segunda-feira, 22 de outubro de 2012

IGUALDADE E LIBERDADE NÃO PODEM SER PALAVRAS OPOSTAS


pequeno normal grande
Rosana Pinheiro Machado - Foto:Chico Marshall/StudioClio
A política tradicional e, consequentemente, a educação nos ensinaram que, ou teríamos liberdade ou igualdade. Ponto final. Isso é uma das maiores catástrofes do legado do pensamento ocidental, que, por seu turno, desde os seus primórdios, só consegue existir por meio de dualismos.
Boa parte do mundo optou pela liberdade – tendo este como um direito fundamental inquestionável e inviolável. A igualdade, então, passou a ser um conceito quase obsoleto, associado à meia dúzia de loucos autoritários. Para uma minoria, entretanto, a igualdade se colocava como o meio mais justo de alcance da dignidade, ainda que, insanamente, muitos tenham aceitado a ideia de que, para tanto, alguma liberdade seria perdida.
Reproduzindo isso como verdade, muitas pessoas intelectualmente capazes de fazer a diferença no mundo, apoiam-se nessa rivalidade por meio de um sistema político partidário que hoje se mostra esgotado e, assim, dirigem seus esforços a uma luta que nunca terá fim. Como antropóloga acredito que o sentido da luta é menos o de melhorar o mundo e mais de reafirmar a sua própria identidade individual e social, projetando-se como oposto de um inimigo comum. Reproduzindo-se a lógica de um sistema totêmico, como numa briga de futebol, odiar o seu rival é tão importante quanto lutar pelos seus. O fato é que é impossível produzir qualquer coisa positiva para a humanidade enquanto esse sistema de pensamento retrógrado permanecer.
Dentre os pontos em comum de diálogo, destacam-se ideias simples como a de que o Estado deve garantir a base educacional dos indivíduos para que estes possam desenvolver seus projetos, sejam eles bem-sucedidos ou não. Também há um numeroso grupo hoje – com integrantes de esquerda e de direita – que apoia novos modelos de negócios de geração de renda de forma criativa e colaborativa. Esse mesmo grupo entende, unanimemente, que o sistema tributário brasileiro aniquila com toda e qualquer criatividade. Quando se fala em educação, a convergência é ainda maior. Discute-se como o nosso sistema pedagógico limita a expressão do estudante, mantendo-o sentado em uma sala de aula durante horas para receber informações padronizadas unilateralmente. E assim por diante.
A humanidade caminha para um ideal de comunicação livre e compartilhamento concomitantemente
É verdade que a convergência entre direita e esquerda ainda é um passo que a dialética da humanidade não alcançou e que as acusações mútuas ainda geram uma boa audiência. Mas talvez poucos tenham percebido o surgimento de um silencioso e surpreendente encontro de lógicas que, em passado remoto, já dividiram o mundo em guerras sangrentas. De forma pulverizada e não personificada em líderes fanáticos, a humanidade caminha para um ideal de comunicação livre e compartilhamento concomitantemente.
Os mesmos indivíduos que questionam a censura e lutam pela liberdade de expressão têm como ideal a ética do compartilhamento. Compartilhar, na verdade, nada mais é do que uma nova maneira de dizer dividir – uma palavra minada pelos movimentos de esquerda. Hoje é inquestionável a nobreza de projetos que promovem a partilha de um carro para fins ecológicos, ou de um escritório entre vários empreendimentos. Igualmente, disseminam-se conhecimentos na rede – pensamentos, aulas, palestras, livros, músicas entre outros – e promovem-se financiamentos coletivos de projetos individuais, quase sempre criativos. As possibilidades de compartilhamento são infinitas e estão apenas começando.
Surge hoje um movimento que rompe com o estúpido paradigma que coloca liberdade e igualdade – ambos direitos fundamentais dos indivíduos, dos quais jamais devemos prescindir – em categorias opostas. A política partidária tradicional e as mentes do século XX nunca conseguirão perceber esse movimento difuso!
É evidente que reconheço o quanto de utopia existe nesse movimento, mas ele traz um ideal coletivo de reciprocidade animador. A rede não é a solução de todos os problemas do mundo. Ela tem o problema da efemeridade, que, por vezes, pode se confundir com modismo. Como é notório, o universo on-line reproduz as mesmas desigualdades do mundo off-line. Todavia, a rede é, ainda, o meio mais eficaz de promover conexão e comunicação e, assim, amenizar as distâncias culturais e sociais que cegam a humanidade. É fundamental, enfim, que os movimentos por liberdade e compartilhamento não existam somente no mundo virtual, mas que se estendam ao nosso cotidiano como uma prática incorporada, constante e verdadeira.
Fonte: revista VOTO - Instituto Millenium

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