por celsolungaretti
Quando, na década passada, contingentes
da nossa esquerda tomaram partido por uma facção de ganguesteres do
capitalismo, de preferência à outra que com ela travava uma disputa mafiosa
pelo florescente mercado de telecomunicações, fui um dos poucos articulistas a
alertar que tal imbróglio não nos dizia respeito e nele não havia ninguém com
quem devêssemos nos alinhar..
De inocente útil chegava o
delegado Protógenes Queiroz, que tirou as batatas do fogo enquanto um
ex-superior dele, alinhado com uma das quadrilhas litigantes, evitava queimar
as mãos. Detonou sua carreira policial, mas ganhou inesperado prêmio de
consolação: uma cadeira na Câmara Federal... pela legenda do PCdoB!
A tal populismo rasteiro se reduzia um
partido que ousou pegar em armas contra a ditadura militar. E não estava
sozinho: o Psol também estendeu o tapete vermelho para o ingênuo delegado
Brancaleone, sendo preterido daquela vez.
Foi quando recoloquei em circulação
uma conclusão definitiva do Paulo Francis sobre o udenismo e o golpismo de
meados do século 20: "O combate à corrupção é uma bandeira da
direita" (mais tarde, cunhei eu também um bordão nessa linha, "a
corrupção é intrínseca ao capitalismo").
Eis minha argumentação de quase 10
anos atrás (abril/2009):
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Protógenes: fox
terrier no meio de uma briga de cachorro grande
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"...as intermináveis denúncias
de corrupção acabam minando as esperanças do cidadão comum na transformação da
realidade por meio da ação política. Se tudo não passa de um lodaçal, as
pessoas de bem devem mesmo é cuidar de sua vida...
De quebra, fornecem pretextos para
quarteladas, sempre que os meios de controle democráticos das massas não estão
funcionando a contento.
Então, Paulo Francis dizia e eu
assino embaixo: denúncias de corrupção política são bandeira da direita, que
acaba sendo sempre sua beneficiária final, a despeito dos ganhos momentâneos
que proporcionem à esquerda.
Esta deveria, isto sim, demonstrar
que o capitalismo em si causa prejuízos imensamente maiores para o cidadão
comum do que os desvios de recursos dos cofres públicos; e que a moralização da
política não se dará com medidas policiais, mas sim com uma transformação maior
da sociedade.
Não o faz. Desatinadamente, algumas
de suas tendências reforçaram as denúncias que culminaram no suicídio de
Getúlio Vargas em 1954 e as que deram pretexto à ditaredentora de 1964 (que, claro, nada mudou
exceto a relação dos beneficiários do butim).
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1954, 1964,
2016/18... o que somos, desmemoriados ou idiotas?
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Agora, o PSOL chega a acompanhar o
apocalíptico delegado Protógenes Queiroz em sua tentativa de implodir o
sistema, provocando uma crise que não deixaria pedra sobre pedra no Executivo,
Legislativo e Judiciário.
Ingenuamente, parece crer que se
beneficiará com o descrédito absoluto das instituições, sem perceber que isto
criaria, isto sim, cenários favoráveis ao golpismo de extrema-direita.
Então, digo e repito: em vez de pegar
carona nos temas que a imprensa burguesa prefere magnificar, cabe à esquerda
definir sua própria pauta e explicá-la aos cidadãos.
A corrupção política não é nossa
prioridade, mas sim o combate ao capitalismo, verdadeira raiz dos principais
males que infelicitam os brasileiros.
Precisamos ter a coragem de
assumir a posição correta diante do povo, ao invés de tentar combater o inimigo
num jogo de cartas marcadas, travado no terreno que só a ele convém".
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E por que a corrupção não pode ser
erradicada sob o capitalismo? Porque este coloca como prioridade máxima da
existência humana o enriquecimento individual, a vitória na luta de todos
contra todos por um lugar ao sol, ainda que pisando no pescoço da mãe para
alcançar tal intento, como diria o Brizola.
Se esta é a lógica do sistema, sempre
haverá quem busque atalhos para alcançar o objetivo à margem das regras que o
próprio sistema estabelece mas manda às favas quando lhe convém.
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A repulsiva prática
da agiotagem era condenada. Bons tempos!
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[Vale lembrar, p. ex., que a
Inglaterra já chegou a estimular a pirataria contra a Espanha e que a repulsiva
prática da agiotagem era condenada pela Igreja Católica na Idade Média, mas
hoje são os agiotas modernos, vulgo banqueiros, que mandam e
desmandam no capitalismo, com a conivência eclesiástica, a ponto de o Perdoai
as nossas dívidas assim como perdoamos os nossos devedores do Pai Nosso haver sido alterado para Perdoai as nossas
ofensas assim como perdoamos a quem nos tenha ofendido...]
Então, a alternância de cruzadas
moralizadoras com períodos em que a corrupção corre solta dá a tônica do
capitalismo. Revolucionários não deveriam jamais vergar-se aos estados de ânimo
popular produzidos pela lavagem cerebral permanente do sistema, mas sim
esclarecer corajosamente seus públicos que todas as Lava-Jatos cumprem a
mesmíssima função de enxugar gelo e, enquanto a ilusão não se desfaz, alavancar
golpes de estado, impeachments, vitórias eleitorais de demagogos grotescos e
outros desdobramentos nefandos.
Foi o filme a que assistimos no
Brasil ultimamente. E que devemos ajudar a tirar de cartaz antes que produza
mais aberrações.
É fundamental, p. ex., darmos total
apoio ao Supremo Tribunal Federal (mesmo que lhe guardemos ressentimento por
decisões anteriores) na luta contra os procuradores da Lava-Jato e os aloprados
fascistoides do bolsonarismo.
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Prazo de validade
vencido explica passo em falso
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Os primeiros, apropriadamente
apelidados de tenentes togados, alçaram-se a
alturas insuspeitadas durante a caça às bruxas (quer dizer,
a caça aos corruptos) e tudo fazem para não voltar à estatura anterior, agora
que sua utilidade caducou. Daí suas canhestras tentativas passadas, em parceria
com Rodrigo Janot e Joesley Batista, de derrubar Michel Temer e o esforço atual
para solapar a autoridade do Supremo.
Perderão, claro, pois lhes falta o
essencial para se perpetuarem em posição dominante: uma base econômica.
Não são uma classe, nem um setor da
economia ou parte dele, apenas pessoas cujo poder advém dos cargos transitórios
que ocupam. Ainda que conseguissem dispor, para seu projeto de poder, dos US$
2,5 bilhões da Petrobrás que tentaram garfar, ganhariam algum
fôlego mas acabariam fracassando do mesmo jeito no fim da linha.
Só que, com sua ambição desmedida,
podem produzir muito estrago antes da derrocada definitiva. Todo cuidado é
pouco, pois, talvez até sem que o percebam, o ponto de chegada dos seus
esforços é... um estado policial (não necessariamente sob o controle deles)!
Quanto aos bolsonaristas de raiz e
aos olavetes, já devem ter percebido que seus desvarios
boçais e ignaros serão limitados pelo poder econômico (ao qual não convém que o
Brasil se torne um país-espantalho, pois isto prejudica os negócios, sobretudo
com o exterior) e pela quase nenhuma disposição por parte dos militares, de
embarcarem numa roubada igual à de 1964.
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Governo-barafunda não
durará nem mais seis meses
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Então, essa gente só poderá
prevalecer se conseguir criar tamanho caos que as Forças Armadas sintam-se
obrigadas a intervir .
Se a esquerda mantiver muita calma
nesta hora, evitando cair nas provocações desses desvairados, tudo indica que
finalmente o Olavo de Carvalho verá uma de suas bombásticas previsões tornar-se
realidade: a de que o governo atual não durará nem mais seis meses.
Pois está derretendo a olhos vistos!
Fonte https://naufrago-da-utopia.blogspot.com
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