segunda-feira, 27 de junho de 2016

Cultura do Estupro: Uma luta conjunta e diária! – Por Nellyse Dantas*


No último mês o Brasil acordou com o choque de uma notícia triste, uma adolescente foi estuprada na periferia do Rio de Janeiro, o crime ainda está sendo investigado, e várias versões surgiram sobre tal, mas o que mais nos chamou atenção foi o assunto, que por muito tempo é varrido para baixo do tapete e veio à tona de supetão; a “cultura do estupro”.
No Brasil a cada 11 minutos, uma mulher é estuprada, esse número também inclui o estupro de vulneráveis, e destes apenas 37% dos casos são registrados. A pergunta que paira é: por quê que essas mulheres e/ou meninas não denunciam? A resposta é bem simples, MEDO e VERGONHA de serem julgadas por aqueles que deviriam apoia-las, medo de sofrerem represálias, pois, na maioria dos casos o estuprador faz parte ou/é amigo da família.
Infelizmente a maioria das mulheres não tem conhecimento sobre o que é essa tal “cultura do estupro”, pois crescemos com a ideia que este crime só acontece na rua, e as vítimas são sempre garotas que não se “comportam bem”, não se vestem de “forma adequada”, saem de casa em “horários impróprios para moças”, mas, sabemos que essa realidade é bem diferente, o primeiro contato com algum tipo de violência sexual acontece dentro de casa, aquele lugar seguro, onde nada de ruim poderia lhe acontecer.
O que quero mostrar é que ser VÍTIMA de um estupro vai muito além da maneira que você se comporta, e o que temos que entender é que independente disto, NENHUMA mulher merece ou deveria ser estuprada. E o que se entende por estupro como de acordo com o Código Penal Brasileiro em seu artigo 213 (na redação dada pela Lei n° 12.015, de 2009), é “constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso”. Mas que fique bem claro, o estupro não pode ser um crime relacionado apenas a sexo ou ao desejo sexual, refere-se à intimidação da mulher, intimidação esta que faz com que vivamos em um estado de medo permanente.
Me doí como mulher abrir a boca para chamar um crime hediondo de “cultura”, mas isso é possível porque a violência contra a mulher se tornou algo normal dentro da sociedade. É comum passarmos na rua e recebermos cantadas absurdas e imorais, sabe aquele “Ei, psiu”? Aquele comum “Gostosa”? Aquela “mão boba”? Aquela “encoxada” no ônibus, no metrô, na fila do mercado? É assim, de uma forma encoberta que se inicia o estupro.
Mais o que o Movimento Feminista tem feito sobre essa questão? Hoje o Movimento Feminista problematiza a causa e eu como feminista, defensora dos direitos das mulheres, vejo que ao invés de nos unirmos em uma só causa, estamos abrindo leques para que o movimento se torne fraco e por muitas vezes ridicularizado. É muito fácil problematizarmos o assunto e buscarmos novas adeptas para o movimento (busco isto todos os dias), mas neste momento não deveríamos estar discutindo um problema, e sim deveríamos buscar soluções para tal.
Vejo e converso com muitas amigas, parceiras de causa e de luta e percebo o repúdio total contra os homens, ERRADO. Há um tempo li um post em uma rede social o qual dizia “Homens não podem dizer nada sobre o estupro, pois todos eles são estupradores”, esse post era (espero que depois de toda um discussão ela tenha apagado o post) de uma amiga, militante feminista, juro que busquei a opção “desver”. Enquanto tivermos essa mentalidade em que todo homem é estuprador, teremos que aceitar que toda mulher merece ser estuprada.
Devemos repudiar o estupro não como mulher ou homem, e sim como humanos, devemos mostrar a sociedade de forma conjunta que o estupro é um crime e tem que ser denunciado e combatido. Que eu posso ir e vir a hora em que eu achar melhor, que eu posso usar meu short, minha saia, meu cropped, e que não devo ser estuprada por isso; que eu sou mulher livre, que tenho meus direitos e que vou usá-los. Mas dizer que todo homem é um estuprador em potencial, isso não, desta forma estamos amenizando aqueles que são realmente culpados, seria dizer que ele segue a “cultura” e que foi educado a agir assim, ser homem é diferente de ser desumano.
Não pensem mal, eu não estou aqui para defender os homens, existem homens cruéis, desumanos, que são capazes sim de estuprar. Assim como existem aqueles que não seriam capazes de estuprar, mas que são machistas, e muitas vezes sem perceber, e usam  constantemente as celebres frases “se estivesse em casa isso não teria acontecido”, “se fosse minha namorada não usaria essas roupas”, “se não bebesse tanto não seria estuprada”. Sim, repudio este tipo de homem, que não é o estuprador, mas que compactou com o ato. Caro amigo que leu este texto até aqui, que se sentiu defendido no parágrafo anterior, se uma destas frases ou outras parecidas com essas saíram da sua boca, repense a forma que você vê a mulher, por favor.
Problematizar o estupro e colocá-lo como um problema cultural, fazer com que a vítima seja ridicularizada e que entenda que a violência sexual (ou não) cometida contra ela não teve outra culpado a não ser ela mesma é muito fácil. Difícil mesmo é encontrar soluções, discutir políticas públicas para solucionar este câncer social. Não devemos lutar apenas contra a cultura do estupro, devemos lutar contra os estupradores, identificá-los, julgá-los e puni-los; em uma luta conjunta e diária entre homens e mulheres que estão cansados de ver o estupro transformado em apenas mais uma manchete comum de jornal.

coluna*Nellyse Dantas, paraense, 20 anos. Atualmente está cursando Zootecnia na Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA), militante da UJS na cidade de Mossoró – RN. Secretaria de Organização da UJS no município, Feminista e Comunista.

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