domingo, 11 de dezembro de 2016

Delator detalha como a Odebrecht atuava junto ao PMDB na Câmara

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A edição do Jornal Nacional deste sábado (10) destaca que Melo Filho detalhou também como funciona o esquema da Odebrecht junto ao PMBD na Câmara dos Deputados. No acordo de delação premiada, o ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht, Cláudio Melo Filho, afirma que o núcleo político organizado do PMDB na Câmara era historicamente liderado pelo presidente Michel Temer, quando ainda era deputado federal.
Cláudio Melo Filho disse que o núcleo atuava da seguinte forma: Michel Temer era o mais influente no grupo, mas não agia diretamente. Eliseu Padilha, conhecido pelo codinome “Primo”, era quem centralizava as negociações e as arrecadações financeiras. Nesse trabalho, contava também com Geddel Vieira Lima, codinome “Babel”.
Os dois, com a colaboração de Moreira Franco, que tinha o codinome “Angorá”, outro que hoje tem cargo de destaque no Palácio do Planalto.
Ajudavam na aprovação de demandas da Odebrecht, seja no então governo Dilma ou na Câmara. Segundo Cláudio, eles tinham influência para defender os interesses da empresa no setor de aviação civil, aeroportos e na votação de Medidas Provisórias e projetos. Em troca, eram feitas doações legais ou de caixa dois de campanha.
Cláudio disse que “pelo que pude perceber ao longo dos anos, a pessoa mais destacada desse grupo para falar com agentes privados e centralizar as arrecadações financeiras é Eliseu Padilha. Ele atua como verdadeiro preposto de Michel Temer e deixa claro que muitas vezes fala em seu nome. Eliseu Padilha concentra as arrecadações financeiras desse núcleo político do PMDB para posteriores repasses internos”.
Claudio Melo Filho disse que “Geddel Vieira Lima, ex-secretário de governo de Temer, também possui influência dentro do grupo, interagindo com agentes privados para atender seus pleitos em troca de pagamentos. “ Geddel é citado 67 vezes no depoimento. O ex-diretor falou que “na ocasião do aniversário de 50 anos de Geddel, em março de 2009, demos, em nome da Odebrecht, um presente relevante a ele. Compramos um relógio Patek-Philippe, modelo Calatrava, que foi enviado juntamente com um cartão assinado por Emílio Odebrecht, Marcelo Odebrecht e eu”.  Cláudio anexou a foto do relógio ao acordo de delação.
Ele falou também das reclamações de Geddel: “Apesar dos pagamentos frequentes, sempre me disse que poderíamos ser mais generosos com ele. Geddel sempre me dizia que se considerava um ‘amigo da empresa’ e que isso precisava ser mais bem refletido financeiramente.” O ex-diretor disse que no ano de 2006, a” pedido de Geddel, foram realizados pagamentos por meio de contribuições oficiais e também pagamentos não declarados via caixa dois. Os pagamentos realizados atingiram R$ 1 milhão, aproximadamente.
Durante a disputa de Geddel ao cargo de governador da Bahia na campanha de 2010,  a pedido de Geddel, solicitei e ocorreu um pagamento entre um R$ 1 milhão e R$ 1,5 milhão em 2010.” O ex-diretor também falou sobre a proximidade com Moreira Franco, conhecido pelo codinome Angorá: “Eu conheço Wellington Moreira Franco há muitos anos, pois possuo parentesco distante com ele”.
Cláudio lembra:  em algumas oportunidades se reuniu com Moreira Franco para tratar sobre temas afeitos à aviação civil. Na época, Moreira era secretário da área. Cláudio relata uma lista de discussões sobre o modelo de concessão de aeroportos. Numa delas, sobre o novo aeroporto de São Paulo, cuja implementação, se ocorresse, poderia prejudicar a concessão do Galeão, o relator disse que “houve pressões por todos os lados e que teve a percepção que Moreira Franco jogou com isso e deixou que o fato fosse resolvido pelo andar do tempo, de forma que ele saísse bem com todos os envolvidos. Disse que teve a percepção clara que havia outros interesses de terceiros envolvidos”.
Cláudio conta que acredita que há uma ação orquestrada entre ele e Eliseu Padilha para captação de recursos para o seu grupo do PMDB, pois Moreira Franco solicitou um apoio de contribuição financeira, mas transferiu a responsabilidade pelo recebimento do apoio financeiro para Eliseu Padilha. Padilha é citado 45 vezes no depoimento. Moreira, 33 vezes. O ex-diretor da Odebrecht afirmou que: “de forma mais recente, Eduardo Cunha – codinome ‘Caranguejo’ – ganhou bastante espaço dentro desse núcleo do PMDB, muito em razão do poder que tinha de influenciar seus pares, o que era uma poderosa moeda de troca na hora de negociar a sua atuação como parlamentar”.
Cláudio apresentou uma planilha com 17 pagamentos para o ex-presidente da Câmara, totalizando R$ 10,5 milhões. E disse que nas vezes em que se reuniu com Cunha sobre assuntos legislativos de interesse da empresa sabia que os pagamentos feitos o creditavam uma situação confortável e que seriam um elemento de atendimento às questões da Odebrecht. Cláudio explica que utilizou, portanto, essa força.
Uma das Medidas Provisórias que atendeu aos interesses da Odebrecht é a 613 de 2013. O texto do governo Dilma concedia desonerações tributárias aos produtores de etanol e à indústria química e petroquímica, área também de atuação da Odebrecht. Parlamentares do PMDB ajudaram a aprovar a MP. Em emails a Marcelo Odebrecht, Cláudio relata como estava a tramitação na Câmara e a ajuda que vinha recebendo de parlamentares, entre eles Eduardo Cunha.
Ele escreve: “Vencemos na comissão. Pancadaria geral!!! Perdi uma emenda que atendia a Agro, uma empresa da Odebrecht. Segue agora à tarde para o plenário, devendo ser votada amanhã. Seguindo para o Senado. Ontem, o Carang (Caranguejo, o codinome de Cunha) chegou em minha casa à 00:45…pode imaginar isso!!!?? Dona Cláudia quase me mata!!!  Vamos em frente!!! O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, negou as acusações.
O secretário de Programas de Parcerias de Investimento, Moreira Franco, também disse que a acusação é mentirosa. E afirmou  que jamais falou sobre política ou recursos para o PMDB com Cláudio Melo Filho. O ex-ministro Geddel Vieira Lima, do PMDB, disse que acha estranho o nome dele estar na delação já que todas as doações da Odebrecht à campanha dele foram declaradas à Justiça Eleitoral. A defesa do deputado cassado, Eduardo Cunha, também do PMDB, disse que só vai se manifestar depois que tiver acesso à delação e que ela deveria ter seu sigilo resguardado.
Fonte: Robson Pires

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