Leonardo Sakamoto
Dificilmente a última
denúncia do procurador-geral da República Rodrigo Janot contra Michel Temer irá
afastá-lo do cargo para que seja julgado pelo Supremo Tribunal Federal.
Ironicamente
essa informação deveria levar a maioria dos trabalhadores brasileiros ao
desespero. Porque, para permanecer ocupando o Palácio do Planalto, ele e seu
grupo político vão rifar a qualidade de vida da população através do apoio a
propostas no Congresso Nacional de interesse de deputados e seus
patrocinadores.
A peça de
acusação da Procuradoria-Geral da República tem poder suficiente para causar
problemas a ele e, consequentemente, a nós. Porque quanto maiores e
mais sólidos forem os indícios de obstrução de Justiça e de organização
criminosa da necessária denúncia também será o custo cobrado pelos nobres
parlamentares para livrarem-no da forca. O fato dela apresentar muitas
pontas soltas significa desconto no preço a ser pago, mas não leva à gratuidade.
Mesmo que o
Palácio do Planalto não tenha dinheiro para emendas ou cargos disponíveis
a fim de oferecer aos deputados federais que salvarem o excelentíssimo pescoço
da guilhotina (ele ainda está pagando a fatura da última sacanagem), ainda
assim poderá oferecer apoio para mudanças de leis, regras e normas,
reduzindo a proteção dos trabalhadores, das populações mais vulneráveis e mesmo
do futuro das próximas gerações.
Já na
rejeição da primeira denúncia, houve o perdão bilionário de dívidas previdenciárias
para ruralistas e o apoio tanto para mudanças nas garantias dos povos
tradicionais a seus territórios quanto para o relaxamento da proteção
ambiental, por exemplo. Muita coisa ainda pode ser entregue. Afinal, o Brasil é
um país grande.
Mais perdão
de juros e multas relacionados a dívidas públicas, o que interessa a
congressistas caloteiros e empresários com problemas financeiros, é um exemplo
que nos custará várias dezenas de bilhões de reais. Mas há outros mais
desconhecidos, como o apoio aos projetos de lei que tentam reduzir o conceito
de escravidão contemporânea, diminuindo a possibilidade de punição de
empregadores e de resgate de trabalhadores, defendido tanto pela bancada
ruralista como por outros grupos econômicos. Ou a Reforma Trabalhista Rural, cujo
projeto original foi tachado de ''legalização da servidão'', dado o
tamanho do retrocesso e está provisoriamente congelada. Ou mesmo
aberrações como as propostas que visam a dificultar o aborto legal nos casos já
previstos em lei, como estupro, que é um dos xodós da bancada do
fundamentalismo religioso. Isso sem contar os grupos de pressão do
capital, que seguem atuando por mais formas de desregulamentação do
trabalho e pela manutenção da desigualdade tributária – que sobretaxa o
consumo dos mais pobres para deixar intocada a renda dos mais ricos.
Por essas e
por outras, repito o que já escrevi aqui nesta semana. Há um homem que pode nos
salvar e ele se chama Geddel Vieira Lima. Porque há limite para tudo nessa
vida, mesmo para o comércio a céu aberto na Câmara dos Deputados. E esse
limite viria com provas apresentadas pelo ''querido amigo'' de
Temer que tornasse impossível aos deputados manterem o tomaladacá pronográfico
em ano pré-eleitoral.
Quanto tempo
Geddel Vieira Lima vai aguentar de bico calado na cadeia antes de começar a
entregar os companheiros do ''Quadrilhão do PMDB'' que ainda estão soltos em
nome de um acordo?
Após a
Polícia Federal descobrir o apartamento em Salvador com R$ 51 milhões em caixas
e malas, no que pode ser parte do ''Fundo de Aposentadoria'' do núcleo do
fisiologismo nacional, ele foi preso. Em julho, quando passou algum tempo
na Papuda, Geddel chorou diante do juiz que o manteve sob prisão preventiva
apenas três dias após ter chegado. Não importa se as lágrimas foram sinceras ou
não, isso é indício de que ele não está disposto a amargar uma longa temporada
em cana como Eduardo Cunha ou Henrique Eduardo Alves, outros membros do suposto
esquema.
Qualquer
morsa com problemas de cognição sabe que qualquer um dos três tem munição suficiente
para derrubar a República pelo menos por duas vezes. Se o medo de Geddel
fermentar mais do que os restos de comida usados para fazer Maria-Louca (a
pinga da cadeia) e ele resolver soltar o gogó e a oferta for aceita pelos
procuradores, o governo Temer pode não sobreviver na Câmara. Afinal de contas,
ao final do dia, o que conta é a própria sobrevivência.
Temer não foi
colocado onde está por conta de sua capacidade de proferir oportunas mesóclises
e poemas de qualidade duvidosa. Mas pela expectativa de parte da classe
política de que ele, de algum forma, consiga impor um freio à operação
Lava Jato. E pela expectativa de Patos Amarelos de que seu governo reduza o
tamanho do Estado e aumente a competitividade, passando por cima da qualidade
de vida dos brasileiros se necessário for. O que significa impor tetos ao
crescimento do investimento em educação e saúde, defenestrar direitos
trabalhistas e enfiar goela abaixo mudanças na aposentadoria que ferram com a
vida de quem já foi ferrado pela vida.
Estranha
conjuntura essa em que Geddel Vieira Lima tem o poder de evitar mais uma
catástrofe no país.
Nenhum comentário:
Postar um comentário