos os ângulos, entregou muitas conquistas históricas, cumpriu mais ainda do que propôs. Bolsonaro não entrega, ele destrói, segundo suas próprias palavras, para, dos escombros, reconstruir algo – por que mereceria resiliência uma obra destruidora?
Para se ver uma coisa central: o quanto teve que ser pesada, prolongada e cruel a campanha contra Lula para quebrar sua resiliência nas pesquisas (mesmo assim, parte ainda hoje remanescente). Lula, no episódio do Mensalão de 2005, por exemplo, se disse “traído” e o povo aceitou essa explicação.
Precisou ser atacado diuturnamente, política e moralmente, para permitir que fosse levado a juízo, e apenas quando entrou em campo a acusação de corrupção – totalmente controversa nos casos de posse de apartamento em Guarujá e sítio em Atibaia. Quer dizer, supostamente beneficiou-se em proveito próprio da condição de líder.
É certo que foi, a todos os títulos, um juízo de law fare, sob a batuta de Moro (a ponta de lança do establishment), que acabou pondo no alvo do ataque todo o sistema político. Desse pântano nasceu Bolsonaro. O eleitor ficou ressentido com a experiência progressista.
Hoje o feitiço pode se voltar contra o feiticeiro. Bolsonaro, está em marcha batida para o isolamento progressivo. O Brasil está indo à breca, o povo paga o preço das crises, a democracia é vilipendiada, miasmas fétidos exalam do governo e do gabinete do ódio. Pode ser que mais uma vez se necessite a evidência de corrupção envolvendo explicitamente o pai e os filhos do clã para quebrar a resiliência nas pesquisas. Mas falsidades repetidas têm pernas curtas, o processo de degeneração de sua força já está em curso. E o governo não tem o que entregar.
É sempre tormentoso o processo do eleitor em constatar o eventual erro de seu voto – seria o terceiro impeachment da Nova República. Sempre está disposto a dar um crédito de confiança, aguardar, pagar para ver. O que deve ser menos tormentoso, para políticos experientes, é não subestimar a estratégia de Bolsonaro de nenhuma maneira e o perigo que representa para as instituições.
A “roda girou”, a lanterna não pode estar na popa. Para isso, a saída é efetivamente defender os interesses imediatos do povo, unir na ação a maioria da sociedade pela vida e pela democracia ameaçada, independentemente de qual seja sua posição passada, sua ideologia e sua visão de futuro. É preciso juntar forças! Isso explica o clamor para que Lula se integre a essa política de frente ampla pela vida e democracia. Até seria o melhor caminho para que fosse alvo de um justo julgamento, não faccioso, nem manipulado. Lula, afinal, foi um grande aliancista, não é mesmo?
De todo modo, custa a crer que setores da esquerda brasileira possam perder tempo atacando a política de frente ampla, preferindo embarricar-se em prol de 2022 – quando não se distingue nem sequer o que ocorrerá nos próximos seis meses. Por que, atacar a união de amplas forças para resistir e vencer, num momento evidentemente mais desfavorável? Não há caminho melhor para encerrar o mandato de Bolsonaro antes de 2022.
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Caio Conrad é publicista e ativista social.

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