Até quando a chaga do racismo fará tantas vítimas?
No dia 21 de março de 1960, 20 mil negros sul-africanos marchavam pacificamente para protestar contra a Lei do Passe, medida instituída pelo governo de minoria branca e que obrigava a população negra a portar um cartão que indicava os locais onde era permitida a sua circulação. A polícia do apartheid (política institucional de segregação racial do país, criada em 1948 e extinta em 1994 com vitória de Nelson Mandela à Presidência da África do Sul) abriu fogo contra os manifestantes matando 69 e ferindo 186. A data marcou profundamente a história sul-africana e o fato ficou conhecido em todo o mundo como o Massacre de Sharpeville (cidade onde ocorreu a barbárie).
Pela memória dos mortos e feridos, a ONU (Organização das Nações Unidas) decretou o 21 de março como o Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial. A Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) foi criada nessa data pela Medida Provisória n° 111, de 2003. Justamente para combater o racismo e dar mais visibilidade aos negros brasileiros. Além de tudo isso, a ONU decretou também no dia 10 de dezembro do ano passado, a Década Internacional de Afrodescendentes.
“Termos datas como essa é importante porque dá visibilidade à discriminação racial e chama a atenção da igualdade perante a lei”, defende Mônica Custódio, secretária de Promoção da Igualdade Racial da CTB. Ela enfatiza, porém que o racismo foi forjado cultural e historicamente no mundo todo. Primeiramente “para justificar a escravização dos seres humanos negros”, revela. Segundo ela, “as manifestações racistas estão cada vez mais nítidas porque os negros deixaram a invisibilidade e estão lutando por direitos iguais”.
De acordo com a ativista e sindicalista, dos anos 1960 para cá muita coisa mudou na questão racial. “O ato de reconhecer a existência do racismo já significa um avanço importante”, garante ela. “O que acaba mostrando a necessidade do entendimento da necessidade de se respeitar a diferença entre os iguais”. Nesses 55 anos que “nos separam do massacre na África do Sul, a ciência mudou em muita coisa e definiu claramente que somos todos humanos, a única coisa que nos difere de outras etnias são algumas coisas externas como cabelos, nariz, etc.”, acentua.
“Mesmo assim, ainda prevalece o eurocentrismo e a tentativa de negação da contribuição do povo negro no mundo”, preconiza. Por isso, Mônica julga importante esses avanços institucionais que tem ocorrido no Brasil na última década de valorização da população negra. Mas como a questão é cultural, “Vemos muita manifestação de ódio ode classe com conotação racista muito marcante no país”, define. “Ainda mais com as políticas afirmativas e de inclusão do Estado brasileiro”.
Para ela, o que ainda pega muito no Brasil é a violência contra os negros. “Em muitos estados e municípios a pena de morte é instituída contra a juventude negra, que está sendo assassinada por nada neste país”, determina Mônica. Ela argumenta com a discussão de projeto sobre a redução da maioridade penal em pauta na Câmara dos Deputados.
“É necessário entrar com muita firmeza nesse debate, porque além de não resolver o problema da violência, diminuir a maioridade penal beneficia somente a escola do crime, dando acesso ao crime organizado a cooptação de jovens”, reforça. “Mais uma maneira de faxina étnica e de deixar os pobres e negros presos num sistema prisional doente”.
Muito importante, para Mônica, “é assegurar a todos e todas o direito à vida em paz e em segurança”.
Marcos Aurélio Ruy – Portal CTB
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