Na próxima quarta-feira (25) o Congresso Nacional deve votar a segunda denúncia oferecida pela Procuradoria-Geral da República contra Michel Temer. Não passa pela cabeça de ninguém que o presidente da República seja inocente, mas isso nunca impediu ninguém de continuar no poder.
Temer virou presidente com conchavos no Congresso, sobreviveu à primeira denúncia com conchavos no Congresso, e quem já fez dois conchavos no Congresso pode muito bem fazer três. A expectativa geral é que na sexta-feira (27) o presidente da República ainda seja esta belezura que está aí.
Mas é preciso registrar que Temer chega nesse julgamento mais fraco do que chegou no último, porque acabou o dinheiro para comprar apoios dos parlamentares.
A falta de dinheiro fica clara no número de vantagens oferecidas pelo governo que não envolvem gastar dinheiro à vista. São várias novas modalidades de mensalão virtual –proponho chamá-las "bitCunhas"– todas com o objetivo de garantir votos para livrar Temer da cana dura.
Por exemplo, todo dia agora o Congresso aprova uma nova anistia de impostos, multas e outras coisas que deveriam ter sido pagas ao governo. Alguns dos deputados estão entre os devedores, mas mesmo os que não estão esperam receber contribuições de campanha dos empresários beneficiados com as anistias.
Temer também está entregando a regulação de áreas importantes da vida brasileira em troca de votos. Os planos de saúde contribuem muito para campanhas eleitorais (por exemplo, a do ministro da Saúde). Pensando nisso, os temeristas querem deixar que planos de saúde cobrem mais de idosos.Dessa forma, mesmo que o governo não esteja dando dinheiro para os parlamentares, eles certamente serão recompensados pelos planos de saúde na próxima campanha por terem conseguido esses favores.
Fonte: Amigos do Presidente
O mesmo se dá com a regulação do trabalho escravo. Havia gente razoável dizendo que era preciso tornar alguns critérios de definição de "trabalho análogo à escravidão" mais precisos. Mas nem mesmo o mais exaltado ruralista esperava que o critério novo fosse "só é trabalho escravo se o sujeito for obrigado a cantar o tema de 'Escrava Isaura' enquanto o executa", como parece ser o caso sob a nova lei. Isso também é compra de votos: em vez de dar dinheiro para os parlamentares, o governo aumenta as contribuições de campanha que eles receberão no futuro dos beneficiados pela lei.
Não se sabe bem se "bitCunhas" terão tanta aceitação na compra de votos quanto moedas mais tradicionais, como dinheiro ou cargos que podem ser convertidos em dinheiro.
Por exemplo, tem quem diga que o governo revisará as normas de fiscalização de trabalho escravo assim que escapar na quarta. Se os deputados ruralistas acreditarem nisso, vão salvar Temer do mesmo jeito?
Além dos problemas de liquidez das "bitCunhas", é preciso levar em conta que o tempo voa quando você está se divertindo, e qualquer hora dessas o mandato de Temer acaba. Cada salvação de Temer se dá mais perto da eleição de 2018 e tem mais chance de ainda estar na lembrança no dia do voto.
Enfim, somando tudo, ainda é provável que não caia. Mas, se bobear, cai. A única certeza é que na sexta-feira o Brasil deve ter um presidente tão qualificado para o cargo quanto o desta segunda.Na Folha
Nenhum comentário:
Postar um comentário