Por Jacy Afonso
Paulo Freire afirmava que "não é possível refazer este país,
democratizá-lo, humanizá-lo, torná-lo sério, com adolescentes brincando
de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o
amor. Se a educação sozinha não transformar a sociedade, sem ela
tampouco a sociedade muda".
Em 19 de setembro de 1921 nascia em Recife - PE um dos mais notórios
pensadores da educação no Brasil. Referência mundial, Freire criou a
Pedagogia do Oprimido, que se tornou um movimento educacional como forma
de mobilização social.
Educador comprometido com a vida, para muito além de ideais, pensa a
existência. A práxis da liberdade construída por ele colocava em xeque o
conceito de que a democracia se dava apenas com participação da
população pelo voto, manipulado pelos lideres conservadores e
populistas. A organização dos movimentos de cultura popular provoca o
surgimento de diversos mecanismos de intervenção política e social de
mobilização e conscientização das massas.
Paulo Freire dizia que enquanto a escola conservadora procura
acomodar os alunos ao mundo existente, a educação libertadora tem a
intenção de inquietá-los. Os Círculos de Cultura criados por ele para
alfabetizar a população a partir da realidade tinha o objetivo de as
pessoas aprenderem a ler mais do que palavras: ler a vida, ler o mundo.
Com um pensamento pedagógico assumidamente político, apontava que educar
é conscientizar, é instrumentalizar a parcela mais desfavorecida da
sociedade para entender sua situação de oprimida e agir em favor da
própria libertação.
A teoria e a prática freirianas, cujo eixo principal e fundante era o
diálogo nascido na prática e enraizado na liberdade, que organizou
grupos para a alfabetização de um sem número de pessoas, levaram João
Goulart a nomeá-lo coordenador do Programa Nacional de Alfabetização.
Os também notáveis educadores Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro,
fundadores da Universidade de Brasília, atuaram em defesa da
democratização do ensino brasileiro, com a universalização da escola
pública, laica e gratuita. O primeiro foi o criador e o primeiro diretor
da Campanha Nacional de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(atual CAPES), a qual dirigiu até o golpe de 1964. Darcy Ribeiro foi
ministro da Educação e chefe da Casa Civil do Governo João Goulart.
O golpe militar de 1964 ceifou as práticas revolucionárias dessas
três referências em educação, expulsos do país, abortando um processo
que poderia ter nos trazido a evolução educacional com que tanto
sonhamos ainda hoje.
Quero, nesse dia em que Paulo Freire completaria 93 anos, prestar-lhe
a merecida homenagem. Quero também refletir sobre os avanços
conquistados pela luta das trabalhadoras e trabalhadores em educação
juntamente com parcela significativa da população organizada e sobre a
importância da percepção sobre o momento crucial da conjuntura
brasileira. O Governo brasileiro nos últimos 12 anos, com seus programas
sociais, resgatou milhares e milhares de pessoas da pobreza extrema e
incluiu nas escolas milhões de crianças e adolescentes. Garantiu
questões importantes com a aprovação do Plano Nacional de Educação e com
a destinação de parcela significativa dos recursos do pré-sal para a
educação.
Faz-se importante registrar que a luta por uma educação de qualidade e
pública foi capitaneada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em
Educação - CNTE, que realiza de 17 a 19 de setembro, exatamente em
Recife, a Conferência da Rede de Trabalhadoras da Educação da
Internacional da Educação da América Latina, reunindo representantes de
entidades de 15 países, filiadas à Internacional da Educação da América
Latina. A abertura do evento se deu com um grande ato em homenagem a
Paulo Freire, que contou com mais de 300 educadores reunidos em frente à
escultura do educador na Universidade Federal de Pernambuco.
Reconhecemos a necessidade de avanços, mas temos certeza de que os
investimentos necessários, instrumentos pelo quais tanto lutamos, estão
dados para que a educação pública de qualidade seja implementada.
Porém, nesta eleição para a Presidência da República a democratização
da educação e os recursos a ela destinados estão em jogo. Não podemos
permitir retrocessos. É inadmissível que em nome de compromissos de
campanha assumidos com banqueiros e produtores de cana-de-açúcar,
escondidos pela cortina de fumaça da defesa do meio ambiente, a produção
do pré-sal seja diminuída e, em consequência, os recursos para a
educação se tornem exíguos. Está claro que a candidata à reeleição, a
presidenta Dilma Rousseff é a garantia da destinação dos recursos
previstos para a educação e dos avanços ainda necessários para nossa
educação se aproximar daquela que sonhava Paulo Freire.
E mais que isso, ela afirma que a educação terá primazia em seu
próximo mandato. Diz que a "política educacional atual que busca de
forma integrada melhorar todos os níveis de ensino, da creche até a
pós-graduação" terá cinco prioridades: Colocar as crianças desde cedo
nas creches e nas pré-escolas; alfabetizá-las na idade certa; expandir o
ensino de tempo integral; ampliar o acesso dos jovens ao ensino
superior e profissionalizante e valorizar o professor. As portas do
futuro estão abertas com a garantia - dada por lei – de que grande parte
das riquezas geradas pelo petróleo no pré-sal sejam investidas na
educação. Com Dilma Presidenta a política educacional global, integral e
inclusiva para que todos os brasileiros de todas as classes sociais
tenham acesso à educação de qualidade está afiançada.
As valiosas reflexões de Paulo Freire sobre a libertação dos
oprimidos pela educação pública, laica e de qualidade, nos convoca a
tomar uma posição clara e corajosa nessas eleições. Afinal, as
educadoras e os educadores do Brasil querem avanços ou querem
retrocessos? É o momento de dar essa resposta reelegendo Dilma
Presidenta.
(BRASIL247, 19/09/2014)
Fonte: CNTE
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