domingo, 28 de outubro de 2012

PODER, ELEIÇÕES 2012: Escolhido por Lula, estreante Haddad supera anonimato e vira favorito



 Haddad, prefeito de São Paulo
BERNARDO MELLO FRANCO
MORRIS KACHANI
DE SÃO PAULO

O candidato era novo, o slogan prometia um tempo novo, mas a candidatura parecia um carro velho, daqueles que custam a pegar.

Fernando Haddad demorou tanto para subir nas pesquisas que até os petistas mais empolgados duvidaram, em algum momento, de suas chances de vencer a corrida à Prefeitura de São Paulo.

Lançado pré-candidato em agosto do ano passado, ele levou um ano para chegar aos dois dígitos nas intenções de voto. Os números desanimavam quem mais precisava transmitir confiança a militantes e eleitores nas ruas.

"Cheguei a duvidar da possibilidade de o PT abraçar minha candidatura", disse Haddad na semana passada.

"É difícil. Quando você passa tanto tempo com 3%, parece que não vai chegar nunca a 50%", emendou na madrugada de ontem, depois do debate final na TV Globo.

Turbinado pela presença maciça do ex-presidente Lula na propaganda eleitoral, Haddad chega às urnas como favorito para bater José Serra (PSDB), maior rival do petismo na última década.

Se confirmada, sua vitória será um triunfo pessoal do padrinho, que contrariou aliados ao dobrar a aposta que deu certo há dois anos com outra estreante em eleições, a presidente Dilma Rousseff.

"Até quem não gosta de Lula precisa reconhecer que ele tem intuições geniais. Foi o que aconteceu com a escolha do Haddad", exalta o ex-ministro Paulo Vannuchi, conselheiro político e diretor do instituto do ex-presidente.

"Havia uma vontade muito grande de mudança e renovação, e ele conseguiu representar isso para o eleitor."

Ministro da Educação entre julho de 2005 e janeiro de 2012, Haddad foi forçado a mudar o estilo, as roupas e o comportamento para desempenhar o papel de candidato.

Nos primeiros meses de campanha, ele se dizia incomodado com a tarefa de pedir votos e, em muitas ocasiões, não estendia a mão para cumprimentar os eleitores.

"Quando você é ministro em Brasília, corre o risco de se achar mais importante e popular do que efetivamente é", comenta o coordenador-geral da campanha, vereador Antonio Donato (PT).
Haddad também teve que se acostumar rapidamente com os conselhos de dezenas de políticos, marqueteiros e assessores que nunca havia visto nos tempos do MEC.

Donato diz que ele é "muito autoconfiante, um problema que a gente tem que vigiar sempre".

DIVERGÊNCIAS

O publicitário João Santana, responsável pelas últimas duas campanhas presidenciais do PT, foi escalado para orientar o ex-ministro.

Eles se falaram quase todos os dias e bateram cabeça em ao menos um momento crucial da campanha, quando petistas buscavam uma fórmula para investir contra Celso Russomanno (PRB).

Santana temia que um ataque ao rival, que liderou as pesquisas até o início deste mês, pudesse favorecer um segundo turno entre o azarão e Serra. Haddad defendeu uma ofensiva contra a proposta de criar uma tarifa proporcional para os ônibus.

A ideia foi sugerida por um colaborador e endossada por Russomanno, que não atendeu a apelos de aliados para voltar atrás. Vencido o obstáculo, o petista diria que só precisou dar "um peteleco" para desmontar o adversário.

Empolgado com a liderança nas últimas pesquisas, Haddad mudou de novo na reta final. Trocou o estilo "paz e amor" do primeiro turno por um tom mais agressivo em entrevistas e debates.

Anteontem, quando usou tom professoral com Serra, alguns aliados consideraram que ele exagerou e passou imagem de arrogância.

O candidato diz que apenas se defendeu dos ataques do tucano, que tentava associá-lo a petistas condenados no julgamento do mensalão.

"Não aguentava mais chegar em casa, ligar a TV e ver o Serra me atacando."

No dia seguinte, Haddad teria mais uma amostra do seu "tempo novo" de favorito ao fazer campanha no centro, reduto eleitoral do PSDB.

Numa passagem rápida pelo largo do Arouche, foi assediado por eleitores, passageiros de ônibus e motoristas que chegaram a parar o trânsito para cumprimentá-lo.

O petista, que há poucos meses temia não superar o anonimato, agora é tratado nas ruas como celebridade.



Editoria de Arte/Folhapres
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Fonte: Folha de São Paulo

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