Por Celso Lungaretti
Embora este blog não considere coerente com sua linha editorial a reprodução de editoriais da grande imprensa — e menos ainda os da Folha de S. Paulo! — abrirá uma exceção para o desta 4ª feira (8).
O motivo não é a qualidade intrínseca do editorial nem o ineditismo daquilo que ele coloca (muitos e muitos articulistas já fizeram afirmações semelhantes), mas sua acentuada contundência, dificilmente vista em posicionamentos dos veículos que portam a voz da classe dominante.
Ou seja, se um jornal como a Folha solta os cachorros de tal maneira, é porque já deve estar esgotada a paciência dos poderosos com o atual desgoverno; e, se assim for, decerto haverá outras consequências além da diatribe em questão.
Antes mesmo do 1º turno da malfadada eleição presidencial, eu já afirmava que um eventual mandato de Bolsonaro tinha tudo para repetir as maluquices do de Jânio Quadros e durar tão pouco quanto aquele. Cada vez se reforçam mais os augúrios de que será isto mesmo que vai acontecer.
Ao editorial, pois!
FÁBRICA DE CRISES
Com o Brasil ameaçado pelo retorno da recessão, já deveria estar clara para as lideranças a relação entre fiasco econômico e instabilidade política. Deveria, mas não está, como o demonstra o comportamento do presidente da República.
Jair Bolsonaro é fonte de incertezas. Sob seu comando, o Planalto desponta como a mais prolífica fábrica de crises nacionais.
O supremo mandatário estimula bate-bocas sobre o nada, promove futricas acerca de coisa nenhuma, desperdiça tempo a adular uma facção amalucada, na qual estão incluídos seus filhos, que deliram numa cruzada de botequim contra a elite das Forças Armadas.
Neste fim de semana, a comunicação do presidente da República foi o veículo de nova estocada dessa banda de lunáticos contra o ministro Carlos Alberto dos Santos Cruz.
Instado pela exumação de trecho de uma entrevista velha do general e pela leitura enviesada também inventada por aquela franja de boçais, de que ele ali defendera o controle de mídias sociais, o chefe do Executivo publicou uma admoestação oblíqua ao seu ministro.
Seu governo, escreveu Bolsonaro, não promoveria regulação das redes sociais. Àquela altura, Santos Cruz já era alvo de mais uma campanha de insultos, promovida entre outros pelo ideólogo Olavo de Carvalho, que nada costuma fazer apartado dos filhos do presidente, em especial do vereador Carlos.
A incapacidade, ou a falta de vontade, de Jair Bolsonaro de colocar um freio na sua turma reforçou-se nesta terça (7), quando voltou a divulgar palavras de admiração a Olavo, que fora criticado pela maior liderança moral do Exército, o ex-comandante e general da reserva Eduardo Villas Bôas.
O tal guru presidencial não se fez de envergonhado e pôs-se novamente a enxovalhar o comando do Exército, criticando-o por escudar-se num “doente preso a uma cadeira de rodas” —Villas Bôas sofre de uma doença degenerativa.
De um copo d’água, Jair Bolsonaro conseguiu fazer outra tempestade. Inimigos do Congresso, do Supremo e dos corpos regulares do Estado, os celerados do Twitter esfregam as mãos. Com a ajuda do presidente, expuseram oficiais das Forças Armadas, dentro e fora do governo, à humilhação.
A saída do governo de quadros como Santos Cruz significaria um triunfo para esse nicho autoritário. A sua permanência, no entanto, torna-se cada vez mais custosa, dada a doçura que o chefe de Estado dispensa aos arruaceiros que orquestram a difamação dos oficiais.
Tudo isso reforça a percepção geral de bagunça e falta de rumo no governo federal. O Brasil não retomará o crescimento nesse ambiente. Arrisca-se, pelo contrário, a enveredar por uma nova espiral de destruição de renda e empregos.
Postado por celsolungaretti
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