sábado, 6 de outubro de 2018

Saúde - Eleições 2018 - Como lidar com a ansiedade em tempos de eleição?

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A psicóloga Ana Maria Rossi dá dicas para fugir do baixo-astral nos dias que antecedem o pleito.
Pessimismo, agressividade e medo – as eleições deste ano parecem ter dividido e exaltado ainda mais os ânimos do que em 2014. Embora treze candidatos concorram à Presidência, boa parte dos eleitores se divide entre os dois candidatos que lideram a pesquisa, Fernando Haddad, do PT, e o ex-militar Jair Bolsonaro, do PSL.
Cada eleitor tem seus receios – medo da violência, medo do fim da Lava Jato. E se acabam com a enxurrada de informações, bate-boca e notícias falsas pelas redes sociais. Como lidar com esse stress e depressão pré e pós-eleição? A psicóloga Ana Maria Rossi, presidente da International Stress Management Association no Brasil (ISMA-BR) dá dicas de cuidado com a saúde mental. Leia abaixo a entrevista.
CartaCapitalOs ânimos andam muito exaltados nesta eleição, um sentimento negativo maior. Por que isso acontece?

Ana Maria Rossi: Eleições sempre trouxeram ansiedade, incertezas. Mas, dessa vez, com a polarização, muitos eleitores se veem tolhidos de exercer suas escolhas. Sabem o que querem, mas vejo que não é uma eleição para eleger. É uma eleição para derrotar. Só esse propósito já cria uma maior animosidade. Porque não votam em quem querem, estão indo contra o que acreditam só para evitar a vitória de um candidato. E isso acaba polarizando mesmo, sem dar perspectivas a outros candidatos.

CC: Essa ansiedade está pior dessa vez?

AMR: Parece que sim. Há uma conotação emocional forte. É uma eleição muito movida pelo ódio, pela agressividade por todos os cantos. Eu não uso redes sociais, nem celular, mas outro dia encontrei um conhecido na garagem e ele me mostrou uma mensagem que enviaram à Manuela D’Ávila. A pessoa dizia ‘você é minha fonte inspiradora’. Ela agradeceu pelo carinho e a resposta dele foi: “você é minha inspiração porque se uma jumenta como você pode ser vice-presidente, sei que posso ser qualquer coisa na vida”. São exemplos dessa agressividade. E isso gera medo de que a pessoa que você apoia não ganhe as eleições. E antecipam o futuro. Ficam com medo do caos se um ganhar, da ditadura se o outro ganhar.

CC: Quais são as consequências físicas e mentais que você tem percebido em alta nestas últimas semanas?

AMR: O que tenho visto no consultório é que relatos de pessoas com mais dor de cabeça, bruxismo, desconforto muscular, maior dificuldade para dormir. Alguns sonham que o mapa do Brasil está se quebrando ao meio. Outros sonham com militares. São sinais claros de stress. Emocionalmente, vejo as pessoas muito mais ansiosas com os medos “será que se fulano ganhar...” e “se o outro fulano ganhar”. É isso que gera a ansiedade e deixa pessoas mais agressivas. Elas têm usado mais medicamentos – para dormir, por exemplo –, ou quando deveriam tomar um comprimido, tomam dois, e abusado mais do álcool.  

Parece ter aumentado os relatos de violência com pessoas LGBTs nas redes sociais. É uma consequência do discurso de intolerância pregado por Bolsonaro e seus apoiadores?
Talvez sim. Eu não tenho acesso às redes sociais, então não acompanho essas histórias. Não dá para dizer se essa "permissão" à violência reflexo na realidade. Outros partidos também passa, às vezes, discursos mais agressivos. É uma situação muito complicada.

CC: Como amenizar esse stress causado em épocas como essa?

AMR: Limitem a exposição às mídias, fuja das polêmicas, desligue as redes sociais. Procurem as informações realmente relevantes, os projetos de seus candidatos. E se afaste do resto, filtre apenas o necessário. Evite discussões com familiares muito exaltados que possam gerar conflitos. Busquem atividades físicas e relaxantes. E parem de pular para o futuro, antecipando possíveis catástrofes. Isso aumenta ainda mais a ansiedade.

Fonte: CARTA CAPITAL

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