sábado, 31 de março de 2018

31 de março. Há 54 anos, o golpe militar de 1964



Hoje, 31 de março, completam-se 54 anos do golpe militar de 1964 que tirou João Goulart da Presidência da República. A Revolução, como ficou conhecido o movimento, permaneceu no poder até 1985. Com a deposição de Jango, vários marechais e generais sucederam-se no comando do Palácio do Planalto. O primeiro foi o marechal Humberto Castello Branco, seguido pelo também marechal Arthur da Costa e Silva. Depois foi a vez de uma junta militar composta por um general, um brigadeiro e um almirante. Em seguida, os generais Garrastazú Médici, Ernesto Geisel e João Figueiredo presidiram o Brasil.
Durante os 21 anos do regime militar, o Congresso foi fechado duas vezes, houve cassação de mandatos de vários políticos, repressão às pessoas contrárias ao golpe, prisão de líderes, tortura em quartéis, mortes, banimentos, restrição às liberdades de reunião e livre expressão, com censura aos meios de comunicação. No período do general Geisel teve início o processo de distensão e abertura política, concluída nos tempos do general Figueiredo. Assim, muitos exilados do Exterior puderam retornar ao Brasil e reintegrar-se à vida política.
Em 1985, por fim, pudemos viver o período de redemocratização, com os civis voltando ao poder, a ocupar novamente o Palácio do Planalto.
Essa imagem aí, de autoria do meu amigo Evandro Teixeira, entrou para história como uma das primeiras a dar face ao golpe militar de 1964. Evandro, à época fotógrafo do Jornal do Brasil, nos conta como conseguiu fazê-la:
O Capitão Leno, que servia no Forte de Copacabana, era meu amigo dos jogos vôlei de praia no Posto 6, onde morávamos. Sabia que estava em curso o movimento para derrubar o governo de Jango. Era ainda a madrugada do dia primeiro de abril quando ele passou em minha casa e disse-me:
– Evandro, tal como eu lhe disse ontem, 31 de março, golpe está acontecendo. E nesse momento está consolidado. Já estou fardado e indo para o quartel. Se você quiser, ajudo a entrar comigo. Fique do meu lado, quando eu bater continência para o guarda sentinela, você se adianta e entra no quartel.  Fique sério porque a situação é grave. Esconda sua câmara sob o colete e seja discreto.
E assim fizemos. Antes, porém, de entrar no Forte, ainda no portão, observei essa cena aí, do soldado com fuzil das costas sob a chuva e, em primeiro plano, uma canhão de reboque. Fiz um ou dois clics e tirei o filme. Coloquei outro e entramos.
Logo depois, já com os primeiros raios de sol, chegava o general Castello Branco, líder do movimento. No comando do quartel, todos queriam fazer uma foto com ele. E o mais interessante é que alguns coronéis, majores e capitães, achando que eu fosse fotógrafo do Exército, pediram que eu registrasse uma pose com o novo presidente do Brasil.
Assim, consegui fazer algumas fotos. Porém, por precaução, o meu amigo capitão Leno, deu-me um sinal com uma piscada de olhos, com receio de que eu – fotojornalista e civil – fosse descoberto e com certeza acabasse preso. Entendi o risco que eu corria e, sobretudo, a importância daquele momento. Dei-me por satisfeito e saí discretamente. Eu não podia imaginar que havia feito uma das primeiras imagens do golpe militar que militar que acabou governando o País por 21 anos.
Só lamento que as fotos do segundo rolo de filme, as do marechal Castello com seu estado-maior, tenham desaparecido nas mudanças de endereço que o JB teve ao longo de sua história. Uma grande perda.
Orlando Brito

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