quarta-feira, 19 de setembro de 2012

" FINANCIAMENTO PRIVADO EM CAMPANHA ELEITORAL É A RAIZ DA CORRUPÇÃO. "

Fonte - UNE

Em entrevista concedida ao Diário da Manhã, jornal de Goiânia, o ex-presidente da UNE Aldo Arantes fala sobre financiamento privado de campanha. Ele acredita que para aprofundar a democracia é necessário uma reforma política no País e a democratização dos meios de comunicação.
O Se­cre­tário Na­ci­onal do Meio Am­bi­ente do Par­tido Co­mu­nista do Brasil (PCdoB), Aldo Arantes, con­cedeu en­tre­vista ao Diário da Manhã e co­mentou sua tra­je­tória na mi­li­tância po­lí­tica à frente da pre­si­dência da União Na­ci­onal dos Es­tu­dantes (UNE) no con­texto da di­ta­dura mi­litar. Aldo Arantes foi o pri­meiro goiano a ser pre­si­dente da UNE antes do golpe mi­litar de 1964, e al­guns fatos mar­caram o pe­ríodo de mi­li­tância em de­fesa do mo­vi­mento es­tu­dantil. Além dos as­suntos re­la­ci­o­nados à mi­li­tância, Aldo Arantes co­mentou sobre a po­lí­tica bra­si­leira e o quadro de de­sen­vol­vi­mento do País. Eleito quatro vezes de­pu­tado fe­deral, sendo em dois man­datos eleito nota 10 pelo De­par­ta­mento In­ter­sin­dical de As­ses­soria Par­la­mentar, o se­cre­tário afirma que o fu­turo do Brasil está no co­mu­nismo.

COMO FOI O PE­RÍODO DE MI­LI­TÂNCIA PO­LÍ­TICA EM QUE FOI PRE­SI­DENTE DA UNE?

O então pre­si­dente da Re­pú­blica, Jânio Qua­dros, re­nun­ciou o man­dato e o go­ver­nador, Le­onel Bri­zola, de­sen­ca­deou o mo­vi­mento que vi­sava im­pedir o golpe, que era contra a posse do vice-pre­si­dente da Re­pú­blica João Gou­lart e cri­aram o mo­vi­mento da le­ga­li­dade no Rio Grande do Sul. Eu, como pre­si­dente da UNE, des­lo­quei a sede, e neste mo­mento, a UNE pegou um papel ex­tre­ma­mente im­por­tante. En­quanto Le­onel Bri­zola fa­lava da le­ga­li­dade para o povo bra­si­leiro, eu fa­lava pela da le­ga­li­dade para os es­tu­dantes bra­si­leiros e esse foi um mo­mento mar­cante para a his­tória do mo­vi­mento es­tu­dantil e da luta de­mo­crá­tica do povo bra­si­leiro. Tanto assim que João Gou­lart es­teve na sede da UNE para agra­decer. Essa foi a pri­meira vez que um pre­si­dente es­teve na sede. Um dos fatos im­por­tantes que mar­caram o pe­ríodo foi o da Uni­vo­lante, uma vi­sita em quase todas as ca­pi­tais do Brasil le­vando o re­sul­tado do se­mi­nário da re­forma uni­ver­si­tária e o centro po­pular da UNE, que es­teve em Goi­ânia, no Te­atro Goi­ânia, que pro­jetou vá­rios ar­tistas. Como na­quele mo­mento a UNE tinha uma po­sição muito clara na luta de­mo­crá­tica pela luta de re­forma de classes, fi­quei com uma mi­li­tância mar­cada. Fui preso duas vezes, tor­tu­rado, quando já era di­ri­gente do PCdoB. Fi­quei 11 anos na clan­des­ti­ni­dade e de­pois de 17 anos voltei para Goiás.

COMO INI­CIOU NO PRO­CESSO ELEI­TORAL?

Os po­lí­ticos tra­di­ci­o­nais daqui dis­seram que eu de­veria ser can­di­dato a ve­re­ador, mas a de­cisão do meu par­tido era que eu fosse can­di­dato a de­pu­tado; isso quem disse foi o Mauro Borges, pre­si­dente do PMDB. Era di­fícil as pes­soas com­pre­en­derem na po­lí­tica tra­di­ci­onal o fato de ficar 17 anos fora e de não ter um vín­culo per­ma­nente. O mo­vi­mento da anistia era feito em torno de vá­rios nomes e eu des­taco o meu. Quando voltei para Goiás, tive uma re­cepção ca­lo­rosa; os jo­vens, os tra­ba­lha­dores e os se­tores mais cons­ci­entes da so­ci­e­dade abraçam a minha can­di­da­tura, a cam­panha mais bo­nita e mais leve, que foi ins­tru­mento de luta contra a di­ta­dura mi­litar, de afirmar a de­mo­cracia, ele­gendo pes­soas que ti­nham esse perfil po­lí­tico. Tive a honra, até como mi­li­tante da UNE, de ter o pro­jeto de lei apro­vado que le­ga­liza a UNE e os grê­mios es­tu­dantis, o que deu au­to­nomia po­lí­tica para Aná­polis, que era área de se­gu­rança na­ci­onal. Tenho vín­culo muito forte com a luta pela edu­cação, cul­tura, re­forma agrária. Li­gado ao meio am­bi­ente, lancei um livro sobre a questão am­bi­ental e mu­danças cli­má­ticas, trouxe um se­mi­nário in­ter­na­ci­onal sobre mu­danças cli­má­ticas com ci­en­tistas da China, dos EUA e grandes ci­en­tistas bra­si­leiros, re­pre­sen­tando os mo­vi­mentos so­ciais. Con­tinuo fa­zendo po­lí­tica de outra forma.

QUAL A DI­FE­RENÇA DA MI­LI­TÂNCIA NA ÉPOCA DA DI­TA­DURA MI­LITAR E AS LUTAS DOS MO­VI­MENTOS ES­TU­DANTIS DE HOJE?

É uma si­tu­ação di­fe­rente, porque na época, no inicio da mi­li­tância, o nível de po­li­ti­zação da so­ci­e­dade era muito ele­vada. Foi um mo­mento de muita li­ber­dade, foi um ne­gócio mar­cante na po­lí­tica bra­si­leira. Houve um pe­ríodo da luta contra a di­ta­dura mi­litar em que pes­soas foram presas. É um tipo de luta com­ple­ta­mente di­fe­rente, con­fron­tando com a pos­si­bi­li­dade de ser preso, as­sas­si­nato. Quando fui preso, foram as­sas­si­nados três com­pa­nheiros na cha­mada Cha­cina da Lapa. A luta po­lí­tica no pe­ríodo pos­te­rior vem com outra ca­rac­te­rís­tica – o Brasil se de­sen­volveu, houve um pro­cesso de es­tra­ti­fi­cação das classes so­ciais. A en­ti­dade que con­duzia era o mo­vi­mento es­tu­dantil, não tinha cen­trais sin­di­cais. O nível de or­ga­ni­zação era pe­queno, por exemplo, o mo­vi­mento cam­ponês era mí­nimo e o da in­te­lec­tu­a­li­dade menor ainda. Acho que com a di­ta­dura mi­litar teve dois ele­mentos que al­te­raram bas­tante o quadro: o papel di­fe­ren­ciado em que os tra­ba­lha­dores passam a jogar o papel maior na vida po­lí­tica do País, há uma al­te­ração disso. Uma coisa muito im­por­tante foi con­du­zida jun­ta­mente com a crise do so­ci­a­lismo – o pro­cesso de des­po­li­ti­zação, de dizer que es­tu­dante não podia par­ti­cipar da po­lí­tica. Uma re­beldia acaba jo­gando o jovem para a luta so­cial. É um sim­plismo dizer que a UNE na­quela época era boa, pois a UNE con­tinua com as mesmas ban­deiras, o que muda é o ce­nário. Agora a re­a­li­dade da so­ci­e­dade é outra, temos que en­frentar essa so­ci­e­dade e, par­ti­cu­lar­mente, acho que es­tamos vi­vendo um mo­mento novo após o go­verno Lula, não tenho a menor dú­vida disso.

A LUTA DOS MO­VI­MENTOS ES­TU­DANTIS, NO CON­TEXTO ATUAL, FICOU MAIS ACES­SÍVEL?

Hoje é mais com­plexo. Apesar de a di­ta­dura mi­litar ser mais pe­ri­gosa, era mais vi­sível; o ini­migo es­tava vi­sível, e hoje não. Em certo sen­tido, era mais di­fícil para co­locar a vida em risco, mas hoje tem um pro­blema, porque a grande mídia con­funde e não in­forma, é o grande ini­migo, e isso di­fi­culta muito a luta da ju­ven­tude e a luta po­lí­tica. Para de­mo­cra­ti­zação dos meios de co­mu­ni­cação seria ne­ces­sário uma cam­panha de es­cla­re­ci­mento da opi­nião pú­blica. Por exemplo, eu acho que uma en­ti­dade que po­deria as­sumir um li­de­rança assim é a OAB; a his­tória bra­si­leira deu à OAB um papel im­por­tante para o pro­cesso de de­mo­cracia, e a OAB po­deria ter a ini­ci­a­tiva da cam­panha da re­forma par­ti­dária e do fi­nan­ci­a­mento de cam­panha, pois é aí que está a raiz da cor­rupção.

O QUE MUDOU APÓS O GO­VERNO LULA?

Isso só foi pos­sível porque houve um acú­mulo da luta na di­ta­dura mi­litar, das pes­soas que mor­reram, e isso criou con­dição para uma nova si­tu­ação. Esse pro­cesso de acú­mulo de forças criou con­di­ções para que uma força po­lí­tica fosse se con­so­li­dando. A es­querda foi cres­cendo, o PCdoB cresceu, o que con­si­dero um fato im­por­tante. A his­tória de­monstra, o Brasil na época do FHC era uma coisa, hoje é outra, cresceu eco­no­mi­ca­mente, de­mo­cra­tizou o poder po­lí­tico em que o Brasil hoje é res­pei­tado, teve um papel des­taque no Rio+20. No pas­sado, eram os EUA vindo e dando o sinal, ou ou­tros países de­sen­vol­vidos; a nossa re­lação com o mundo mudou. Isso não sig­ni­fica dizer que o Brasil não tem mais pro­blemas, pelo con­trário, ainda temos muitos pro­blemas so­ciais. A di­fe­rença entre os mais ricos e po­bres ainda é muito grande, prin­ci­pal­mente entre os tra­ba­lha­dores do campo, a luta pela re­forma agrária.

O QUE É PRE­CISO PARA O DE­SEN­VOL­VI­MENTO DO PAÍS?

Por exemplo, eu acho que o Brasil para avançar hoje, para apro­fundar a de­mo­cracia, tem vá­rias ban­deiras, mas para mim tem duas que são de­ci­sivas, uma é a re­forma po­lí­tica no País. É ina­cei­tável que es­te­jamos vi­vendo um mo­mento em que o fi­nan­ci­a­mento de cam­panha é feito através do fi­nan­ci­a­mento pri­vado, o que re­sulta no ca­minho para a cor­rupção. Uma questão fun­da­mental para ir na raiz da cor­rupção, a ficha limpa ataca a con­sequência e não na causa. Deve haver me­didas di­fe­rentes e não as mesmas me­didas para de­litos di­fe­rentes, é uma coisa ir­ra­ci­onal. A so­lução é fi­nan­ci­a­mento pú­blico, voto lí­cito, é você for­ta­lecer os par­tidos po­lí­ticos. E a outra coisa, na minha opi­nião, é a de­mo­cra­ti­zação dos meios de co­mu­ni­cação, fun­da­mental para o avanço de­mo­crá­tico. Hoje há um grande mo­no­pólio dos meios de co­mu­ni­cação, onde a voz é de in­te­resse das mi­no­rias que detém o poder. Um exemplo fan­tás­tico é um da pre­si­denta da Ar­gen­tina, que diz “Que todos ha­blemos”. É que hoje a elite é que fala e é pre­ciso que os tra­ba­lha­dores também falem. É ne­ces­sário que se abram os meios de co­mu­ni­cação para os par­tidos po­lí­ticos, para as en­ti­dades so­ciais, para as uni­ver­si­dades. A de­mo­cracia avança assim que a so­ci­e­dade tem o co­nhe­ci­mento das di­versas con­cep­ções. Hoje você con­versa com um jovem e o dis­curso dele é o que a Globo falou.

E O QUE É PRE­CISO SER FEITO PARA RE­VERTER ESTE QUADRO?

Eu acho que é pos­sível se houver um grande mo­vi­mento da opi­nião pú­blica. Porque o Con­gresso, pela sua com­po­sição, não adota essa po­sição e in­ter­fere em pú­blicos econô­micos que não têm in­te­resse em mudar o jogo. Os par­tidos de opo­sição estão ex­pressos nos grandes meios de co­mu­ni­cação. É você pegar os grandes ca­nais de co­mu­ni­cação e não há ne­nhum que seja fa­vo­rável ao go­verno fe­deral.

COMO O GO­VERNO CON­SEGUE ES­TA­BI­LI­DADE?

Houve uma in­ves­tida no pro­blema do men­salão no pri­meiro man­dato do pre­si­dente Lula, e o que eles que­riam era o im­pe­a­ch­ment do pre­si­dente. E se isso ti­vesse acon­te­cido o Brasil não es­taria onde está em hi­pó­tese al­guma. Foi exa­ta­mente a partir do pre­si­dente Lula, da po­lí­tica, das me­didas que adotou, que o País ca­mi­nhou, e é claro que não existe go­verno sem erro. Não existe ética com­pleta e também não existe cor­rupção com­pleta. Como vemos, o porta da voz da ética era De­mós­tenes Torres. Agora você não pode res­pon­sa­bi­lizar o pre­si­dente por pro­blemas lo­ca­li­zados. Agora vamos ver com o jul­ga­mento do men­salão, es­pero que façam um jul­ga­mento téc­nico. Qual é o pano de fundo disso? É de­bi­litar a imagem do pre­si­dente, a grande mídia ba­tendo no go­verno, e isso é ina­cei­tável. E a grande ver­dade é que o pre­si­dente Lula é a maior li­de­rança po­lí­tica que o Brasil já teve. Ele se trans­formou na maior li­de­rança até mais que o pre­si­dente Ge­túlio Vargas, e as elites não fi­caram sa­tis­feitas. É im­por­tante per­ceber que, na his­tória do Brasil, sempre que um pre­si­dente adotou as causas sobre os po­bres, as elites re­pre­endem. Jânio Gou­lart foi le­vado ao golpe, e até com Jus­ce­lino ten­taram golpe. É pre­ciso mudar, mas para tudo isso a so­ci­e­dade tem que ter in­for­mação, essas coisas chegam muito li­mi­tadas à cons­ci­ência das pes­soas, por isso que falo que para a so­ci­e­dade avançar, con­so­lidar uma de­mo­cracia efe­tiva, é pre­ciso que a cons­ci­en­ti­zação po­lí­tica cresça com vi­sões di­fe­rentes.

DI­ANTE DESSA CAM­PANHA CONTRA O GO­VERNO FE­DERAL, POR QUE ESSA CON­CEN­TRAÇÃO MI­NO­RI­TÁRIA NÃO CON­SE­GUIU IM­PEDIR A LI­DE­RANÇA DO GOVERNO?

Coisa in­te­res­sante. Sabe por que? Porque ele con­se­guiu fazer o que os ou­tros pre­si­dentes que ca­mi­nharam em de­fesa dos tra­ba­lha­dores não fi­zeram, que é tomar me­didas pro­fundas de be­ne­fí­cios das ca­madas mais po­bres, esse que foi o X da questão. Ao mesmo tempo que es­tavam dis­cu­tindo o men­salão, o sa­lário dos tra­ba­lha­dores au­mentou, têm casa para morar, têm em­prego, têm edu­cação. Me­lhorou ob­je­ti­va­mente, e essa si­tu­ação es­ta­bi­lizou o go­verno. Esse dis­curso que a elite faz atinge os se­tores pe­quenos na so­ci­e­dade. O povão está em outra quando ques­ti­o­nado sobre o men­salão. É a so­lidez das me­didas no con­junto da so­ci­e­dade, até no setor em­pre­sa­rial. An­ti­ga­mente, os bra­si­leiros que saiam do País; hoje temos os ame­ri­canos que pro­curam em­pregos aqui no Brasil, que coisa in­te­res­sante. Era a maior com­pli­cação con­se­guir um visto, hoje o pre­si­dente Obama veio a pú­blico chamar os bra­si­leiros para o país, para fa­ci­litar. Não mudou gra­tui­ta­mente. As po­lí­ticas in­ternas ado­tados jun­ta­mente com as in­fluên­cias ex­ternas que aju­daram o Brasil a ca­mi­nhar. Esse ne­gócio do men­salão vai es­gotar, terá um jul­ga­mento téc­nico e não po­lí­tico. Se olhar os edi­to­riais dos jor­nais, não há o que julgar mais, já está jul­gado. A opo­sição hoje não tem dis­curso, está com­ple­ta­mente acuada e as ex­pec­ta­tivas dos meios de co­mu­ni­cação era abalar a li­de­rança do pre­si­dente Lula, que, nas pes­quisas, hoje tem mais in­ci­dência para ser pre­si­dente da Re­pú­blica no­va­mente do que a pró­pria pre­si­denta Dilma. Eles pen­saram que iriam ani­quilar a par­tido de es­querda, até apres­sando o jul­ga­mento, visto que es­tamos em pe­ríodo de elei­ções, mas não é o que acon­tece.

PARA AS ELEI­ÇÕES MU­NI­CI­PAIS, QUAL A RE­PRE­SEN­TA­TI­VI­DADE DO PAR­TIDO CO­MU­NISTA?

Como você pode ver, o PCdoB tem hoje a grande van­tagem de ir para o se­gundo turno nas grandes ca­pi­tais como Ma­naus, Flo­ri­a­nó­polis e Porto Alegre, o que é um fato his­tó­rico, porque até certo tempo dis­seram que o par­tido co­mu­nista tinha aca­bado no Brasil. E a crise do ca­pi­ta­lismo, pelo con­trário, trouxe à tona exa­ta­mente a ne­ces­si­dade de uma so­ci­e­dade su­pe­rior. O mar­xista era con­si­de­rado como algo aca­bado, mas hoje até a aca­demia uti­liza os ins­tru­mentos de Marx para aná­lise da crise do ca­pi­ta­lismo. Co­lo­cando a so­ci­e­dade na pers­pec­tiva mais avan­çada, isso está re­la­ci­o­nado com os países em de­sen­vol­vi­mento, papel que a China joga no mundo, que é co­mu­nista, e tem grande ex­pres­si­vi­dade econô­mica mun­dial com a pers­pec­tiva de ul­tra­passar os EUA. No Es­tado, o par­tido es­tava em um mo­mento po­si­tivo. Claro que cada Es­tado tem suas par­ti­cu­la­ri­dades. Esse fato pode ser exem­pli­fi­cado por termos uma can­di­data em se­gundo lugar nas pes­quisas. É muito sig­ni­fi­ca­tivo. No pas­sado, havia muita dis­cri­mi­nação, que aos poucos é dis­sol­vida com a re­a­li­dade. O mi­li­tante faz po­lí­tica por ideal, que for­ta­lece o par­tido. Um exemplo é o Ne­tinho – teve 7 mi­lhões. Onde já se viu um co­mu­nista ter esse nú­mero de votos? Aqui em Goiás o par­tido está se con­so­li­dando, se afir­mando não só nas ques­tões lo­cais. Por exemplo, o que acon­teceu aqui com o Ca­cho­eira pra­ti­ca­mente re­vo­lu­ci­onou a po­lí­tica goiana, isso levou com que o go­verno do Es­tado fi­casse sem base po­lí­tica, com­ple­ta­mente na de­fen­siva, tanto que não ti­veram con­di­ções de lançar can­di­dato. Sa­bemos que é pos­sível avançar. É um fenô­meno in­te­res­sante, além de ser co­mu­nista, e há mu­lheres em todos as ou­tras ci­dades. Assim como a ju­ven­tude muitas vezes não segue os in­te­resses dos pais, por ide­a­lismo possui opi­nião con­traria e isso acon­tece com as mu­lheres. Tanto assim que a pre­si­denta é uma mu­lher. Para você ver que a so­ci­e­dade está avan­çando, ele­gemos um ope­rário que não tem fa­cul­dade, não tinha uni­ver­si­dade, e agora ele­gemos uma mu­lher. É um avanço.

COMO AVALIA O GO­VERNO NA CA­PITAL?

É ra­zoável. Cada dia que eu fico mais velho per­cebo isso. É um erro você querer ab­so­lu­tizar as coisas. A re­a­li­dade é mais com­plexa, ela é con­tra­di­tória, tem fa­tores de atraso e de avanço. O que você pre­cisa ana­lisar é o que é mais re­le­vante em de­ter­mi­nado mo­mento. O co­mu­nismo é a so­ci­e­dade do fu­turo, mas, para chegar a isso, terá vá­rios es­tá­gios. Nossa con­cepção é ci­en­tí­fica, na his­tória da so­ci­e­dade. Por exemplo, na Eu­ropa ti­vemos o es­cra­vismo, que, em de­ter­mi­nado mo­mento, foi fi­na­li­zado. Outro tipo de so­ci­e­dade que se formou foi o feu­da­lismo, que se es­gotou. De­pois veio o ca­pi­ta­lismo. Assim como as pes­soas nascem, crescem, se de­sen­volvem e morrem, na so­ci­e­dade também é o mesmo pro­cesso. O ca­pi­ta­lista acha que é um ab­surdo, não ad­mite, mas a vida é assim. O co­mu­nismo é uma so­ci­e­dade que não tem classe ou tipo su­pe­rior. Marx uti­li­zava um lema a cada um con­forme seu tra­balho, e no co­mu­nismo é a cada um con­forme suas ne­ces­si­dades. O que é com­pli­cado, porque a so­ci­e­dade ainda é car­re­gada de muito pre­con­ceito. Tem que ter uma si­tu­ação de tran­sição, em que as pes­soas têm que ser edu­cadas. A so­ci­e­dade co­mu­nista como um fu­turo. O pro­blema da so­ci­e­dade so­ci­a­lista é que con­quistam o poder pelos tra­ba­lha­dores.

EM QUAL ES­TÁGIO DE DE­SEN­VOL­VI­MENTO O PAÍS SE EN­CONTRA?

A im­prensa fala na mão da mi­noria, porque o poder po­lí­tico está na mão da mi­noria. A es­sência da tran­sição do so­ci­a­lismo para o co­mu­nismo é que o poder passa para as mãos dos tra­ba­lha­dores. Não é só o go­verno, mas o poder, e isso im­plica na so­ci­a­li­zação dos meios de pro­dução. Sig­ni­fica que a pro­pri­e­dade passa a ser so­cial. Hoje se vive uma si­tu­ação meio es­drú­xula, em que a pessoa é dona de uma coisa, lá co­loca al­guns tra­ba­lha­dores, e ela fica ga­nhando em cima do tra­balho dessas pes­soas – é uma so­ci­e­dade ir­ra­ci­onal. Agora, isso, em um de­ter­mi­nado es­tágio da evo­lução da hu­ma­ni­dade, foi avanço; em um de­ter­mi­nado mo­mento, já passa a ser re­tro­cesso. Não é gra­tuita a po­sição da grande mídia, que re­pre­senta esses in­te­resses que não querem mu­dança, não querem trans­for­mação. É um pro­cesso de luta po­lí­tica. Nós es­tamos em um es­tágio de tran­sição para uma so­ci­e­dade mais de­mo­crá­tica. Quando se fala em apro­fundar a de­mo­cracia, não é só a po­lí­tica, é a econô­mica, cul­tural, so­cial, a de­mo­cracia do fi­nan­ci­a­mento de cam­panha, dos meios de co­mu­ni­cação; é isso que sig­ni­fica o apro­fun­da­mento da de­mo­cracia. Mas esse é um pro­cesso de­mo­rado. Falo do co­mu­nismo para um pe­ríodo longo e que não sa­bemos como vai ser. A so­ci­e­dade vai se or­ga­ni­zando. É um pro­cesso de pre­pa­ração lenta.

E QUANTO À DIS­CUSSÃO SOBRE O CÓ­DIGO FLO­RESTAL?

Uma das ques­tões pri­mor­diais do có­digo foi dar um tra­ta­mento di­fe­ren­ciado para pe­quenos e grandes pro­du­tores ru­rais. Eu acho que não é ra­zoável você exigir de um pe­queno pro­dutor as mesmas re­gras do grande pro­dutor. Se fosse co­locar área de pre­ser­vação flo­restal com a re­serva flo­restal, o pe­queno pro­dutor fi­caria com pouquís­sima terra para pro­duzir, então um con­ceito que você tem de de­sen­vol­vi­mento sus­ten­tável é você com­binar a pre­ser­vação am­bi­ental com o de­sen­vol­vi­mento econô­mico e com as ques­tões so­ciais. Então, não é viável você co­locar re­gras para os pe­quenos pro­du­tores em con­di­ções que não con­sigam pro­duzir.
Danyla Martins para Diário da Manhã

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