sábado, 21 de junho de 2014

A presença de negros no Judiciário é ínfima aponta censo do CNJ

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O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) realizou o Censo do Poder Judiciário em agosto do ano passado e descobriu que 84,5% dos trabalhadores da Justiça são homens brancos (84,5%), enquanto 14% se identificaram como pardos e somente 1,4% como negros e 0,1% como índios. Isso comprova que a população não branca ficou marginalizada do processo do mercado trabalho e da educação no país no período de transição para o regime de trabalho assalariado em fins do século 19 e início do 20.
Por isso, “ao longo dos tempos o povo negro tem buscado sua ascensão pela educação, como maneira de conquistar sua oportunidade. Dessa forma a política de cotas é importante para fazer justiça como também é necessário contas par ao mercado de trabalho como forma de igualar as oportunidades no futuro e combater o racismo”, afirma Mônica Custódio, secretária de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da CTB.
O censo do CNJ teve participação de 60% (170,7 mil) dos servidores do Judiciário e de 64% dos juízes (10,7 mil). Apesar de poucos juízes afrodescendentes na Justiça, em dois anos, o percentual de negros que ingressaram na carreira cresceu de 15% para 19%. A pesquisa também mostra que 64% dos juízes são homens e 36% são mulheres. A presença de magistradas é maior na Justiça do Trabalho (47%). Do total de juízas que responderam ao censo, 65% afirmaram que a vida pessoal é afetada pela carreira em relação aos colegas homens. Pelo fato de ser mulher 30% das juízas informaram que vivenciaram reações negativas.
O Censo Nacional do Poder Judiciário teve início em agosto do ano passado e foi elaborado para definir o perfil dos magistrados e de servidores. De acordo com o CNJ, o censo terá importância para a formulação de políticas de recursos humanos e públicas do Judiciário.
Para romper com esses paradigmas discriminatórios forjados histórica, cultural e ideologicamente com objetivo de submeter os negros, pardos e índios e proclamar a supremacia branca, Mônica defende que “o Estado brasileiro precisa criar cada vez com mais presença políticas públicas que coíbam as manifestações racistas e além das campanhas institucionais preconize os direitos da maioria da população e fortaleça a identidade dos brasileiros”.
“Agindo assim”, garante ela, “o Estado não estará apenas pagando uma dívida com essa parcela dos brasileiros marginalizados em todo o processo social, econômico, político, cultural da nação”. Para ela, a educação faz papel fundamental nesse quesito, não apenas dando oportunidades para os negros crescerem como seres humanos, mas também ensinando a história da África e dos negros brasileiros para “criar uma identidade nacional mais condizente com o que somos”, acentua.
“Precisamos de políticas públicas que construam a igualdade. As políticas afirmativas têm surtido algum efeito onde se vê mais negros nas universidades, mas ainda não determina uma mudança mais sólida de mentalidade”, revela Mônica. Justamente porque mudar mentalidade enraizada em séculos de opressão demora muito mais tempo, "ainda mais quando os meios de comunicação favorecem o status quo e o preconceito”, define. Ela critica também a postura do ainda presidente do Superior Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa que disse não estar nem aí para essa pesquisa.
Marcos Aurélio Ruy – Portal CTB

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