domingo, 18 de outubro de 2015

Um presidente de bens_+_E-mail de Cunha para tratar propina era ‘sacocheio@’

Foto: Divulgação - Google

Cunha tem patrimônio 37 vezes maior do que informou à Justiça; havia conta secreta até nos EUA
-Brasília- O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), tem patrimônio estimado 37 vezes maior que os valores oficialmente declarados por ele à Justiça Eleitoral, conforme indicam os documentos que deram origem ao segundo inquérito aberto no Supremo Tribunal Federal (STF) por corrupção, lavagem de dinheiro e sonegação fiscal. À Justiça Eleitoral, Cunha declarou ano passado patrimônio de R$ 1,6 milhão. Mas, na abertura de quatro contas na Suíça em nome dele e da mulher, Cláudia Cruz, entre 2007 e 2008, o banco Julius Baer estimou que o patrimônio de Cunha era de US$ 16 milhões (R$ 61,3 milhões). As novas revelações acabaram deteriorando ainda mais a situação política do parlamentar na Câmara. Ele continua negando ser titular das contas.

A estimativa foi feita pelo banco Julius Baer, a partir da relações de bens fornecidas pelo próprio Cunha na abertura das contas secretas. "Seu patrimônio estimado, à época da abertura da conta, era de aproximadamente US$ 16 milhões" diz trecho da peça entregue pelo procurador-geral em exercício, Eugênio Aragão, ao Supremo. O procurador informa que até o patrimônio oficial declarado pelo deputado teve crescimento suspeito. Entre 2002 e 2014, o patrimônio de Cunha teve um aumento de 214%.
DINHEIRO NÃO DECLARADO TAMBÉM NOS EUA


O presidente da Câmara tem atualmente patrimônio declarado de R$ 1,6 milhão. Em 2002, quando já estava na política, ele tinha bens da ordem de R$ 525.768,00. O patrimônio declarado do deputado também é inferior aos valores que ele e a mulher movimentaram nas quatro contas suíças entre 2007 e 2008: mais de R$ 22 milhões.

O pedido de abertura de inquérito informa ainda que, além das contas secretas na Suíça, Cunha tinha também uma conta não declarada no banco Merril Lynch, nos Estados Unidos. "A análise de risco e perfil do cliente demonstram que Eduardo Cunha já mantinha conta junto ao banco Merril Lynch nos EUA há mais de 20 anos, de perfil agressivo e com interesse em crescimento patrimonial. Sua fortuna seria oriunda de aplicações no mercado financeiro local e do investimento no MERCADO IMOBILIÁRIO carioca" escreveu Aragão.

O procurador pediu abertura de inquérito para investigar a suspeita de que Cunha e a mulher usaram as contas secretas para receber e gastar dinheiro desviado da PETROBRAS. Rastreamento da movimentação financeira mostra que uma das contas de Cunha, a Orion SP, recebeu cinco depósitos no valor total de US$ 1,3 milhão do lobista João Augusto Henriques depois de um negócio de US$ 34,5 milhões intermediado por ele entre a Companie Beninoise Hydrocarbures, do Benin, e a PETROBRAS, em maio de 2011.
Documentos repassados ao Brasil pelo MINISTÉRIO PÚBLICO da Suíça mostram que Cunha usou passaporte diplomático, endereço residencial no Rio e telefones da Câmara e do Palácio do Planalto para abrir as contas da Suíça. As assinaturas atribuídas a Cunha no cadastro das contas conferem com a do passaporte e a de documentos assinados por ele no Brasil. Numa tentativa de esconder as contas, Cunha pediu, no entanto, que as correspondências do banco suíço fossem enviadas para um endereço dele em Nova York, com a alegação de que o serviço postal brasileiro não é confiável. Na abertura das contas, Cunha informou que trabalhava no Palácio do Planalto, o que jamais ocorreu, e Cláudia Cruz informou que sua profissão é dona de casa.


AFASTAMENTO DO CARGO PODE SER PEDIDO


Com base nas informações reunidas, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, cogita a possibilidade de pedir ao STF que determine o afastamento do presidente da Câmara nos próximos dias, caso não surja nenhuma iniciativa neste sentido dentro do próprio Congresso.


Para auxiliares do procurador-geral, os indícios de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e sonegação fiscal, narrados no pedido de abertura do inquérito sobre as contas na Suíça e na denúncia sobre propina em intermediação de navios-sonda para a PETROBRAS, são contundentes e exigem respostas das instituições à altura da gravidade dos crimes imputados ao deputado. Há também a possibilidade de a Procuradoria-Geral pedir o desmembramento do inquérito e transferir as investigações sobre a mulher e sobre a filha Danielle Dytz da Cunha Dorovitch para a 13? Vara Federal de Curitiba, sob o comando do juiz Sérgio Moro.


- Não está descartado o pedido de afastamento de Cunha e nem o desmembramento do inquérito - disse um dos investigadores.


Para a Procuradoria-Geral da República está claro que o presidente da Câmara mentiu ao dizer que não tinha contas no exterior. Na denúncia apresentada contra Cunha em agosto e ampliada na quarta-feira, o procurador-geral, Rodrigo Janot, acusa o deputado de receber US$ 5 milhões do lobista Júlio Camargo para facilitar a contratação de dois navios-sonda da Samsung Heavy Industries pela PETROBRAS, um negócio de US$ 1,2 bilhão. Em um dos depoimentos da delação premiada, que levaram ao aditamento da denúncia, o lobista Fernando Soares, o Baiano, informa que Cunha recebeu propina em várias parcelas até o primeiro semestre do ano passado. O presidente da Câmara não se conteve nem mesmo depois do início da Operação Lava-Jato.

Segundo Baiano, entre junho e julho do ano passado, Cunha se reuniu com Camargo para acertar o pagamento final da propina. Cunha queria receber mais R$ 1,2 milhão. Camargo entendia que o restante da dívida não passava de R$ 400 mil. Com dificuldades de caixa, Camargo pediu a Baiano que o ajudasse a quitar o suborno de Cunha. Baiano repassaria R$ 300 mil ao deputado e Camargo completaria com R$ 700 mil. Deste total, R$ 500 mil seriam pagos na forma de créditos para uso de táxi aéreo. Baiano deixa claro ainda que, só não pagou a parte dele (R$ 300 mil) porque, antes disso, acabou sendo preso por ordem do juiz Sérgio Moro.

Banco Julius Baer estimou o patrimônio de Eduardo Cunha em US$16 milhões, o equivalente a R$ 61,3 milhões. Globo
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O nome é Eduardo Cunha, mas para tratar de propina por e-mail o endereço é "sacocheio@". O uso da inusitada expressão como endereço eletrônico pelo presidente da Câmara foi revelado aos investigadores da Lava-Jato pelo lobista Fernando Baiano em um de seus depoimentos no âmbito da delação premiada. Foi por esse e-mail que Cunha lhe encaminhou uma planilha na qual fazia a contabilidade da propina devida por Julio Camargo.

"Que questionado qual e-mail Eduardo Cunha utilizou, o depoente afirma que chamava a atenção que o endereço de e-mail consistia na expressão "sacocheio@", sendo algum provedor que não se recorda com certeza qual era: que acredita que fosse sacocheio@hotmail.com, sacocheio@yahoo.com.br ou sacocheio@yahoo.br", registra trecho do depoimento do delator.

Além do e-mail que não tinha seu nome, o presidente da Câmara e o lobista passaram a utilizar em 2012 um aplicativo que é tido como mais seguro por permitir que se apague as mensagens tanto do aparelho quanto do servidor, sem deixar qualquer rastro. De acordo com o lobista, eles passaram a usar o aplicativo Wickr justamente pela existência desse recurso. Antes, eles se falavam pelo sistema de mensagens da Blackberry, o BBM Messenger, no qual o nick de Cunha era apenas EC.


Carros de luxo em nome de Jesus.com

Cunha e a mulher têm 9 veículos, entre eles um Porsche de R$ 429 mil registrado pela empresa do casal; propina foi paga com "horas de voo" em jatinho

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e sua mulher, Cláudia Cruz, possuem uma frota de nove veículos, no valor total de mais de R$ 1 milhão, de acordo com dados coletados pela Procuradoria-Geral da República no sistema de informações de segurança, o Infoseg. Na declaração de bens à Justiça Eleitoral, Cunha listou apenas um Corolla, ano 2007, avaliado em R$ 60 mil. Os demais carros estão em nome da mulher e de empresas do casal, a Jesus.com e a C 3 Produções.

Cláudia Cruz é proprietária de um Porsche Cayenne S, ano 2006, avaliado em R$ 122,6 mil. Sete veículos estão declarados em nomes de empresas do casal. A Je-sus.com, que administra páginas na internet, aparece como dona de um Porsche Cayenne S, ano 2013, avaliado em R$ 429,4 mil. Estão registrados no nome da empresa um Ford Edge e um Ford Fusion, avaliados em R$ 120 mil e R$ 92,6 mil. Outra empresa do casal, a C3 Produções, tem quatro carros: um Pajero Sport Flex, um Hyunday Tucson, um Land Rover I/LR Freelander e um BMW 3251. Somados, os carros da C3 Participações valem R$ 175,5 mil.

Não é a primeira vez que aparecem carros de luxo com políticos investigados da Lava-Jato. O ex-presidente Fernando Collor também tem uma frota de veículos que é alvo de investigação pela Polícia Federal. A PF levantou suspeita de que houve lavagem de dinheiro. Entre os carros de Collor há uma Ferrari, um Porsche e uma Lamborghini.

O pedido de inquérito apresentado pelo Ministério Público Federal mostra que Eduardo Cunha tem apreço também por deslocamentos aéreos. Ele aceitou receber parte da propina paga pelo lobista Júlio Camargo por meio de voos fretados. Camargo, um dos delatores do esquema, disse aos procuradores ter acertado em 2014 o pagamento de R$ 300 mil a Cunha com voos em jatinhos, mas que acabou pagando apenas R$ 122,2 mil desta forma, porque seu nome foi envolvido na Operação Lava-Jato.

Cunha consta como passageiro em dois dos três deslocamentos pagos por Camargo. No dia 3 de setembro de 2014 há o relato de fretamento de uma aeronave, prefixo PR-JET, que saiu do aeroporto de Congonhas, em São Paulo, às 15h30m rumo a Brasília, seguiu depois para Jacarepaguá (RJ) e retornou posteriormente para São Paulo. Os passageiros foram Eduardo Cunha e o do-leiro Lúcio Bolonha Funaro, amigo do presidente da Câmara e que fez delação premiada na época do mensalão, confessando ter realizado operações de lavagem de dinheiro.

Em outro fretamento no qual Cunha aparece como passageiro, ele tem como seu acompanhante na viagem Altair Alves Pinto, assessor parlamentar da Assembléia Legislativa do Rio que é descrito por Fernando Soares, o Fernando Baiano, como quem recebia dinheiro em es- pécie em nome de Cunha.

A mesma aeronave PR-JET deslocou-se no dia 8 de setembro de 2014 de Congonhas para o aeroporto do Galeão, no Rio. No dia seguinte, fez o trecho Rio-Brasília e somente no dia 11 de setembro de 2014 retomou a Congonhas.

O terceiro pagamento feito por Camargo refere-se a um voo no qual Cunha não aparece como passageiro, e sim Funaro e Raquel Pitta. No dia 29 de agosto de 2014, o voo foi de Congonhas a Salvador, depois da capital baiana a São João da Boa Vista (SP), passando depois por Campinas (SP) antes de retornar a Congonhas. Camargo apresentou provas dos pagamentos.

Um suposto deslocamento de helicóptero de Cunha também levantou suspeitas. A PGR relata que e-mail de uma secretária do ex-diretor da área internacional da Petrobras Jorge Zelada indicaria uma reunião dele com Cunha no período em que ocorriam as tratativas do negócio no Benin, fonte primária dos recursos que vão parar nas contas da Suíça.

O e-mail pede autorização para que Cunha e o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), entrarem pela garagem e seguirem até o heli-porto, onde embarcariam em um helicóptero, de prefixo PR-YMH na manhã de 12 de setembro de 2010. Mas não há referência à reunião.

A ATM Táxi Aéreo afirma que o helicóptero realizou neste dia apenas um voo particular para um dos sócios, e que nem Cunha nem Paes aparecem nos registros como tendo participado de voo na data mencionada.

A assessoria de Paes confirmou que no dia 12 de setembro de 2010 a agenda registra que o prefeito participou de eventos de campanha de Cunha na Zona Oeste do Rio. Os eventos foram às llh e 12h daquele dia. Segundo a assessoria, Paes foi de carro e se encontrou com Cunha no local dos eventos. O prefeito afirmou que não andou de helicóptero com Cunha como narrado no e-mail. Disse que não se lembra se chegou a ser convidado por Cunha para ir à Zona Oeste de helicóptero.

- Tenho medo de andar de helicóptero. Quando me convidam, eu recuso, a não ser que seja de extrema necessidade - disse Paes. Informações de O Globo

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