segunda-feira, 10 de novembro de 2014

A CHACINA EM BELÉM DO PARÁ E O FIM DO GENOCÍDIO DE JOVENS NEGROS


“Modus operandi da PM é regra, não excessão”, afirma presidenta do CONJUVE
Os números dizem que a cada 25 minutos morre um jovem negro e pobre no Brasil, vítima da violência. Ou seja, são aproximadamente dois jovens negros mortos por hora, 48 mortos por dia, 336 mortos por semana, 1344 mortos por mês. Esse é um número igual ou maior que o de muitas guerras que acontecem pelo mundo.
Por enquanto, nove jovens confirmados na chacina que aconteceu em Belém do Pará, no último dia 4 de novembro, já entraram para as estatísticas. Mas, há suspeitas de mais de 35 mortes até o momento, segundo notícias vindas dos movimentos sociais do Pará. Todos jovens negros, do sexo masculino. Todos por arma de fogo. Todos ocorridos no Guamá, bairro da periferia de Belém/PA.
Não coincidentemente, nesta mesma data foi morto um cabo da Polícia Militar, membro da Ronda Ostensiva Tática Metropolitana (Rontam), que estava fora do exercício de sua função por afastamento médico e por investigação interna. Ângela Guimarães, presidenta do Conselho Nacional de Juventude (CONJUVE), afirma que este é o “modus operandi” da Polícia Militar no Brasil. Portanto, nenhuma surpresa para quem vive na periferia das cidades.
“Toda vez que envolve um policial, eles dão um retorno desse jeito nas comunidades. Isso é regra, não é exceção. Todos os estados convivem com isso. Não é à toa que o Mapa da Violência divulgado recentemente aponta o aumento do genocídio da juventude negra em crimes como abuso da violência por conta do braço armado do estado. E isso é histórico”, explica.
O CONJUVE soltou uma nota na última sexta-feira (07/11) repudiando a chacina em Belém do Pará. Em trechos, eles afirmam que “em 2012, do total de homicídios ocorridos no Brasil, 53,4% era de jovens e, destes, mais de 75% atingiam homens negros com idade entre 15 e 29 anos”. Uma verdadeira pandemia, como a pesquisa Jovens do Brasil, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), expõe.
A nota exige que os responsáveis pelas mortes desses jovens negros sejam identificados e punidos com todo rigor da lei. Também cobram do Governo do Estado do Pará o fim imediato das execuções, a investigação transparente e independente, com envolvimento do Conselho Nacional de Justiça, do Ministério Público Federal e Estadual, e, o acompanhamento do Governo Federal na investigação e na implementação de políticas públicas que diminuam a vulnerabilidade da juventude negra à violência.
“Fazemos um apelo à Câmara Federal para que aprovem imediatamente o PL 4471/12, pelo fim dos Autos de Resistência e investigações de crimes ocorridos pela PM. Este recurso foi criado no período da Ditadura Militar e até hoje ele é usado como meio para legitimar a repressão e violência policial”, ratifica Ângela.
HISTÓRICO DE LUTA
É proporcional o aumento do número de jovens negros, vítimas do preconceito e da desigualdade social, com a quantidade de jovens que participam de movimentos para combater essa situação insustentável. Em 2007, aconteceu o primeiro Encontro Nacional de Juventude Negra, organizado para enfrentar o genocídio. Em 2008, a 1ª Conferência Nacional de Juventude elencou o tema como um dos principais a serem enfrentados por todos os movimentos sociais. Já em 2011, a 2ª Conferência Nacional de Juventude também aprovou um Fórum de enfrentamento.
“Nos últimos 35 anos uma série de entidades do movimento negro foram criadas com o intuito de denunciar esses abusos. Estamos certos de que não dá mais para conviver com essas estatísticas assustadoras”, confirma a presidenta.
O Conjuve realizará na próxima semana, dias 17 e 18, uma blitz no Congresso Nacional para exigir a aprovação imediata do PL 4471. A ideia é reunir os 70 membros do conselho nacional, os membros dos conselhos municipais e estaduais e entidades do movimento negro.
Da Redação - UNE

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