ROBERTA PONTES | PRESIDENTA DA UNIÃO METROPOLITANA
DOS ESTUDANTES SECUNDARISTAS DE RECIFE
A revogação
do novo ensino médio é o passaporte para construção de uma nova escola e a reconstrução
do país.
O NEM foi aprovado ainda
em 2017 pelo governo Temer de forma antidemocrática, sem diálogo com os
estudantes, professores e profissionais da educação.
O novo ensino médio vem como um
projeto de ser mais “atrativo” e de proporcionar “autonomia aos estudantes”. Mas
essa não é a realidade, pois o novo ensino médio tem sido uma das razões
contribuintes para evasão escolar.
No ano de 2022, com a aplicação do
novo ensino médio nas escolas, a realidade que enfrentamos é que o NEM não é
atrativo e muito menos da autonomia aos estudantes. E sim mais um plano de
desmonte e sucateamento da nossa educação e da nossa escola pública.
Aliás, escola que hoje só se
permanece de pé devido às lutas que nós estudantes e professores travamos em
defender a importância do novo e permanente Fundeb, que garante o funcionamento
de manutenções básicas dentro das nossas escolas.
Com tantos ataques a nossa educação
do governo Temer, do suicídio que foi o governo Bolsonaro para nossa educação,
resistimos firmemente a esse sistema que só sabota nossa educação.
Temos
visto e sofrido na prática as consequências de um sistema que não foi pensado
por nós:
• As nossas escolas não têm
estruturas para receber esse novo sistema, a falta de recursos para cursos e
professores desgastam mais os estudantes;
• Nossos professores não foram
preparados da forma devida: palestra de 30 minutos não é formação;
• A exclusão das matérias
obrigatórias e a carga horária aumentada, que não estão contribuindo para o
processo formativo dos estudantes, inclusive isso tem nos atrapalhado muito;
• As trilhas de conhecimento são uma
verdadeira ilusão, nem todas as escolas estão sendo aplicadas da maneira como
deveriam. Os estudantes, apesar de terem a autonomia de escolher o que querem,
acabam escolhendo o que a escola oferece;
• O notório saber é um retrocesso
para a nossa educação e para a licenciatura. Nossos professores são obrigados a
dar aula do que não foram preparados para ensinar;
• A desigualdade posta e o acesso ao
ensino superior dos estudantes de escola pública. A diminuição da base comum e
a entrada dos itinerários afeta a formação dos estudantes;
• O ensino
EAD é posto como uma proposta de 30% para os alunos que estudam a noite, 20%
para os que estudam de dia e 80% para os estudantes do EJA. Isso contribui
drasticamente para evasão e para o desmonte da escola pública. A nossa saída da
escola com a chegada da pandemia nos custou muito.
Visualizando
o NEM e destrinchando tudo o que ele
é e vem sendo para os estudantes, é nítido que não dá mais, é um pesadelo na
vida dos estudantes. Não tem como travarmos o debate da revogação do novo
ensino médio sem travarmos do debate do que defendemos. Sabemos que não é
revogar por revogar e precisamos defender um plano de qual
ensino médio que defendemos e qual escola queremos.
Falar da revogação
é falar da expansão desses debates. Precisamos
expandir nosso debate para não ser uma luta só dos estudantes, mas uma luta
conjunta com a sociedade.
Antes de tudo, é preciso estudar o
que temos agora para que na formulação de um novo ensino médio, não cometamos
os mesmos erros.
·
Primeiro: precisamos defender
a construção de uma comissão onde a sociedade civil, os estudantes, professores
e o governo trabalhem juntos para elaboração de um projeto de novo ensino médio
que seja democrático, e que agora, estejamos nessa construção.
·
Segundo: não tem como falar
de um projeto de escola sem falar da estrutura das nossas escolas. Um dos
fatores para esse novo ensino médio ser um desastre, é porque nossas escolas
não estavam preparadas para recebê-lo. Iniciar um processo de investimento para
que nossas escolas funcionem, para o básico funcionar, com valorização dos
nossos professores, a merenda de qualidade e acesso à escola através do passe
livre.
·
Terceiro: expandir esse
debate! Conferências, fóruns, grupos de trabalhos que estudem o que a juventude
precisa e o projeto de educação do Brasil.
Principalmente
ressaltar a importância da nossa organização. Precisamos nos organizar, a UMES
Pernambuco tem travado esse debate com os estudantes nas escolas. Temos nos
organizado, procurando e sendo procurado por muitos estudantes. Esse papel de
se organizar é fundamental para conseguirmos dialogar com a sociedade.
Portanto, falar do
novo ensino médio hoje é falar da reconstrução do nosso país e os estudantes
que estão na sala de aula hoje são o futuro desse país. Não queremos um futuro
frustrado por jovens cujas perspectivas foram tiradas devido a esse novo ensino
médio. Falar do novo ensino médio e da importância da revogação é falar da criação
de uma escola pensada pelos estudantes e professores, da construção de
uma escola que esteja a serviço da sociedade. E
investir nessa escola, é investir no Brasil!
Fonte: UBES (UNIÃO BRASILEIRA DE ESTUDANTES SECUNDARISTAS
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