Eram 150 mil nas ruas de Brasília. Após a concentração desde a madrugada da quarta-feira (24), no estádio Mané Garrinha, ao meio-dia começou a marcha em direção à Esplanada dos Ministérios. Bandeiras, palavras de ordem, faixas, inúmeras faixas e, sobretudo, muita disposição de luta. Afinal, as caravanas vieram dos quatro cantos do Brasil. Norte, Sul, Leste e Oeste para ocupar a capital federal.
"Um, dois, três, quatro, cinco mil ou param as reformas ou paramos o Brasil” era uma das palavras que sempre culminavam com um coro coletivo ouvido de ponta a ponta da manifestação: “Fora Temer, Fora Temer”. Os que foram a Brasília estão com disposição “até os dentes” de defender seus direitos trabalhistas e a aposentadoria não sem antes derrubar o governo Temer.
(foto: Andes-SN)
Operários da construção civil, petroleiros, metalúrgicos, trabalhadores da educação e da saúde, químicos, servidores públicos das três esferas, trabalhadores dos Correios, têxteis, bancários, comerciários, papeleiros, metroviários, condutores, trabalhadores rurais, movimentos que lutam por moradia, por reforma agrária, pela demarcação das terras indígenas e quilombolas, juventude e os que lutam contra as opressões machista, racista e a LGTBfobia. Eram muitos os segmentos sociais que ocupavam as ruas de Brasília nesta manifestação histórica. Algumas caravanas levaram mais de 30 horas de viagem.
Ainda foi lembrada a solidariedade internacional que a mobilização brasileira vem recebendo com uma faixa chamando a tenção as bandeiras de luta no Brasil.
“Vale a pena o esforço, a gente tem que defender o que é nosso ou esses salafrários roubam tudo da gente”, disse mencionando as reformas previdenciária e trabalhista o operário da construção civil de Fortaleza (CE) que não quis se identificar. “Não quero ter problema no trabalho porque vim pra cá, mas dei um jeito e vim”, disse orgulhoso.
Pois foram esses trabalhadores que enfrentaram a possibilidade de sofrer represálias no trabalho e horas de estrada que os mesmos que foram recebidos a base de balas de borracha, armas de fogo, bombas de gás lacrimogêneo e de gás pimenta. Com cavalaria do Exército. Havia idosos e crianças na manifestação. Uma repressão criminosa e desnecessária!
O #OcupeBrasília foi convocado de forma unitária pelas nove Centrais Sindicais brasileiras como um protesto pacífico em defesa dos direitos trabalhistas e contra a reforma da Previdência e as terceirizações. “Com a proximidade da data e a delação premiada dos donos da JBS durante investigações da Operação Lava Jato, que envolviam o presidente Michel Temer e tantos outros políticos, foi consenso entre as Centrais defender o ‘Fora Temer’”, resgatou Luiz Carlos Prates, o Mancha, da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas, sobre a convocação unitária da manifestação.
Covarde repressão
A repressão da Polícia Militar do Distrito Federal, comandada pelo governador Rodrigo Rollemberg (PSB), revistou manifestantes no trajeto da Esplanada, bloqueou a entrada da Praça dos Três Poderes, e estava disposta a reprimir a qualquer respiro dos manifestantes. E Temer não gostou de ouvir 150 mil vozes gritando na Esplanada para que ele caísse. 150 mil vozes dispostas a derrubá-lo. Quando a repressão já estava instalada, o presidente, não satisfeito, decretou a “Garantia de Lei e de Ordem” em todo o Distrito Federal até o dia 31 de maio. Se valendo da Lei Complementar nº 97/1999 e do artigo 84 da Constituição Federal, colocou as Forças Armadas para reprimir brutalmente a manifestação.
Ao total 1300 militares do Exército, Marinha e Aeronáutica, segundo o El País, se posicionaram na Esplanada dos Ministérios. A indignação foi absoluta. Um aparato de bombas de gás lacrimogêneo e gás pimenta, armas de fogo e cavalaria contra os manifestantes.
“Gás de pimenta arde os olhos, as narinas, a garganta”, dizia uma senhora, aparentando ter aproximadamente 60 anos, ex-servidora pública aposentada, que corria assustada. A cada bomba jogada, os manifestantes recuavam, correndo, se atropelando, procurando água, vinagre ou algo que pudesse amenizar aquela ardência desesperadora.
A resistência
O que Temer e seus cupinchas não contavam é que da mesma forma que os manifestantes corriam das bombas, voltavam em seguida mais determinados a resistir. A cada bomba, o “Fora Temer” voltava mais forte. Para se defender, queimavam pneus, montavam barricadas e não recuavam.
(foto: Romerito Pontes)
Nem as informações da Secretaria de Saúde do DF uma pessoa havia sido baleada e internada no Hospital de Base e que provavelmente haveria em torno de 80 manifestantes feridos foram suficientes para deter a resistência dos que estavam presentes. A CSP-Conlutas se solidariza com cada companheiro, cada companheira que foi ferida nesta violenta repressão.
A presidente do ANDES-SN, Eblin Farage, também da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas acredita que numericamente a manifestação que esperava 100 mil pessoas superou expectativas. “Colocamos 150 mil pessoas nas ruas, foi uma das maiores marchas da história de Brasília. Foi uma vitória a construção unitária entre as centrais sindicais, assim como a Greve Geral de 28 de abril. É mais uma prova de que quando queremos fazer coisas de forma unitária, temos ótimos resultados. Esse deve ser o caminho para derrubarmos o Temer, barrar as contrarreformas e reverter os projetos que já foram aprovados e retiraram direitos dos trabalhadores”, afirmou.
Próximos passos
De fato, os 150 mil que ocuparam Brasília são expressão de uma mobilização crescente que não se constrói desde hoje, mas ganhou força nas recentes atividades unitárias marcadas pelas Centrais Sindicais e movimentos. O Dia Internacional da Mulher, no último 8 de março, e o dia 15 com Paralisação Nacional e Lutas, impulsionaram a forte Greve Geral realizada no 28 de abril e culminaram com o #OcupeBrasília. “E nada mais lindo do que a classe trabalhadora em movimento!”, ressaltou Paulo Barela, da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas.
“Hoje foi apenas uma demonstração da nossa força! Quando o povo se organiza e vai à luta é capaz de coisas incríveis. Hoje foi só um passo. Avançaremos, porque queremos mais! Queremos derrubar Temer, queremos por pra fora todos os pilantras do Congresso Nacional, queremos retomar o poder que é nosso, mas é tomado e usurpado e jogado contra nós por políticos mancomunados com empresários e banqueiros!”, reforçou a aguerrida dirigente do Luta Popular, Irene Maestro.
A CSP-Conlutas defende que esta mobilização dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros avance em seus próximos passos. “Agora, é necessário que organizemos uma Greve Geral de 48 horas. Só com o acúmulo e fortalecimento da luta dos trabalhadores, vamos conseguir derrotar as reformas de Temer e derrubar de vez este governo”, destaca Barela.
A CSP-Conlutas faz um chamado às Centrais Sindicais para que convoquem imediatamente uma Greve Geral de 48 horas nos país.
Fonte> CONLUTAS/CSP
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