A adoção de medidas abrangentes levarão a ações mais eficazes para tornar menos normalizado o consumo de um produto nocivo, diminuir sua demanda e promover a saúde das pessoas e do planeta
Laura Cury e Marcello
Baird*
No momento em que a humanidade enfrenta a pior
crise de saúde, descobrindo como tratar e controlar a pandemia da Covid-19,
surgem várias discussões sobre os aspectos ambientais ligados ao aumento das
pandemias. Especialistas vêm alertando que futuras pandemias surgirão e, com
mais frequência, matando mais pessoas e causando mais danos à economia se não
mudarmos algumas maneiras como vivemos em sociedade.
Já vivemos hoje o que se chama de sindemia, termo
criado para descrever pandemias simultâneas. Vivemos, assim, um encontro de
pandemias, inclusive as de doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs), que
agravam o quadro de pessoas acometidas pela Covid-19. Um importante fator de
risco para essas doenças, que incluem câncer, doenças respiratórias e
cardiovasculares, é o tabaco. Já se conhece bastante sobre o impacto do tabaco
na saúde, discute-se mais seu custo na economia, principalmente agora, no
âmbito das discussões sobre a Reforma Tributária. Entretanto, seu impacto ambiental
ainda precisa ser mais amplamente reconhecido e divulgado.
A indústria do tabaco prejudica o meio ambiente de maneiras que vão muito além dos efeitos da fumaça que os cigarros lançam no ar. Anualmente, 4,5 trilhões de bitucas ou guimbas de cigarro são espalhadas em todo o mundo, totalizando 760 mil toneladas de lixo tóxico. O cultivo, a fabricação e a entrega aos varejistas de tabaco acarretam graves consequências ambientais, incluindo o desmatamento, o uso nocivo de agrotóxicos, já que o cultivo do tabaco está entre as dez culturas que mais requerem fertilizantes, combustíveis fósseis e o despejo ou vazamento de produtos residuais na terra e nas águas, afetando flora e fauna. Vários países produtores de tabaco também apresentam insegurança alimentar, já que a terra usada para o cultivo de tabaco poderia ser melhor aproveitada para a produção de alimentos. Do início ao fim, o ciclo de vida do tabaco é um processo extremamente poluente e prejudicial.
Em 2017, a Organização Mundial da Saúde publicou o
relatório Tabaco e seu Impacto Ambiental: Uma Visão Geral, em que alertou para
o custo gerado pela indústria do tabaco, que não é só econômico, já que a
atividade, desde a produção até o consumo, contribui para a perda de
produtividade resultante da saúde precária do agricultor e do consumidor, perda
de biodiversidade e para a mudança climática.
Reduzir o uso do tabaco e mitigar seus males
ambientais, aponta o relatório da OMS, vai depender de novas ideias e
parcerias. O apoio de vários setores, envolvendo saúde, meio ambiente,
agricultura, trabalho, comércio, finanças, entre outros, será necessário para
lidar com os impactos, também ambientais, da produção e do uso do tabaco,
sempre com proteção aos conflitos entre os interesses privados e as políticas
públicas.
A inclusão explícita de uma meta (3.a) de redução
do tabaco nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas
evidencia o tamanho do problema. A adoção de medidas abrangentes, incluindo a
atribuição de responsabilidade pelos riscos ambientais criados pela indústria,
levarão a ações mais eficazes para tornar menos normalizado o consumo de um
produto nocivo, diminuir sua demanda e promover a saúde das pessoas e do
planeta. Afinal, a conta não fecha.
(*) Laura Cury, assessora
de relações internacionais da ACT Promoção da Saúde e Marcello Baird, coordenador
de advocacy da ACT Promoção da Saúde.
Fonte: Jornalistas
Livres
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