Viatura do Corpo de Bonbeiros com lema político da campanha de Campos, estampado também na camiseta de três de seus filhos: punhos cerrados |
Não me
peçam para compactuar com isso. Achei justo e correto que se organizasse
um velório público. Campos era um governante popular em sua terra e
morreu de forma trágica. Mas pergunto: o que fazia aquela faixa no
veículo do Corpo de Bombeiros com a declaração “Não vamos desistir do
Brasil”, lema idêntico ao que se lia na camiseta de seus filhos, três
deles desfilando sobre a viatura, com os punhos cerrados, numa
manifestação inequivocamente política? Não! Eu não posso me desculpar
por estar aqui a apontar a inadequação da manifestação se eles próprios
não souberam separar, como seria o correto, o domínio da dor, que creio
ser verdadeira, daquele em que se aloja a pregação eleitoral. Os fogos
de artifício, então, não deixaram a menor dúvida de que o velório e
sepultamento haviam se transformado numa micareta política. Lamentável.
Como era o esperado, houve tempo para vaias à presidente da República e a
seu antecessor, Lula, aos gritos de “Fora, Dilma!”, “Fora, PT!” e, é
óbvio, “Marina Presidente!”.
Infelizmente,
para a tristeza do Brasil, no sentido mais amplo da expressão, o Campos
morto ganhou uma projeção que o vivo jamais conseguiu. E Marina, mais
uma vez, se apresentou como a viúva de plantão. O PSB ainda não fez dela
a candidata, mas é só uma questão de tempo. A já presidenciável teve
cinco dias ininterruptos de horário eleitoral gratuito. E, com seu ar
sempre pesaroso, magro, quase quebradiço — mas sem se esquecer de acenar
de vez em quando e de deixar escapar furtivos sorrisos —, empertigou-se
quando necessário para vestir o manto da fortaleza moral e se
apresentar para a batalha.
Não foi,
assim, então, quando se transformou numa espécie de viúva oficiosa de
Chico Mendes? Até hoje há quem acredite que ela era uma seringueira dos
pés descalços quando ele foi assassinado, em dezembro de 1988. Não! Ela
já tinha sido eleita vereadora um mês antes e, àquela altura, já era
militante do PT e da CUT. Tinha fundado com Mendes, em 1985, a central
sindical no Acre. Mas ficou com o espólio político do cadáver, como
fica, agora, com o de Campos. Rei morto, viúva posta. Em vez de “Brasil
pra frente, Eduardo presidente”, o grito de guerra dos campistas,
ouviu-se, então, no velório, “Brasil, pra frente! Marina presidente!”.
Não foi um
dia feliz para o comedimento, para o decoro, para o bom gosto e para o
bom senso. Que Deus tenha piedade do Brasil se os eleitores não tiverem!
Por Reinaldo Azevedo
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