Augusto Buonicore, secundarista da UBES nos anos da ditadura, relembra o Congresso de Reconstrução da entidade em 1981
Em abril se completa 51 anos desde que a
ditadura militar iniciou suas manobras no Brasil, e apesar das feridas
deixadas no país, nos últimos meses houve registros de manifestações
pedindo intervenção militar e comemoração ao golpe. Para o movimento
estudantil, quem faz tal tipo de ato desconhece a história e o regime de
exceção ao qual o povo brasileiro foi submetido.
A censura que perseguiu a democracia
brasileira também deixou suas marcas nos secundaristas, para quem os
direitos eram ainda mais restritos.
Relembrando a importância da liberdade e
para saber mais sobre a luta dos estudantes nos “anos de chumbo”, o
site da UBES entrevistou Augusto Buonicore, que no período de reabertura
democrática da política brasileira esteve à frente do movimento
secundarista. Augusto participou da reconstrução da União Campineira dos
Estudantes Secundaristas (UCES) em São Paulo e do primeiro congresso da
UBES após o golpe militar.
“Se a repressão nas universidades era
dura naqueles anos de chumbo, pior era a situação nas escolas
secundárias. Ali, de fato, a democracia nunca havia chegado. Qualquer
tipo de contestação ocasionava a suspensão e expulsão dos estudantes
rebeldes”, conta.
A repressão
O incêndio na Casa do Poder Jovem, na
Praia do Flamengo (RJ), 132, em 1964, e a morte do secundarista Edson
Luís, em março de 1968, foram alguns dos acontecimentos que acentuaram o
tom de repressão do regime.
“Lembro que os secundaristas deram
muitos mártires à causa da liberdade no país durante a ditadura, cito
dois deles: Joel Vasconcelos dos Santos, Antonio Guilherme Ribeiro
Ribas. Centenas deles foram presos e torturados, muitos ainda estão
desaparecidos”, comenta Augusto.
Foram dez longos anos sem a
possibilidade de organização estudantil, até que jovens como Augusto
começaram a driblar os bloqueios dos militares. “Comecei a militar em
1978, em 1981 eu era vice-presidente do Centro Cívico da Escola Carlos
Gomes, quando junto à Associação Secundarista de Campinas (ASC)
paralisamos as aulas em apoio a uma greve nacional convocada pela UNE
por mais verbas para educação”, relata Augusto.
O líder estudantil conta que na época
toda a diretoria foi cassada, o presidente impedido de fazer matrícula e
os demais membros da diretoria suspensos e impedidos de compor às
próximas chapas. “As suspensões e expulsões eram muito comuns nas
escolas, os diretores eram verdadeiros ditadores e não queriam perder
nenhuma parcela desse poder”, explica.
Congresso de reconstrução
Entre outubro e novembro de 1981
aconteceu no Paraná o Congresso de Reconstrução da UBES, reunindo cerca
de dois mil secundaristas. O evento impulsionou a reativação das
organizações estaduais e municipais, entre elas a UCES, onde Augusto foi
secretário geral.
“Isso não caiu do céu“, diz Augusto. Ele
lembra que as situações de luta eram pouco favoráveis aos estudantes. A
delegação de Campinas foi com um ônibus velho ao congresso que
aconteceu em um ginásio desativado de Curitiba. Batidas policiais
revistando estudantes na região onde aconteceu o evento, policiais
infiltrados entre os delegados para emitir relatórios sobre o movimento
estudantil eram alguns dos comentários que circulavam.
Quem luta, conquista!
O regime militar teve início em 1964 e
terminou em 1985. Para Augusto foram tempos difíceis que só chegaram ao
fim com a luta dos estudantes ao lado dos trabalhadores que cumpriram
papel ativo na luta pela Lei da Anistia e na campanha pelas ‘Diretas
Já’. E, principalmente, na conquista de maiores espaços democráticos
dentro das escolas.
“Na comemoração dos 30 anos desde a
derrota ao regime militar cabe destacar a conquista do meio-passe em
vários estados, a conquista da Lei do Grêmio Livre (1985) que substituiu
os centros cívicos controlados pelas diretorias das escolas e o voto
aos 16 anos, estabelecido na Constituição de 1988”, comemora.
Rumo à Reforma política
Para UBES, o ano de 2015, além de
comemorar os 30 anos do fim da ditadura militar, relembramos as gerações
de estudantes que lutaram pelo direito à democracia.
“Avançar na democracia hoje é, entre
outras coisas, fazer uma reforma política que reduza o peso do poder
econômico nas eleições eliminando o financiamento privado de campanhas,
criar melhores condições institucionais para que os trabalhadores –
especialmente negros e mulheres- possam ter uma maior representação, e
democratizar a mídia”, finaliza Augusto.
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