Haddad, prefeito de São Paulo
BERNARDO
MELLO FRANCO
MORRIS KACHANI
DE SÃO PAULO
MORRIS KACHANI
DE SÃO PAULO
O candidato era
novo, o slogan prometia um tempo novo, mas a candidatura parecia um carro
velho, daqueles que custam a pegar.
Fernando Haddad demorou tanto para subir nas pesquisas que até os
petistas mais empolgados duvidaram, em algum momento, de suas chances de vencer
a corrida à Prefeitura de São Paulo.
Lançado pré-candidato em agosto do ano passado, ele levou um ano
para chegar aos dois dígitos nas intenções de voto. Os números desanimavam quem
mais precisava transmitir confiança a militantes e eleitores nas ruas.
"Cheguei a duvidar da possibilidade de o PT abraçar minha
candidatura", disse Haddad na semana passada.
"É
difícil. Quando você passa tanto tempo com 3%, parece que não vai chegar nunca
a 50%", emendou na madrugada de ontem, depois do debate final na TV Globo.
Turbinado
pela presença maciça do ex-presidente Lula na propaganda eleitoral, Haddad
chega às urnas como favorito para bater José Serra (PSDB), maior rival do
petismo na última década.
Se
confirmada, sua vitória será um triunfo pessoal do padrinho, que contrariou
aliados ao dobrar a aposta que deu certo há dois anos com outra estreante em
eleições, a presidente Dilma Rousseff.
"Até
quem não gosta de Lula precisa reconhecer que ele tem intuições geniais. Foi o
que aconteceu com a escolha do Haddad", exalta o ex-ministro Paulo
Vannuchi, conselheiro político e diretor do instituto do ex-presidente.
"Havia
uma vontade muito grande de mudança e renovação, e ele conseguiu representar
isso para o eleitor."
Ministro
da Educação entre julho de 2005 e janeiro de 2012, Haddad foi forçado a mudar o
estilo, as roupas e o comportamento para desempenhar o papel de candidato.
Nos
primeiros meses de campanha, ele se dizia incomodado com a tarefa de pedir
votos e, em muitas ocasiões, não estendia a mão para cumprimentar os eleitores.
"Quando
você é ministro em Brasília, corre o risco de se achar mais importante e
popular do que efetivamente é", comenta o coordenador-geral da campanha,
vereador Antonio Donato (PT).
Haddad
também teve que se acostumar rapidamente com os conselhos de dezenas de
políticos, marqueteiros e assessores que nunca havia visto nos tempos do MEC.
Donato
diz que ele é "muito autoconfiante, um problema que a gente tem que vigiar
sempre".
DIVERGÊNCIAS
O
publicitário João Santana, responsável pelas últimas duas campanhas
presidenciais do PT, foi escalado para orientar o ex-ministro.
Eles
se falaram quase todos os dias e bateram cabeça em ao menos um momento crucial
da campanha, quando petistas buscavam uma fórmula para investir contra Celso
Russomanno (PRB).
Santana
temia que um ataque ao rival, que liderou as pesquisas até o início deste mês,
pudesse favorecer um segundo turno entre o azarão e Serra. Haddad defendeu uma
ofensiva contra a proposta de criar uma tarifa proporcional para os ônibus.
A
ideia foi sugerida por um colaborador e endossada por Russomanno, que não
atendeu a apelos de aliados para voltar atrás. Vencido o obstáculo, o petista
diria que só precisou dar "um peteleco" para desmontar o adversário.
Empolgado
com a liderança nas últimas pesquisas, Haddad mudou de novo na reta final.
Trocou o estilo "paz e amor" do primeiro turno por um tom mais
agressivo em entrevistas e debates.
Anteontem,
quando usou tom professoral com Serra, alguns aliados consideraram que ele
exagerou e passou imagem de arrogância.
O
candidato diz que apenas se defendeu dos ataques do tucano, que tentava
associá-lo a petistas condenados no julgamento do mensalão.
"Não
aguentava mais chegar em casa, ligar a TV e ver o Serra me atacando."
No
dia seguinte, Haddad teria mais uma amostra do seu "tempo novo" de
favorito ao fazer campanha no centro, reduto eleitoral do PSDB.
Numa
passagem rápida pelo largo do Arouche, foi assediado por eleitores, passageiros
de ônibus e motoristas que chegaram a parar o trânsito para cumprimentá-lo.
O
petista, que há poucos meses temia não superar o anonimato, agora é tratado nas
ruas como celebridade.
Editoria de Arte/Folhapres
s
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