Temos convivido cada dia mais com a realidade crescente das nossas escolas esvaziadas. A evasão escolar é uma realidade crescente no Brasil, muito antes da pandemia de Covid-19, em 2022, a UNICEF realizou uma pesquisa juntamente com o IPEC, e cerca 2 milhões de jovens entre 11 a 19 anos que estudavam em escola pública, estão fora da sala de aula, muitos apresentam a trabalho infantil como fator contribuinte para essa evasão e a dificuldade de aprendizagem. Já é comum ver nossas escolas vazias, e nossas crianças na rua.
Entendemos que muito dessa evasão se dá com a realidade de que os jovens estudantes precisam trabalhar, e optam por sair da sala de aula; sabemos que o modelo que temos de escola hoje, não é o que nossa juventude precisa, pois cada dia mais a escola deixa de ser um espaço atrativo e acolhedor.
As nossas escolas estão sendo espaços massivos para criação de massa de manobra, muito longe do debate de humanização que defendemos. Essa falta de humanização contribui para evasão e as ondas de violência em nossas escolas que cada vez mais se perpetuam, um levantamento da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) aponta que estudo apresentado em 2019 mostra que as escolas brasileiras são mais propícias ao bullying e a intimidação do que em cenário internacional.
28% dos diretores brasileiros apresentaram que já presenciaram situações de intimidação entre os estudantes, 10% das escolas brasileiras que participaram da pesquisa apontam episódios de intimidação e violência verbal contra educadores, o que nos leva a refletir sobre o que é a escola pública hoje para a juventude e como ela se reflete na sociedade.
A escola que falta merenda, que não debate esportes, cultura, falta professor e não dá autonomia aos estudantes, não é a escola a qual defendemos, e sim um projeto de sucateamento. Sucateamento esse que fecha as nossas escolas para a sociedade. E que é muito longe da “escola dos nossos sonhos” que tanto defendemos.
Acreditamos que a falta de infraestrutura em nossas escolas contribuem para a evasão e para o fechamento das mesmas. Com base no censo escolar de 2021, a Associação dos Membros dos Tribunais de Contas do Brasil (Atricon) apresentou que pelo menos 14,7 milhões de estudantes brasileiros são afetados pela falta de estrutura básica em nossas escolas.
Queremos a escola pública com estruturas para formar e capacitar os estudantes, que repense um novo modelo de acolhimento, que tenha merenda de qualidade, o incentivo e investimento a criação de projetos de ciência e tecnologia, de cultura e arte. Que tenha assistência estudantil para os estudantes de baixa renda, o acesso por meio do passe livre à escola, que seja construída e pensada estudando o novo perfil de juventude, especificadamente, a juventude trabalhadora, que não tem a escola a seu favor e vai às ruas.
Para que tenhamos a construção dessa escola, precisamos entender que o fator econômico contribui bastante para que as nossas escolas públicas não avancem, a escola do futuro custa caro, porque nunca foi prioridade que a periferia tivesse acesso à ciência e a tecnologia, a cultura e a arte. Esse processo da construção da escola dos nossos sonhos é um espaço para democratizar a nossa educação de qualidade. E um espaço para defender os meios pelo qual essa educação acontece, como a defesa do FUNDEB, responsável por garantir que o básico em nossas escolas funcionem. A escola do futuro começa com o comprometimento de investir em nossas escolas.
Precisamos construir escolas que impactem não somente os estudantes, mas que deem um retorno a comunidade. Que os projetos de ciência e tecnologia, de cultura e arte volte para quem faz a comunidade e a escola acontecer.
A mobilização dos estudantes travando o debate dentro da sala de aula contribui de forma efetiva para que a construção da escola do futuro esteja em nossas mãos, e combata com essa evasão consequente de um sucateamento covarde que tira as nossas perspectivas enquanto estudantes e jovens, e visa fechar as nossas escolas, nos fazendo acreditar que é longe da sala de aula que iremos construir uma nação. Não tem como construir a nossa escola, sem ter a voz dos estudantes e as mãos construindo e defendendo o que queremos para nossa educação.
Defender a escola publica hoje é a construção da escola do futuro aberta para sociedade. Temos escolas em cada bairro do Brasil, o que é a escola pública sem a comunidade?
No ano de 2010 foi iniciado o Programa Escola Aberta, que abria a escola para comunidade promovendo atividades educativas, culturais, esportivas e de formação profissional. Que tinha como prioridade o jovem, a comunidade e a escola, e debatia sobre a importância dos três andarem juntos para construção de uma cultura de paz em prol da educação.
Deve estar nos nossos próximos passos de luta o debate da escola aberta adiante, a construção de uma educação emancipadora, acolhedora e humanizada começa quando a escola está aberta para a comunidade impactando não somente os estudantes que estudam, mas quem faz a escola e a comunidade acontecer. Assim, conseguiremos construir uma escola que a cultura, a arte, o esporte, a tecnologia, chegará em quem deve ser prioridade: o povo brasileiro.
A volta do Programa Escola Aberta traz consigo a democratização da nossa educação de qualidade que será primordial para reconstrução do nosso país.
Referências
https://atricon.org.br/problemas-de-infraestrutura-nas-escolas-afetam-pelomenos-147-milhoes-de-estudantes/
http://www.eventosufrpe.com.br/2013/cd/resumos/R1642-2.pdf
Fonte: UBES - UNIÃO BRASILEIRA DOS ESTUDANTES SECUNDARISTAS
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