Para
Denise Gentil, 2 reformas levaram país a esse lugar no ranking: a Trabalhista,
que derrubou a renda; e a da Previdência, que mudou critérios, aumentou
exigências e tirou de muitos a chance de aposentadoria.
O Brasil é o segundo pior país do mundo para
aposentados, segundo um ranking global da empresa norte-americana Natixis
Investiment Managers, que analisou os impactos da saúde, finanças, qualidade de
vida e bem-estar material na vida de quem já deixou o mercado de trabalho.
Dentre os 44 países analisados, o Brasil ocupou a
43ª posição, só ganhando da Índia, que ficou em último lugar. Os três melhores
países para aposentados são: Noruega, Suíça e Islândia. Veja a
classificação geral abaixo.
Segundo o estudo, em 2022, a crescente inflação é o
que contribui para a má qualidade de vida dos aposentados, seguida pela alta de
petróleo, alimentos e habitação, que têm corroído o poder de compra dos mais
velhos.
A má posição do Brasil no ranking de melhores
países para aposentados é mais uma herança maldita do golpe que destituiu a
presidente Dilma Rousseff (PT) dando início a uma escalada de retirada de
direitos da classe trabalhadora.
Será o legado deixado para os trabalhadores pelo
ilegítimo Michel Temer (MDB-SP), pai da reforma Trabalhista, que acabou com
mais de 100 itens da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), e pelo
presidente Jair Bolsonaro (PL), que mandou para o Congresso a proposta de
reforma da Previdência, aprovada pela maioria dos parlamentares, que acabou com
o sonho de aposentadoria de milhões de trabalhadores.
Segundo a economista, especialista em Previdência e
professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Denise Gentil, que
não se surpreendeu com o resultado da pesquisa, mais do que a inflação, foram
as reformas aprovadas em 2017 e 2019 que contribuíram para a queda na renda e a
piora na qualidade de vida dos aposentados.
Para ela, a reforma da Previdência de Bolsonaro
ajudou a piorar essa situação e foi a pá de cal para os trabalhadores e
trabalhadoras que sonham com uma aposentadoria digna.
“A reforma Trabalhista legalizou o trabalho
precário, o bico, a terceirização, o pagamento por hora e uberizou as relações
de trabalho. Sem renda, ganhando algumas vezes menos do que o salário mínimo, o
trabalhador não consegue contribuir com a Previdência, e se ficar dois, três
anos sem pagar ele perde o vínculo com o INSS [Instituto Nacional do Seguro
Social]”, diz a economista.
De acordo com ela, essa precariedade se reflete em
outros auxílios como doença, acidente, desemprego e Fundo de Garantia por Tempo
de Serviço (FGTS), entre outros, e o trabalhador que quer se aposentar perde
renda.
“A reforma
trabalhista precarizou a Previdência. Sem renda não há contribuição e sem
contribuição não há renda para a aposentadoria”, diz Gentil.
Para piorar, prossegue, dois anos depois, em 2019
vem a reforma da Previdência que passou a fazer uma série de exigências,
aumentando a idade de aposentadoria de homens e mulheres, mais tempo de
contribuição e reduziu o ganho final. Por isso, não me surpreende estarmos no
fim da fila de melhores países para a aposentadoria.
Tanto a reforma Trabalhista como a da Previdência
têm como objetivo a financeirização. Os bancos e setores financeiros querem
privatizar a Previdência e para isso forçam a redução de direitos trabalhistas,
impedindo que o trabalhador consiga pagar uma previdência pública
- Denise Gentil
A economista explica que embora quem não consegue
pagar o INSS também, provavelmente, não tenha recursos para pagar uma
previdência privada, ainda assim é de interesse do mercado financeiro que a
classe média pague um plano de saúde, um fundo de previdência, um seguro-
desemprego, entre outras ofertas de bancos, que hoje, em sua maioria, é
responsabilidade da rede pública.
“Bancos e o setor financeiro têm poder enorme sobre
as políticas sociais e econômicas do governo e a intenção deles sempre foi
privatizar e reduzir diretos trabalhistas, dentro da lógica da primazia do
setor financeiro sobre os demais setores produtivos da sociedade. A
precarização é consequência direta da financeirização, da hegemonia dos
interesses financeiros sobre os setores produtivos”, analisa.
Queda de receita na Previdência
Segundo Denise Gentil, a arrecadação da Previdência
caiu a níveis de 2012, um retrocesso de 10 anos com a redução no número de
contribuintes.
“Isto é muito grave por que o correto seria ter um
aumento, uma evolução como em toda a sociedade. É óbvio que contribuições à
previdência e as relações de trabalho têm uma relação umbilical”, diz Gentil.
“O impacto foi muito grande, e é visível o
empobrecimento e a fome que são resultados do mercado de trabalho e da
incapacidade do governo em atender os mais pobres, pois mesmos os trabalhadores
formais, com carteira assinada estão absolutamente precarizados, com salários
achatados”, conclui.
Metodologia da pesquisa
O Índice Global de Aposentadoria Natixis engloba os
países com economia desenvolvida e os que fazem parte dos Brics (Brasil,
Rússia, Índia e China).
Três países da América Latina estão melhor
colocados que o Brasil: Colômbia, México e Chile. Todos deles, porém, com baixo
índice de bem-estar na aposentadoria, abaixo de 40%. O item em que o Brasil se
saiu pior foi em Bem-estar Material, mas aparece um pouco melhor em Saúde,
Finanças e Qualidade de Vida. No caso do Brasil, o índice é de 4% - é a pior
nota do índice para os países latinos.
Por outro lado, o Brasil ocupa o primeiro lugar em
taxas de juros e o quinto em dependência dos aposentados de serviços públicos
na velhice. No geral a pontuação brasileira ficou em 34%.
Fonte: CUT NACIONAL
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