Por Vinícius Soares, Biólogo,
mestre em Biologia Celular e Molecular Aplicada, Residente de Saúde Coletiva,
Diretor de Comunicação da Associação Nacional de Pós-Graduandos e membro da
Executiva Nacional da União da Juventude Socialista.
Em 2018, escrevi um texto em que afirmava que a Universidade
brasileira era uma espécie ameaçada de extinção. Isso porque nas áreas
biológicas para chamar atenção do estado atual de conservação de uma espécie de
animal, planta ou outro organismo vivo, lançamos mão da Lista Vermelha,
normalmente divulgada pela União Internacional para a Conservação da Natureza e
dos Recursos Naturais. Se seguíssemos esse modelo e fosse possível publicar uma
lista vermelha das instituições brasileiras que estão ameaçadas na atual
conjuntura econômica e política, as universidades públicas estariam no topo da
lista.
E, três anos se passaram, mas nada foi feito pelo Governo
Federal para salvar essa instituição. Pelo contrário, sucessivamente, temos
vistos cortes e contingenciamentos na educação, em nome do “ajuste fiscal”, ao
mesmo tempo que vemos uma verdadeira balbúrdia no orçamento público para nutrir
a base do governo no Congresso e outras regalias do Executivo, como leites
condensados, picanhas, cervejas…Isso tudo ao mesmo tempo que mais da metade da
população está em insegurança alimentar ou passando fome.
Mas voltemos às universidades. Aquelas instituições que, mesmo
com apenas um século de vida no Brasil, vem desempenhando papel fundamental
para o desenvolvimento do país, contribuindo não apenas para formação de
recursos humanos com qualidade, mas também para produção científica, um fator
estruturante para o desenvolvimento do país. E em tempos de pandemia, vem
exercendo um papel fundamental com seus hospitais universitários, com a
produção e aplicação de testes rápidos, e com sua pesquisa científica, da mais
alta qualidade, tanto no enfrentamento da pandemia quanto para resolução de outros
gargalos da sociedade brasileira. Cabe destacar que, segundo a CAPES, cerca de
90% da ciência brasileira é realizada no âmbito da pós-graduação, e este setor
majoritariamente está concentrado dentro das universidades.
E, apesar de toda sua contribuição, o que vemos hoje é uma
Instituição à beira de fechar as portas. O orçamento das universidades federais
é cerca de 30% menor do que foi em 2010, com o agravante de termos quase
dobrado a malha universitária de lá pra cá, isso incluindo tanto em número de alunos
quanto em serviços sociais que as universidades oferecem. Ou seja, fica nítido
fazer a conta que temos uma estrutura bem maior e com escassos recursos. Essa
conta não fecha.
Entretanto, esse cenário não é coincidência tampouco é para
realizar um ajuste fiscal no Estado. Primeiro, porque, o que se vê são
escândalos e mais escândalos do ‘Bolsolão”, com os seus orçamentos secretos
para alimentar a base congressista. Em segundo, esses cortes e sufocamento
financeiro fazem parte de um projeto político antidemocrático e antinacional
que visa além de outras coisas, como retirada de direitos sociais, trabalhistas
e previdenciários, a expulsão do povo de dentro das universidades e
exterminação de qualquer tentativa de execução da função social da Universidade
que é a de servir a um projeto nacional de desenvolvimento econômico e social.
Um verdadeiro projeto de subserviência e dependência econômica do Brasil para
com outras nações desenvolvidas. E, em terceiro, a Universidade no Brasil
historicamente tem sido lugar de resistência democrática, criando espaços
universitários de debates e críticas sobre os rumos do país. Tal fato se torna
tão verdadeiro quando observamos que a instituição foi uma das primeiras a ser
alvo da Ditadura Civil-Militar que acometeu o país na década de 60. E, assim
como foi no passado, após o golpe, a Universidade brasileira voltou a se tornar
um dos principais alvos daqueles que detêm a hegemonia do poder. E são ameaças
vindas de vários meios e que precisam ser denunciadas!
Ameaças que vão além do estrangulamento do orçamento, são
cerceamento da liberdade de cátedra, perseguição à professores, estudantes e
cientistas, tentativas de privatização e projetos de lei que estão em
tramitação no Congresso Nacional. Por isso, é preciso estarmos atentos e
defendermos esta Instituição tão importante para construção de um Brasil
independente, soberano e com qualidade de vida para o seu povo. Precisamos nos
mobilizar e estarmos unidos na defesa da Universidade brasileira. Essa espécie,
tão necessária para o ecossistema brasileira, está pedindo SOCORRO, e talvez
seja seu último suspiro de resiliência. Como na Ecologia falamos, o sistema
universitário está para além de sua capacidade de suporte. Já não consegue mais
exercer suas funções sem um alívio financeiro, e um projeto robusto de urgente
recomposição orçamentária. Não podemos medir esforços de retirá-las da lista de
extinção. Se não for pelas mãos dos brasileiros, a universidade brasileira
fechará as portas. E, com isso, não apenas o futuro do país que estará em
jogo, mas a própria vida da população que depende diretamente dos serviços
prestados pela universidade brasileira.
Fonte: UJS
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