O tema da discriminação racial e seus
desdobramentos é recorrente na obra de Lélia, porém, hoje, um texto me chamou
especial atenção. Em “Alô, alô, Velho Guerreiro! Aquele abraço!”¹, a pensadora
mineira dá início a suas reflexões lembrando o Dia Internacional pela
Eliminação da Discriminação Racial e retomando uma fala do apresentador
Chacrinha sobre a temática.
Sem papas na língua, o Velho Guerreiro frisou a
existência da discriminação racial do Brasil e citou práticas televisivas
reprováveis – mas não surpreendentes. Na entrevista citada, ele detalhou o dia
a dia do mundo da TV, que incluía a proibição das câmeras focarem diretamente o
auditório, para que negros e negras não fossem mostrados na telinha.
Quarenta anos depois, o Brasil segue escondendo a
população negra e, quando não é possível, articula-se para nos eliminar a todo
custo. No século 21, pretenso símbolo de futuro, nosso país continua a deixar a
população negra liderando trágicas estatísticas, como a de mortes evitáveis, de
desemprego e de analfabetismo² , entre outras.
As taxas de homicídios de negros e negras, por
exemplo, crescem a cada ano enquanto a taxa de não-negros diminui no mesmo
recorte temporal³ . Movimentos racistas e conservadores parecem ganhar força
nos últimos tempos, colocando em xeque a atual democracia brasileira. Diante de
um
cenário tão caótico e pouco promissor, o que fazer?
Na carta a Chacrinha, Lélia adverte: “Mas nem por
isso vamos ficar passivamente calados assistindo à decadência desse império
romano de hoje que é a chamada civilização ocidental. Afinal, somos os bárbaros
que o derrubarão. Por isso mesmo temos que assumir nossos bárbaros valores,
lutar por eles e anunciar uma nova era. Nova era de que somos os construtores”.
Ou seja, a despeito de toda dor e retrocesso,
haverá futuro e, se tudo sair como o esperado, será bem diferente do presente
que insiste em manter a discriminação racial e seus nefastos resultados.
Texto de Maíra de Deus Brito
Acompanhe o Projeto Lélia Gonzalez Vive no Instagram e
no Facebook
Referências
1. GONZALEZ, Lélia. Por um feminismo
afro-latino-americano: ensaios, intervenções e diálogos. RIOS,
Flavia; LIMA, Márcia (org.). Rio de Janeiro: Zahar, 2020, p. 179-182.
2. REVITA PIAUÍ. Dia da Consciência Negra: números expõem desigualdade racial
no Brasil. Disponível em:
<https://piaui.folha.uol.com.br/lupa/2019/11/20/consciencia-negra-numeros-brasil/>.
3. BRITO, Maíra de Deus. Não. Ele não está. Curitiba: Appris, 2018.
·
Dia Internacional
pela Eliminação da Discriminação Racial, Lélia Gonzalez Vive, racismo
Nenhum comentário:
Postar um comentário