sexta-feira, 2 de outubro de 2020

Brasil não é Europa. Falta de estrutura nas escolas é um empecilho a volta às aulas - Por União da Juventude Socialista

Por Rozana Barroso, presidenta da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas e diretora nacional da frente antirracista da UJS.

Segundo o artigo da “Folha Pensa” do dia 8 de setembro, Alemanha, Noruega, Uruguai e França retornaram às aulas sem que isso causasse uma onda de contaminação entre os estudantes. Mas comparar esses países com o Brasil é uma outra  história… Por aqui temos problemas de estrutura da maioria das escolas públicas. Afinal, não é novidade que a realidade de escolas municipais e estaduais é de sucateamento. Aqui a falta de materiais essenciais como sabonete ou papel higiênico são uma realidade.

A desigualdade social não surgiu com a pandemia, mas neste momento, junto com um governo irresponsável, sofremos com o agravamento dela. Isso quer dizer que a realidade difícil da maioria dos estudantes de escolas públicas está pior. O alto índice de desemprego e subemprego leva pra dentro de mais casas brasileiras a fome e o desespero para lidar com as contas, que infelizmente, não esperam nossa situação financeira melhorar. 

A exclusão digital, assunto que tenho falado muito, é uma violação de direitos escancarada e violenta, que impede há seis meses, que milhares de meninas e meninos acessem o que é nosso por direito: a educação. Segundo o Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação, o Brasil tem 4,8 milhões crianças e adolescentes sem internet em casa. Impedidos de plena cidadania, muitos são os que perdem a esperança nos estudos, já que a internet para eles, é negada. Problema estrutural, que há anos se manifesta nas escolas como salas de informática que não funcionam e computadores quebrados. Aqui no Brasil, a realidade é quadro negro e giz.

São muitas as complexidades neste momento. Por isso afirmo com toda certeza, que para o movimento estudantil, esse é um dos maiores desafios: a necessidade de retornar, em meio uma onda de banalização da vida. Os pais que já se encontram fora de casa para o trabalho, se preocupam com seus filhos que precisam ser cuidados por terceiros. aumentando o caso de abusos infantil. Na periferia, a realidade é a rua. As crianças faveladas estão ainda mais vulneráveis a violência policial e ao tráfico. E lamentavelmente, estudantes rurais, indígenas e negros que historicamente são os que mais sofrem, nesse momento obviamente continuam nessa estatística. 

Acredito que nesse cenário de agravamento, o papel da importância da escola se reforça, principalmente para os estudantes que tinham como única alimentação a merenda escolar. Estar longe da educação é uma violência. Num país onde famílias moram em um cômodo, e o acesso ao saneamento básico não é pra todos, claramente a realidade é distante do comercial do MEC em tempos de luta pelo adiamento do ENEM. E é por isso que necessitamos com urgência de políticas que democratizam o acesso a internet e de combate à desnutrição infantil agravada pelo distanciamento da escola. Precisamos de uma grande campanha em defesa da vida que disponibilize para a comunidade escolar os materiais de segurança necessários, que garanta que todos os protocolos da Organização Mundial da Saúde sejam seguidos, e que assim nenhuma vida seja colocada em risco. Para falar de retorno, precisamos falar da solução dos problemas graves que enfrenta a educação básica, e para isso, estamos a disposição! Não somos a Alemanha e a Noruega, mas precisamos ser o Brasil que estruture o ambiente escolar para que haja o retorno presencial.

Fonte: UJS Nacional

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