As redes sociais hoje são usadas "tanto pelos manipuladores como pelos jovens que tentam mudar o mundo", e a esquerda perdeu neste jogo para a extrema-direita.
Jornal GGN – O Brasil vive, desde a eleição de Jair Bolsonaro, um novo tipo de ditadura. Nela, “as instituições estão preservadas, mas se manipulam tanto por poderes econômicos, quanto por poderes ideológicos.” Como os regimes autoritários já não ocorrem mais com golpes e tanques nas ruas, o que temos é uma “ditadura Orwelliana, de ocupar as mentes.” É o que afirma o pensador Manuel Castells em entrevista divulgada pelo jornal O Globo nesta terça (17).
“O Brasil, nesse momento, perdeu a influência da Igreja Católica que foi muito tradicional durante muito tempo na História, mas ganhou algo muito pior que são as igrejas evangélicas, para quem claramente não importa a ciência e a educação, porque quanto mais educadas e informadas estejam as pessoas, mais capacidade terão de resistir à doutrinação. O mesmo acontece com o presidente (Bolsonaro) e com o regime que está instalando. Não se pode fazer uma ditadura antiga, que se imponha com o exército, mas uma ditadura Orwelliana, de ocupar as mentes”, disse.
“Isso se faz acusando de corrupção qualquer tipo de oposição. Como a corrupção está em toda parte, então persegue-se apenas a corrupção de políticos e personalidades que se oponham ao regime. Esse tipo de ditadura só pode funcionar com um povo cada vez menos educado e mais submetido à manipulação ideológica”, acrescentou.
Segundo Castells, a direita e extrema-direita conseguiu aprender as técnicas “de desinformação e manipulação, que incluem a utilização massiva de robôs manipulados por organizações como o Movimento Brasil Livre (MBL) e financiadas pela extrema direita internacional, que estão preenchendo as redes sociais e manipulando-as muito inteligentemente, de forma que a construção coletiva do que ocorre na sociedade está totalmente dominada por movimentos totalitários, que querem ir pouco a pouco anulando a democracia.”
Bolsonaro alimenta essa ditadura com ataques à educação, porque a chave está aí: “pensar é perigoso”. “Por isso, digo que é uma ditadura, ainda que de novo tipo. É uma ditadura da era da informação.”
É entendendo o que aconteceu com a sociedade na era da informação que podemos compreender o fenômeno Bolsonaro. Não basta o cidadão ter acesso a dados e informações massivamente através das redes. Ele preciso ter educação para interpretar o que está recebendo de informação. E, de outro lado, há um componente psicológico e emocional que interfere no tipo de informação que é consumida por cada cidadão.
“As pessoas não leem os jornais ou veem o noticiário para se informar, mas para se confirmar. Leem ou assistem o que sabem que vão concordar. Não vão ler algo de outra orientação cultural, ideológica ou política”, afirmou Castells.
“Vivemos em uma sociedade de informação desinformada. Temos mais informação do que nunca, mas a capacidade de processá-la e entendê-la depende da educação.”
Leia a entrevista completa aqui.
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