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Elika Takimoto: “Está evidente que o CEFET foi aparelhado. Há muita gente que não sabe perder e muito menos respeita a democracia”
Em agosto deste ano, fomos surpreendidos com a nomeação do diretor pró-tempore para o CEFET/RJ. Havíamos acabado de finalizar nossa eleição para Diretor Geral na qual, por decisão acirrada, elegemos Maurício Motta. Houve uma denúncia de irregularidade, que foi devidamente apurada pelo Conselho Diretor que votou pela homologação da nomeação de Motta.
Ainda assim, o ministro da Educação nomeou um professor externo para a nossa Direção Geral. Maurício Aires, o interventor, chegou tentando amenizar os ânimos, dizendo que estava ali de forma temporária, até que todos nossos problemas em Brasília fossem resolvidos – o que levaria 60 dias dada a sindicância aberta. Isso foi registrado por ele mesmo na nossa página oficial do CEFET. Palavras do interventor nas quais tivemos que acreditar.
Para quem não sabe, foi aberta uma sindicância investigativa instalada pelo MEC que iria completar nesta sexta-feira, dia 25 de outubro, o prazo de 60 dias para se encerrar e ser emitido um relatório. Estávamos todos atentos, já que não temos ideia do que se trata essa sindicância. Toda a justificativa da intervenção federal estava vinculada diretamente à tramitação desse processo que falarei mais adiante.
Ou seja, estávamos sob uma intervenção sem saber exatamente o real motivo. Hoje, ao menos, teríamos alguma pista.
Nesse período, muita coisa aconteceu. Nos movimentamos muito politicamente. Fizemos passeatas, colocamos cartazes pelo CEFET, fizemos assembleias e muitas reuniões com o intuito de proteger o que é nosso: uma instituição com quase 20 mil alunos, que coloca na sociedade técnicos, engenheiros, mestres e até doutores de qualidade. No entanto, tivemos que aguentar essa gestão, já que se não deixássemos o interventor trabalhar, ficaríamos sem salário e sem bolsas, por exemplo.
Aguentamos as inúmeras postagens do interventor em nossa página oficial feitas com o intuito claro de mostrar para a comunidade que ele estava trabalhando e se preocupando com nosso CEFET.
Um detalhe importante: Mauricio Aires não fazia parte do nosso quadro de servidores, que está em torno de 1.500 pessoas. A escolha de um nome externo foi justificada pela necessidade de ter uma pessoa isenta das discussões que vivemos ali dentro durante as eleições.
O inferno terminaria hoje com o fim do prazo da sindicância.
Qual o quê…
Foi publicado nesta quinta, 24 de outubro, uma nova portaria do MEC prorrogando por mais 60 dias a sindicância investigativa. E, pasmem: o interventor não cumpriu sua palavra e partiu da mesma forma que chegou. Sem aviso algum!
Por que diabos ele não ficou até o fim desse processo sigiloso, conforme combinado?
A nossa comunidade que sempre trabalhou de forma séria foi desrespeitada desde o início desse pesadelo.
E piora:
Antes de sair, Maurício Aires, o interventor, nomeou outros nomes para o cargo:
de Chefe do Departamento de Administração, da Diretoria de Administração e Planejamento,
de Chefe do Departamento de Gestão Orçamentária, da Diretoria de Administração e Planejamento,
de Diretor da Diretoria de Gestão Estratégica e de assessor da Direção-Geral.
A (essa sim!) balbúrdia por eles feita é tão grande que, observem o nível, no mesmo dia que foi publicada a portaria que nomeia o novo diretor pró tempore, Marcelo Nogueira, todas as nomeações para os cargos acima citados também foram realizadas. O curioso é que todos esses nomes estão alinhados com a chapa perdedora da nossa eleição. E se não escolhemos Sérgio Araujo como Diretor Geral, tínhamos nossos motivos, que têm a ver com tudo isso que está acontecendo.
Em junho deste ano, foi entregue em mãos no protocolo do gabinete da SETEC, em Brasília, um documento proveniente da liderança no Senado Federal do PROS, partido político da base aliada do governo Bolsonaro. Consta desse processo que um dos interessados é quem? Ele mesmo: Sérgio Araújo.
Tem mais: o senador Telmário Mota assumiu ter indicado Sérgio Araújo como Diretor Geral do CEFET/RJ, mesmo sem conhecê-lo, atendendo a um pedido do diretório do seu partido no Rio de Janeiro. Não está tudo muito estranho? Piora: o senador assinou uma carta logo depois pedindo para desconsiderar o pedido do Sérgio Araújo e, ao que parece, o que foi desconsiderado foi sua carta. Os motivos? Desconfiamos de muitos.
Por que trocaram toda a administração? Por que demitir uma diretora de planejamento faltando um mês para o término da execução orçamentária? A instituição corre o risco de ter que devolver milhões do nosso orçamento recebido. A antiga direção de gestão estratégica tinha uma responsabilidade com a finalização do PDI, um documento norteador para o CEFET. O novo diretor não tem experiência alguma com esse documento e pode alterar as diretrizes do CEFET, abrindo as nossas portas para o Future-se, um projeto do MEC que tira por completo a nossa autonomia!
Está evidente que o CEFET foi aparelhado para isso. Há muita gente que não sabe perder e muito menos respeita a democracia.
A sindicância termina daqui a dois meses, quando estaremos de férias e todos os parlamentares em recesso. Isso não é coincidência.
Precisamos lutar pelo o que é nosso.
CEFET, assim como as Universidades e Institutos Federais, merece toda nossa disposição.
Semana que vem, quarta-feira, dia 30 de outubro, às 16h, teremos uma assembleia extraordinária no CEFET, campus Maracanã.
Vamos sobreviver a esse governo.
A democracia há de vencer!
Número do processo sigiloso: 23123.006032/2019-46
Número do processo movido pelo senado federal: 23000.018375/2019-40
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