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Cinco motivos para o Brasil destinar mais recursos e esforços a essa área
Por Sandra Soares
Investir em educação provoca uma espécie de efeito dominó às avessas. Em vez de derrubar, alavanca uma série de setores, como o consumo, a saúde, a habitação, a segurança e por aí vai. Pessoas mais bem instruídas têm empregos melhores, salários maiores e, conseqüentemente, um poder de compra maior. Uma população com mais anos de estudo tende a cuidar melhor da saúde e a cometer menos crimes. Muitos especialistas em educação alertam que a relação entre a evolução na qualidade de ensino e a melhora nos índices sociais e econômicos não é tão direta e previsível, mas certamente é consenso entre economistas e educadores que educação de qualidade para todos é condição essencial para o desenvolvimento do país. Confira a seguir cinco motivos para o Brasil apostar dinheiro, tempo e esforços nessa área.
1. Nações que investiram têm melhor distribuição de renda entre seus cidadãos
Cláudia Queiroz dirige seu próprio carro, um Palio, e acaba de comprar um apartamento de três quartos no Buritis, bairro de classe média alta de Belo Horizonte. Fala italiano fluentemente, está aprendendo o inglês e já viajou para a Europa a trabalho. Funcionária da Fiat desde 2001, ela leva, aos 35 anos, uma vida bem diferente da de seus pais, a lavadeira Maria do Carmo e o operário de mineração aposentado João Apolônio, ambos analfabetos. Excluídos da sociedade de consumo da qual a filha hoje faz parte, eles nunca sequer saíram de Minas Gerais. Por que com Cláudia foi diferente? Porque ela estudou. Formou-se técnica em eletrônica por uma escola pública e, anos depois, em engenharia elétrica pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG). "Sempre tive convicção de que, se pudesse chegar à faculdade, conquistaria um futuro melhor", diz. A história da engenheira de Belo Horizonte ilustra o que inúmeras pesquisas sobre a relação entre ensino e desenvolvimento já comprovaram: o primeiro leva ao segundo, ou seja, educação implica em crescimento. Estados Unidos, Japão, Canadá e Coréia do Sul, por exemplo, têm em comum, além da força econômica e da melhor distribuição de renda, o investimento pesado na instrução de seus cidadãos. Segundo um levantamento do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA), cada ano de estudo representa um acréscimo de 16% no rendimento mensal. Se a pessoa chega então a completar um curso superior, ela recebe, em média, salário 168% maior em comparação com os ganhos de quem não foi além do ensino médio, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
2. O Brasil está ficando para trás em relação a outros países
Autor do livro A Ignorância Custa um Mundo, vencedor do Prêmio Jabuti de 2005, o economista Gustavo Ioschpe debruçou-se durante dois anos sobre números e estatísticas para concluir: deficiente nessa área, o país está perdendo o bonde da história. Nas nações desenvolvidas, em média sessenta de cada cem habitantes chegam à universidade. Nos Estados Unidos a taxa de matrícula no ensino superior é ainda maior, de 90%. O índice brasileiro (20%) equivale à metade dos índices de Chile, Venezuela e Uruguai. Ou seja: se antes estávamos em desvantagem em relação aos países mais ricos, fomos ultrapassados também pelas nações menos desenvolvidas. Investir, no caso dos países que têm a educação como meta, não é apenas uma questão de volume de dinheiro, mas principalmente de foco na qualidade do ensino, sua fiscalização e divulgação como valor. Em 2000, por exemplo, o mau desempenho da Alemanha na prova do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), aplicada em 32 países, foi tratada como um escândalo pela imprensa do país. A Alemanha ficou em último lugar no teste, ao lado do Brasil. Enquanto nós não tomamos nenhuma providência, os germânicos reagiram e assinaram programas de intercâmbio de seus professores com a Finlândia - que ficou em primeiro lugar. Resultado: Na edição do Pisa seguinte, a Alemanha aparecia na 20ª posição numa lista de 41 nações.
3. Falta gente qualificada no mercado de trabalho
O reflexo da falta de formação da população já se faz sentir nas empresas. Há cerca de dois anos o país vem crescendo a um ritmo mais acelerado - passou de 2,5% ao ano para cerca de 4% -, mas o desemprego, que deveria ter diminuído, em alguns setores se agravou, entre eles o da construção civil. A explicação é simples. Embora novos postos de trabalho tenham surgido, não há profissionais suficientemente qualificados para ocupá-los. Considerando-se os avanços tecnológicos cada vez mais acelerados, o cenário futuro deverá ser ainda mais exigente. "Numa comparação com o futebol, dá para dizer que o Brasil, ao acertar seus índices macroeconômicos, conseguiu botar o campo e as travas em ordem", diz o economista Ioschpe. "Mas seus jogadores são muito fracos, despreparados... Então de quê adianta?" O empresário Pedro Herz, dono da rede Livraria Cultura, sente os efeitos dessa realidade quando precisa contratar gente para suas sete lojas. Oferecer atendimento especializado sempre foi um diferencial da empresa. "Se a pessoa procura uma obra de Platão, por exemplo, o funcionário deve pelo menos saber que se trata de um filósofo", diz Herz. A Livraria Cultura aplica testes de conhecimentos gerais durante o processo de seleção, mas vinha encontrando dificuldade para preencher suas vagas porque os candidatos, mesmo os que têm segundo grau completo, não atingiam a pontuação mínima. Como a empresa está em processo de expansão, o jeito foi investir em treinamento, oferecendo cursos de português e ajuda financeira para quem quer cursar uma universidade.
4. Investimentos privados pautam ações de prefeitos e secretários municipais
Dos 65 bilhões de reais que o Brasil investe por ano em ensino, apenas 1,5 bilhão são provenientes da iniciativa privada. O número pode parecer pequeno se comparado ao todo, mas custear a educação da população, em qualquer país, sempre foi responsabilidade do governo. Essa participação dos empresários é importante não só do ponto de vista financeiro mas, também, por colocar determinados projetos na vitrine. Na avaliação de Priscila Cruz, diretora executiva do Todos pela Educação, movimento empresarial que defende reformas na educação, uma colaboração puxa a outra. Ela explica: "Se uma grande empresa custeia programas de alfabetização, por exemplo, a idéia ganha publicidade e indica aos prefeitos e secretários que esse caminho é bom. Boa parte desses gestores não tem formação na área de educação. Na realidade, algumas vezes eles nem possuem formação nenhuma."
5. A baixa qualidade da educação estimula a evasão escolar
Prova de que a qualidade da educação brasileira é baixa, o Indicador de Alfabetismo Funcional (INAF), calculado pelo Instituto Paulo Montenegro, demonstra que quase um terço da população não consegue ler e compreender textos simples. O ensino fundamental já atende 97% das crianças brasileiras, mas o índice cai para 45,3% no ensino médio. "O acesso à educação cresceu nos últimos 10 anos, mas sua qualidade, paradoxalmente, caiu", afirma o economista Marcelo Neri, diretor do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro. O índice de repetência na primeira série de alunos da rede pública é de 32%. Dois terços dos estudantes de 14 anos estão abaixo da 8ª série, isto é, atrasados. Os maus resultados, claro, desestimulam muitos a seguir em frente.
Fonte: Educar Para Cescer
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