O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou nesta quinta-feira (17) a quarta edição do Boletim de Análise Político-Institucional (Bapi) com números estarrecedores sobre o racismo e a violência no país. O capítulo Segurança Pública e Racismo Institucionalmostra que a cada três homicídios ocorridos no país, dois são contra negros. E essa violência não se restringe mais aos grandes centros urbanos, já se disseminou por todo o território nacional (saiba mais aqui). “O movimento negro já vem denunciando esse genocídio faz tempo. Isso passa pela postura dos policias que se acham no direito de matar e desaparecer com os corpos”, afirma Mônica Custódio, secretária de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da CTB.
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“É uma faxina étnica, mas também é uma questão de luta de classes”, acentua a dirigente sindical. Nesse levantamento, a violência aparece como principal traço da discriminação, mesmo o racismo sendo considerado crime inafiançável pela Constituição Federal. A Pesquisa Nacional de Vitimização mostra que 6,5% dos negros que sofreram uma agressão no ano anterior à coleta dos dados pelo IBGE, em 2010, tiveram como agressores policiais ou seguranças privados (que muitas vezes são policiais trabalhando nos horários de folga), contra 3,7% dos brancos. “Essa violência é maior onde não há presença do Estado com políticas públicas, voltadas para os mais jovens”, ataca Mônica.
O racismo brasileiro foi forjado no período do Brasil-colônia para justificar a escravidão, quando os negros eram coisificados, tratada como máquinas produtivas somente. Essa ideologia fincou bases na elite branca durante os séculos e permanece na mentalidade ainda hoje em muitos setores da sociedade. “Ser negro corresponde a fazer parte de uma população de risco: a cada três assassinatos, dois são de negros”, afirmam os autores do estudo, Almir Oliveira Júnior e Verônica Couto de Araújo Lima.
Já o responsável pelo Bapi, Daniel Cerqueira afirma que “o negro é discriminado duas vezes: pela condição social e pela cor da pele”. Para comprovar as afirmações, Cerqueira apresentou estatística demonstrando que as maiores vítimas de homicídios no Brasil são homens jovens e negros, “numa proporção 135% maior do que os não negros: enquanto a taxa de homicídios de negros é de 36,5 por 100 mil habitantes. No caso de brancos, a relação é de 15,5 por 100 mil habitantes”.
Isso tem como consequência, segundo Cerqueira, uma perda de expectativa de vida devido à violência letal 114% maior para negros, em relação aos homicídios: “Enquanto o homem negro perde 1,73 ano de expectativa de vida (20 meses e meio) ao nascer, a perda do branco é de 0,71 ano, o que equivale há oito meses e meio.”
Essa pesquisa além de denunciar essa face cruel do racismo no país, comprova também o acerto das políticas afirmativas com cotas para negros nas universidades federais e que isso deve ser estendido para outros setores, como o trabalho, com intuito de construir a igualdade racial na sociedade brasileira.
Isso acontece também porque em geral os negros e pardos, mais da metade da população brasileira, moram nas localidades mais periféricas, aonde as políticas públicas não chegam ou quando existem, funcionam de modo muito precário, deixando principalmente os mais jovens à mercê da criminalidade e da violência policial. Quase sempre as vítimas são filhas de trabalhadores.
Leia o boletim completo aqui.
Marcos Aurélio Ruy – Portal CTB
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