sexta-feira, 11 de julho de 2014

DILMA À CNN: “FUTEBOL NÃO É UMA GUERRA, É UM JOGO”

Em entrevista à jornalista Christiane Amanpour, presidente diz que "superar a derrota é característica de um grande país"; Dilma Rousseff afirmou que derrota da Seleção Brasileira por 7 a 1 diante da Alemanha não reduz conquistas da realização da Mundial; "Fizemos uma das melhores copas graças à capacidade do povo de receber bem os visitantes", apontou; ela foi perguntada sobre os tempos de combate ao regime militar, sofrimento de torturas e a condição de ser presidente e mulher; "As mulheres sabem que as pessoas são sentimentos e emoções, e não apenas pensamentos e racionalidade"; íntegra
10 DE JULHO DE 2014 
247 – Na condição de anfitrião da Copa do Mundo assistida por mais de 3 bilhões de pessoas em todo o mundo, a presidente Dilma Rousseff concedeu à rede americana CNN uma entrevista exclusiva, veiculada nesta quinta-feira 10, para a jornalista Christiane Amanpour. A presidente disse que se sente "triste" pela derrota, por 7 a 1, da Seleção Brasileira frente a da Alemanha, na terça 8, mas lembrou que "futebol não é uma guerra, é um jogo".

Dilma defendeu "uma renovação" no futebol brasileiro, de modo a permitir que os principais jogadores permaneçam atuando em clubes nacionais. Ele foi questionada sobre seus tempos de luta contra a ditadura militar brasileira, quando foi torturada. "Você descobre que tem de resistir e que só você pode derrotar você mesmo". Acompanhe:

Entrevista exclusiva da Presidenta Dilma à CNN:
Jornalista Christiane Amanpour: Senhora Presidente, bem-vinda ao nosso programa.
Presidenta Dilma Rousseff: É um prazer para mim, Christiane, falar com você.
Jornalista: Houve muitas manifestações antes desta Copa do Mundo. E, de repente, durante a Copa do Mundo as pessoas ficaram em êxtase, disseram que era a melhor copa do Mundo, houve tantos gols. A Senhora acha que esta derrota irá moldar o sentimento nacional?

Presidenta: Olha, eu não acredito nisso porque nós vivenciamos uma Copa. Nós sabemos, nós, brasileiros, e também todos os torcedores que aqui vieram, nós sabemos que foi uma Copa que foi... que transcorreu em paz, com muita alegria, com toda a infraestrutura funcionando. De fato, é muito triste que nós cheguemos nesse momento e tenhamos uma derrota, é muito triste. Agora, isso não elimina nem a luta anterior da Seleção, nem tudo o que foi feito e está sendo feito. Afinal, tem uma característica o futebol: ele é feito de vitórias e de derrotas. Ser capaz de superar a derrota, eu acho que é uma característica de uma grande Seleção e de um grande país.

Jornalista: Queria lhe perguntar, Senhora Presidente, se a Senhora acha que a ausência de Neymar e Thiago Silva contribuíram para esta derrota.
Presidenta: Duzentos milhões de brasileiros são técnicos e dão palpite na Seleção. Eu acredito, olhando não como uma pessoa que entende profundamente de futebol, eu acredito que algum efeito significativo teve sobre a Seleção. Agora, diante da derrota, nós temos de ter uma atitude de sermos capazes de aprender com ela e, ao mesmo tempo, superá-la. Por isso, eu tenho certeza que o Brasil e todos os torcedores brasileiros terão um comportamento de persistir nos próximos dias e demonstrar que nós somos capazes de superar essa adversidade. Mas, a gente também tem de considerar uma coisa, sob todos os aspectos o Brasil fez uma Copa do Mundo que eu acredito que, de fato, foi uma das melhores Copas, e nós devemos isso, em grande parte, ao povo brasileiro, à sua capacidade de ter hospitalidade e de receber bem os torcedores do mundo, e eu espero – e tenho certeza – que todo o mundo vai reconhecer esse fato.

Jornalista: Houve muitas perguntas, não apenas pelo mundo, mas também aqui no Brasil, sobre o custo dos estádios, sobre os 14 bilhões de dólares gastos nestes estádios, comparados com os 4 bilhões gastos na África do Sul em 2010. As pessoas diziam: por que não temos melhores escolas, melhor educação ou melhor transporte, melhor infraestrutura. Durante a Copa do Mundo, elas ficaram empolgadas, porque esta tem sido uma excelente Copa do Mundo e a maioria das manifestações tem sido tranquila. A Senhora se preocupa, acredita na possibilidade de de elas recomeçarem após a final, de as pessoas se perguntarem em que foram gastos esses bilhões de dólares se nós sequer chegamos às finais?

Presidenta: Veja bem, nos estados, nos estádios foram gastos 8 bilhões de reais, mais ou menos 4 bilhões de dólares, nos estados. Esse gasto dos estádios, ele foi financiado pelo governo.. Nós gastamos, entre 2010 e 2013, com educação e saúde, nas três esferas de governo, 1 trilhão e 700 bilhões de reais, o que dá aproximadamente 850 bilhões de dólares, bilhões de dólares. Então comparar 4 bilhões de dólares com 850 bilhões de dólares é absolutamente desproporcional. Nós não gastamos... porque o resto dos gastos fica para o Brasil, não só para a Copa. Nem os estádios ficam só para a Copa. Os aeroportos, eles existem porque nós, de 2003 para 2013, nós passamos de 33 milhões de passageiros que viajavam de avião no Brasil para 113 milhões em 2013. Você veja que é... nós estamos fazendo aeroportos para nós mesmos, porque há uma imensa multidão de brasileiros que, nesta década, descobriu que podia viajar de avião porque tinha renda para pagar a passagem.

Quanto aos estádios, este é um lugar de encontro da população, e quando eu disse que o futebol brasileiro tem de ser renovado, o que eu queria dizer com isso? Eu queria dizer que o Brasil não pode mais continuar exportando jogador. Exportar jogador significa não ter a maior atração para os estádios ficarem cheios. Qual é a maior atração que um país que ama o futebol como o nosso tem para ir num jogo de futebol? Ver os craques. Tem craques no Brasil que estão fora do país há muito tempo. Então, renovar o futebol brasileiro é perceber que um país, com essa paixão pelo futebol, tem todo o direito de ter seus jogadores aqui e não tê-los exportados.

Jornalista: Senhora Presidente, algumas pessoas disseram que Brasil e Copa do Mundo, esta é a fantasia do Brasil. Este é o Brasil que se gostaria de ter. Organizar uma Copa do Mundo fabulosa, apesar da terrível derrota da sua seleção. Mas este não é o Brasil real. No Brasil real, as pessoas estão nas ruas, querem melhor saneamento, melhor educação, melhores serviços. Isto acontece num momento em que a Senhora se lança para a reeleição. A Senhora sente agora o desafio político, com esta derrota, e que após a competição a Senhora estará sob pressão para mostrar resultados?
Presidenta: Primeiro, eu acho que esse Brasil que estão descrevendo não tem nada a ver com o Brasil real. O Brasil real é um Brasil que, de 2003 até hoje, tirou 36 milhões da pobreza, levou à classe média 42 milhões de pessoas. Quarenta e dois milhões de pessoas, para a gente colocar uma dimensão, equivale à Argentina, um país próximo aqui e bastante populoso. Isso se conseguiu em uma década. Essas pessoas que chegaram à classe média querem, de fato, melhor educação e melhor saúde. Nós estamos nos esforçando imensamente para esse processo.

Jornalista: A Senhora fala em retirar 36 milhões de pessoas da pobreza. Este é um grande triunfo para o Brasil. E é obviamente a razão pela qual as pessoas ainda têm aspirações. Elas querem melhorar ainda mais. Qual a sua resposta a esse um milhão de pessoas que saíram às ruas no ano passado e para as pessoas que ainda dizem que ainda têm aspirações, apesar do que a Senhora já fez?, Por outro lado, Senhora Presidente, o incrível crescimento econômico do Brasil da última década desacelerou-se e continua lento. O que a Senhora fará? A Senhora precisará encontrar um novo modelo econômico para alcançar o desenvolvimento?

Presidenta: Veja você, o nosso crescimento ter desacelerado se deve à violenta crise que começa no mundo a partir de 2008. De 2008 até 2014, no mundo, em torno de 60 milhões de empregos foram encerrados, foram fechados. Nós no Brasil, conseguimos, mesmo assim, enfrentar essa crise mantendo um nível de emprego ainda alto. Nós criamos, nesse mesmo período, 11 milhões de empregos. De fato, o mundo passa hoje por um momento difícil. No nosso caso, nós temos feito um imenso esforço para manter as taxas de crescimento e um desses esforços diz respeito aos investimentos que fazemos em infraestrutura. Eu acredito que nós entraremos num novo ciclo de desenvolvimento no Brasil. Se o primeiro foi baseado no crescimento com inclusão social, estabilidade macroeconômica, o segundo ciclo vai ter de se basear na melhoria da nossa produtividade, portanto, da nossa competitividade. Nós temos, como país, de apostar muito na educação. A educação dá conta de duas coisas: garantir que essas pessoas que mudaram as suas condições de vida e de renda, elas tenham esse ganho de forma permanente. A educação garante isso. Em segundo lugar, nós temos de entrar na economia da inovação, do crescimento e do valor agregado. Somos um país que tem uma agricultura, uma indústria e um setor de serviços bem desenvolvido. Então, nós temos de assegurar qualidade de emprego e temos de investir em infraestrutura logística, energética e social-urbana.

Jornalista: Quão grave é para este país e para esta nação o problema da corrupção?

Presidenta: Eu acredito que essa é uma questão fundamental no país. Eu defendo, e a minha vida toda demonstra isso, eu defendo tolerância zero com a corrupção, e isso não é só... não pode ser só uma fala presidencial. Tem de resultar em modificações institucionais. Nós criamos, no setor público federal, nós criamos um Portal da Transparência. Todos os gastos, todas as compras, todos os investimentos realizados pelo governo federal aparecem no Portal da internet em menos de 24 horas. Nós criamos a Controladoria-Geral da União e demos à Controladoria-Geral da União poder de investigar e de criar todos os mecanismos de imposição de melhores práticas dentro da Administração. Muitas das ações de corrupção foram descobertas pela Controladoria-Geral da União. Nós demos integral autonomia para a Polícia Federal investigar crimes de corrupção. Noventa por cento do que aparece de corrupção no Brasil foi investigado pela Polícia Federal, que é um órgão do governo federal.

Jornalista: A Senhora prometeu transformar a corrupção em crime e não apenas uma contravenção. Isto já foi feito?

Presidenta: Yes, todas. Não só fizemos isso, mas, agora... porque no Brasil tinha a prática de só o corruptor pagar pela corrupção. Os dois lados, hoje, tanto quem corrompe como quem é corrompido, hoje, paga diante da Justiça, o que eu acho uma grande melhoria porque um não existe sem o outro.

Jornalista: A Senhora tem uma história de vida fenomenal, Presidente. Depois do intervalo eu gostaria de falar sobre isso.
(intervalo)

Jornalista: Bem-vinda de volta ao nosso programa. A Senhora é a primeira mulher presidente do Brasil, um país de mais de 200 milhões de pessoas, o motor da América Latina - a economia do país é de longe a maior comparada com o restante do continente. A Senhora sempre sonhou em ser Presidente?

Presidenta: Não, eu nunca sonhei em ser presidente.
Jornalista: A sua história pessoal sugere, na verdade, justamente o contrário, porque a Senhora foi uma guerrilheira urbana nos anos 60, lutando e resistindo à ditadura militar. A Senhora sonhava em ser uma espécie de Robin Hood?

Presidenta: Não. Não, não. É muito difícil viver numa ditadura. A ditadura limita seus sonhos. Quando você não tem direito de expressão nem de organização, qualquer ato de discordância torna-se um ato de contraposição. No Brasil, o direito de greve era visto como uma ofensa ao regime. As manifestações que hoje nós... com as quais nós convivemos tranquilamente, eram motivo para você perseguir, matar, torturar. Então, na minha juventude, eu lutei contra a ditadura, eu fui produto desse tempo. Tenho muito orgulho de ter lutado porque não é fácil, não é fácil... o clima de uma ditadura é um clima que corrói, que corrompe as pessoas no sentido de corromper a sua capacidade de resistir.

Jornalista: A Senhora chegou a ser presa e mantida em prisão por três anos. E foi torturada. A Senhora pode falar sobre isso?

Presidenta: Eu fui presa nos anos 70 e fiquei por três anos num presídio em São Paulo, que hoje está, inclusive, demolido. É uma experiência em que você aprende que é necessário duas coisas: resistir e... e você percebe que só você mesmo pode te derrotar. Não que seja fácil suportar a tortura, não é, e você só suporta a tortura se você se enganar, deliberadamente, dizendo: mais um pouco eu suporto, mais outro pouco eu suporto, e assim você vai indo, e vai indo, e vai indo. A tortura não pode te derrotar, a adversidade não pode te tirar o ânimo de viver e você não pode se contaminar pelo que o torturador acha de você.

Jornalista: O que eles fizeram com a Senhora?

Presidenta: O que faziam no Brasil com todo mundo que era preso: choque elétrico; uma coisa que se chamava pau-de-arara, que é difícil de explicar para você, que é uma forma de pendurar as pessoas pelos braços e pelas pernas; e muito choque elétrico. O pior era o choque elétrico. É a forma mais... é uma dor que anda. A dor praticada por alguém sobre outra pessoa é algo imperdoável, bárbaro, que quem faz isso tem uma perda de valores humanos, de tudo o que nós conquistamos ao sair das cavernas e nos elevarmos à condição de civilizados. A tortura é uma negação disso, é uma negação do outro. Talvez a pior forma de negação. Por isso nós não podemos aceitar, em lugar nenhum do mundo, a ocorrência de tortura, sob qualquer alegação. Eu nunca vi um processo de tortura não destruir a instituição que pratica, que pratica a tortura. Todos os processos de tortura, historicamente, destruíram quem praticou a tortura. É gravíssimo o Ocidente voltar atrás nessa questão.

Jornalista: Como isto moldou a sua visão de mundo?

Presidenta: Como eu construí a minha visão de mundo?

Sabe, só tem um jeito da tortura não te contaminar. Ela não pode te levar a absorver uma raiva contra quem pratica, o ódio contra quem pratica. Você não pode deixar isso entrar para dentro de você, tem de ficar no externo, tem de ficar na dor física. Não pode se transformar numa motivação de sentimento, de visão de mundo, e da sua... eu diria assim, da sua ideologia, da sua cultura, da sua forma de ver o mundo. Agora, eu vou te dizer uma coisa, sobretudo tem uma coisa que eu acho que a tortura me fez viver de uma forma intensa, é a certeza absoluta que nós derrotamos, no Brasil, quem praticou. A derrota não é uma derrota pessoal, não é contra A, B ou C. Nós derrotamos, no Brasil, a estrutura que praticou a tortura, e foi a ditadura. Ao construir a democracia e construir com padrões que respeitam os direitos humanos... porque no Brasil nós temos, hoje, esse amor perdido pela democracia. Eu acho que isso foi o grande ganho.

Jornalista: Eu posso ver a paixão com a qual a Senhora fala disso. E a sua história pessoal é impressionante. Há muitas críticas hoje à Polícia do Brasil de que é uma das mais letais na região, de que em 2012 cerca de 2 mil pessoas foram torturadas e mortas pela Polícia brasileira. Isso parece ser um legado ruim desse tipo de tortura, ditadura e de falta do Estado de Direito que a Senhora combatia. A Senhora pode mudar isso?

Presidenta: Esse talvez seja um dos maiores desafios do Brasil.. O combate à criminalidade, ele não pode ser feito com os métodos dos criminosos. Muitas vezes isso ocorre, e nós não podemos também deixar intocada a estrutura prisional brasileira. Então tem de haver uma interação entre o Executivo federal e as polícias, e as polícias são dos estados, porque na Constituição brasileira a atribuição da segurança pública é estadual. Eu acredito que nós teremos de rever isso, rever a Constituição. Por quê? Porque essa é uma questão que tem de envolver o Executivo federal, o estadual, a Justiça estadual e federal, porque também há uma quantidade imensa de prisioneiros em situações sub-humanas nos presídios. Isso nós vamos ter... essa é uma questão das mais graves no Brasil. Essa... em alguns lugares nós conseguimos um grande avanço

Jornalista: e, finalmente, por falar em Estado de Direito, a Senhora criticou duramente o Governo dos Estados Unidos por causa da espionagem ou das revelações de Edward Snowden. A Senhora foi espionada, milhões de brasileiros foram espionados. A Senhora se reconciliou com o Presidente Obama. As relações estão bem novamente? A questão já passou ou a Senhora ainda tem um problema com os Estados Unidos e a administração Obama quanto a isto?

Presidenta: Olha, eu não acredito que a responsabilidade com... pelos hábitos de espionagem seja da administração do presidente Obama. Eu acho que ela é um processo que vem ocorrendo depois do 11 de Setembro. O que nós não aceitamos e continuamos não aceitando é o fato de que o governo brasileiro, empresas brasileiras e cidadãos brasileiros fossem espionados, porque isso atinge diretamente os direitos humanos brasileiros, principalmente o direito à privacidade e à liberdade de expressão. Então nós manifestamos essa questão para o governo Obama porque, no momento, o que nós dissemos a eles é que cada ato recíproco entre o Brasil e os Estados Unidos, que são grandes parceiros estratégicos, seria comprometido por revelações que nós não tínhamos controle, não sabíamos que existiam, e que queríamos duas coisas: uma garantia que não aconteceria mais e o fato de que alguém tinha de se responsabilizar e falar para nós que não aconteceria. Naquele momento o governo Obama estava em processo de equacionar esse problema... essa questão da espionagem internacional, e não tinha condições de responder para nós. Como não tinha condição de responder para nós, nós não tivemos nenhuma outra ação... por exemplo, eu ia fazer uma visita e não fiz por isso. Isso não implicou em nenhuma ruptura com o governo Obama. Implicou simplesmente em colocar as cartas na mesa e dizer "olha, isso é impossível". Hoje eu acredito que eles deram vários passos.

Intervalo

Jornalista: Obrigado, gostaria apenas de fazer mais uma pergunta para o segmento final do programa. Finalmente, Senhora Presidente, A Chanceler Merkel e a Senhora são as duas mais poderosas mulheres presidentes do mundo hoje. O que é ser uma mulher presidente? E o que a Senhora dirá à Chanceler Merkel já que a seleção dela chegou à final da Copa?

Presidenta: Congratulations. Vou cumprimentar a chanceler Merkel pela vitória porque o futebol, ele tem uma característica, ele é um jogo que permite que o que há de melhor na atividade humana apareça. Primeiro, ele é um jogo que implica em cooperação, as pessoas têm de cooperar. Segundo, ele implica em treinamento, as pessoas têm de treinar. No futebol e na vida, se você não se esforçar, não trabalhar, não... você também não obtém sucesso. Implica numa coisa que eu acho fundamental e que é uma educação para todos nós: no fair play, no saber ganhar e no saber perder. Quando você perde, você tem de cumprimentar o adversário. Não é uma guerra, é um jogo, e é por isso que o futebol encanta, porque além disso ele mostra a beleza da iniciativa individual humana em vários momentos, apesar de ele ser um jogo de cooperação. Então eu vou cumprimentar a Angela Merkel e dizer para a Chanceler que o time dela jogou muito bem. E ela esteja de parabéns.

Jornalista: É diferente ser uma mulher Presidente. A Senhora faz as coisas de maneira distinta?

Presidenta: Eu acho que ainda no nosso mundo é visto de forma diferente. Mulheres que são líderes políticas, elas são vistas como duras, duras, mulheres duras, frias, cercadas de homens meigos. Nem uma coisa, nem outra é verdade. Nós somos, como lideranças, como presidentes ou como chanceleres, nós somos mulheres exercendo o papel de mulheres. Eu sempre quero crer que nosso olhar feminino tem uma parte que é perceber que você governa para pessoas e não para coisas. Não que os homens façam necessariamente diferente, mas é certo que a mulher sabe que as pessoas são sentimentos e emoções também, além de pensamentos, além da racionalidade. Acho que essa é uma diferença fundamental.

Jornalista: Presidenta Rousseff, muito obrigada pela participação.

Covardia, ainda que tardia

Leandro Fortes 

Aécio foi ao Mineirão e, para não ser vaiado ou chamado de pé frio, saiu escondido, antes do fim do jogo, ao contrário dos muitos brasileiros que lá ficaram lambendo as feridas daquele triste Brasil x Alemanha.
Assim, escapulindo à sorrelfa, não pôde, no momento exato da tragédia, verbalizar o que a cachorrada anti-Copa já estava preparada para latir: a derrota da seleção brasileira era, claro, culpa do PT, da presidenta Dilma, do Bolsa Família e do Mais Médicos, a depender do grau do déficit intelectual de quem diz.
Nem Aécio, nem seu goleiro reserva, Eduardo Campos, tiveram coragem de fazer essa ligação no dia do jogo. Não se deve abusar da inteligência do eleitor num momento de grave comoção nacional, sob o risco de o tiro sair pela culatra, como foi a vaia do Itaquerão.
Aécio, no entanto, esperou apenas dois dias para tomar coragem de se entregar a essa cafajestagem.

Dizer que Dilma irá pagar pela eliminação do Brasil é, além de politicagem de quinta categoria, uma mentira mal montada: a seleção ainda vai disputar o terceiro lugar, logo, ainda está na Copa.

Mas esse é o tipo de declaração feita para para brigar com os fatos mesmo. Não saiu da boca de Aécio, mas dos intestinos de sua marquetagem e da cloaca de seus seguidores ressentidos.

É, no fim das contas, uma tentativa tão infantil quanto previsível de vincular o fracasso da seleção ao sucesso da Copa do Mundo do Brasil.
Aécio, ou quem quer que seja, na oposição ou na mídia, acusar o governo de querer fazer uso político da Copa é uma piada sem graça da qual só os tucanos e seus aliados, perdidos em seu tradicional isolamento político, não se tocam.

Passaram os meses que antecederam à Copa torcendo como urubus pelo fracasso do evento, por manifestações violentas, pela frustração dos turistas. Torceram, todo o tempo, para nada dar certo.

Mas como tudo deu certo, menos a seleção, tentam, agora, colocar o time de Felipão no colo do governo.
Há apenas um tipo de cidadão propenso a cair nessa conversa: o idiota.
Então, a escolha é sua, eleitor.
 

Os seis minutos

A primeira coisa a fazer, já que o Thiago Silva não poderia jogar, era apresentar o David Luiz ao Dante. Os dois conversariam, talvez num jantarzinho, trocariam confidências e fotos das crianças e combinariam como jogar contra os alemães.

Aparentemente, isso não aconteceu. Quando David Luiz e Dante finalmente se conheceram, se apertaram as mãos ("muito prazer", "muito prazer", "precisamos nos encontrar!"), já estava cinco a zero para a Alemanha.

Outra coisa: houve uma confusão nas convocações. O Felipão chamou o Fred do ano passado, um dos melhores jogadores da Copa das Federações, e quem apareceu foi o Fred deste ano, claramente um impostor.

Ninguém na comissão técnica se lembrou de checar sua documentação. E o Felipão não poderia saber que tinha convocado o Fred errado.

Faltaram 3. Outro azar: a partida ter terminado em 7 a 1. Até o 7 a 1 foi um desastre, um vexame, um escândalo - tudo que saiu nos jornais. Mas ainda estava dentro dos limites do concebível.

Era cruel, era difícil de engolir, mas era um escore até com precedentes, inclusive na história das Copas.

Mas se os alemães tivessem feito mais três gols, apenas mais três, entraríamos no terreno do fantástico, do inimaginável, da galhofa cósmica.
A única reação possível a um 10 x 1 seria uma grande gargalhada, que nos salvaria do desespero terminal.

Nada mais teria sentido no mundo, portanto nada mais nos afligiria e todos estariam perdoados, inclusive o Felipão e a CBF, absolvidos pelo ridículo. Mas não tivemos nem a bênção de perder de 10.

Desconto. Proponho o seguinte consolo: vamos descontar aqueles seis minutos em que o alemães fizeram quatro gols como uma invasão do sobrenatural. Uma espécie de catatonia coletiva, de origem desconhecida, que paralisou todo o nosso time.

Os quatro gols marcados durante os seis minutos de inconsciência só de um lado, portanto, não valeram.

O escore real, livre de qualquer intervenção extra futebol, foi 3 x 1. Um escore respeitável, com o qual todos poderemos viver.

Final. E Argentina e Alemanha farão a grande final, no domingo. Todos torcendo pela América contra a Europa, nossos irmãos continentais contra os nossos algozes, nossos colonizados contra os senhores do mundo etc. A esta altura, só nos resta a hipocrisia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário